Por: Bruno Fonseca e Amamda Correia
Era um dia frio e chuvoso no centro de São Paulo. No palco no Vale do Anhangabaú, cercado de aliados como a ex-presidente Dilma Rousseff, Lula disparou ao microfone: “A gente não tem medo de discutir política, se o pastor tiver falando coisa séria, a gente respeita, mas se ele tiver mentindo, a gente tem que enfrentá-lo e dizer que ele tá mentindo em nome de Deus, não se pode contar mentira, nem aqui e nem lugar nenhum do mundo”, disse.
A fala é uma das muitas feitas pelo petista que revelam algumas das principais preocupações da sua campanha: rebater acusações e mentiras de que sua vitória levaria a sanções contra grupos religiosos e também buscar votos entre a população que se identifica como religiosa, sobretudo a evangélicos que moram em periferias.
Em parceria com a Novelo Data, a Pública dividiu os discursos dos candidatos em agrupamentos de temas. No caso de Lula, Deus e temas religiosos apareceram como o quarto principal grupo.
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Nesse conjunto, a primeira palavra associada a Deus é mentira. Ou seja, a análise mostra que Lula fala de Deus para se defender de acusações contra si e também para criticar falas de rivais políticos. “Alguns mentirosos tentam se apropriar de Deus”, disse durante ato em Curitiba, em 17 de setembro. No levantamento aparecem também variações desse termo, como mentir, mentindo e mentiras.
Outro termo frequente no discurso de cunho religioso de Lula é “igreja”, que é utilizado pelo petista para rebater acusações de que ele fecharia templos. “Lula vai fechar as igrejas. O presidente nunca fechou”, afirma a propaganda eleitoral do candidato, em 15 de setembro.
Lula também menciona igrejas para defender o estado laico e criticar o uso partidário da religião. Ele cita outras religiões que não as cristãs e afirma que, caso eleito, irá respeitar a pluralidade religiosa. “A igreja não pode ter partido. Então eu quero que vocês saibam que todas as religiões desse país serão profundamente respeitadas”, discursou durante ato em Curitiba, em 17 de setembro.
Nesse mesmo sentido, o candidato costuma utilizar o termo liberdade para se referir à liberdade religiosa, citando também religiões e crenças que não as cristãs. “O Estado não deve ter igreja, o Estado tem que garantir o funcionamento e a liberdade de quantas igrejas, as pessoas quiserem criar”, afirmou em encontro com evangélicos no Rio de Janeiro, em 9 de setembro. “Eu já vi naquele país pessoas tentando derrubar terreiro da nossa famosa e querida religião de matriz africana e nós precisamos dizer a todo mundo: cada um tem liberdade de seguir a sua fé e a sua religião, não existe uma verdade absoluta”, falou em Curitiba, em 17 de setembro.
O grupo de religião na narrativa de Lula está próximo de outro grupo de expressões relacionadas às mulheres. Essa proximidade observada na análise de dados pode sinalizar uma associação dos temas na tentativa de conquistar o eleitorado feminino evangélico, que tem maior rejeição a Bolsonaro.
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