Nem limpas nem transparentesDesde a primeira vez que votei para presidente, já jornalista, aos 30 anos, nunca vi jogo sujo como nessa campanha eleitoral. A compra de votos liderada pelo governo Bolsonaro às custas da saúde e da educação, o uso do orçamento secreto como moeda eleitoral nas bases dos parlamentares do centrão foram o prato de entrada.
Entre o primeiro e o segundo turno, o assédio eleitoral, revelado em 2018 naquele vídeo de Luciano Hang pressionando os empregados a votar em Bolsonaro, viralizou; pelo menos 197 casos de assédio eleitoral foram reportados ao Ministério Público do Trabalho neste ano. Não por acaso, a região Sul, onde o atual presidente obteve seus melhores resultados, concentra 46% das ocorrências.
Número que deve ser bem maior: três estados não entregaram seus resultados além dos casos em que presumivelmente os patrões conseguiram calar seus funcionários. O assédio vai da promessa de vantagens - um empresário do Pará ofereceu 200 reais por voto contra Lula, um pecuarista no Tocantins, o pagamento de 15º salário - à retaliação: ameaça de demissão pura e simples aos empregados que votarem em Lula. É o famoso “plata o plomo” dos narcotraficantes.
A bandidagem eleitoral prossegue com o ardil utilizado por Bolsonaro para atrair 1 milhão de idosos para a votação, como revelou a jornalista Maria Cristina Fernandes, em sua coluna de 3a feira passada. Em fevereiro, o INSS publicou uma portaria que passou a considerar o comprovante eleitoral como prova de vida para aposentados e pensionistas.
Em setembro, a candidata Simone Tebet pediu ao TSE que retirasse do ar o vídeo em que o governo anunciava o “benefício” da seguinte maneira: “Agora é lei. Nessas eleições, você que é aposentado ou pensionista pode fazer a sua prova de vida direto nas urnas. O governo federal acabou com o deslocamento desnecessário para os beneficiários e tornou a sua vida mais fácil. Apenas o seu voto já é suficiente para garantir os benefícios do INSS, para você exercer seu direito à cidadania com menos burocracia. Pelo bem do Brasil, vote 22!”. O nome de Bolsonaro aparecia em seguida.
No começo de outubro, a ministra Cármen Lúcia deferiu o pedido de Tebet, afirmando que a mensagem “induz” o eleitor a achar que a prova de vida depende do voto em Bolsonaro. Tarde demais como indicam os números: houve uma significativa redução da abstenção em todas as faixas etárias a partir dos 70 anos, quando os eleitores não são mais obrigados a votar. Não sabemos quantos desses eleitores relacionaram a prova de vida ao voto no 22, como queria o governo.
Enquanto questionava as urnas, ameaçando não aceitar o resultado das eleições, para depois falar em “eleições limpas e transparentes”, Bolsonaro e seus aliados articulavam uma fraude eleitoral que passava bem longe da lisura do processo de votação eletrônico. Tanto é que depois de fazer um escarcéu, o Exército até hoje não entregou o relatório das urnas. Agora o governo se esforça para criminalizar as pesquisas eleitorais. A desonestidade, como sabem todos, está em outro lugar. |
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