quinta-feira, 6 de outubro de 2022

 

Governadores contra o clima

Imagino que todos estão com o coração na mão a dois dias de eleições tão decisivas para o país. Nem precisamos declarar o apoio ao ex-presidente Lula: quem acompanha o trabalho da Agência Pública, sabe o que o presidente-candidato Jair Bolsonaro representa para a defesa dos direitos humanos, para a democracia e a liberdade de imprensa, os pilares do nosso jornalismo. Só poderíamos estar do lado oposto, independentemente de questões partidárias. 

Este também é o norte do especial “Governadores Contra o Clima”, que investigou os governadores cúmplices da escalada anti ambiente e antiindígena do governo Bolsonaro na Amazônia que concorrem à reeleição: Mauro Mendes (União Brasil-MT), Coronel Marcos Rocha (União Brasil-RO), Gladson Cameli (PP-AC), Antonio Denarium (PP-RR) e Wilson Lima (União-AM). 

Em desvantagem no cenário nacional, Bolsonaro está à frente de Lula nas pesquisas em quatro dos cinco estados - a exceção é o Amazonas onde o atual governador disputa com um velho governador, Amazonino Mendes (Cidadania-AM). No Mato Grosso, Acre e Roraima os atuais governadores têm chances de vencer no 1o turno, segundo as pesquisas do Ipec de 22 de setembro (as mais recentes que incluem a situação nesses estados).

Embora as terras indígenas e as maiores unidades de conservação na Amazônia sejam de responsabilidade do governo federal, as ações dos governos estaduais, principalmente quando em consonância com o Executivo, impactam nos índices de desmatamento (em alta nos cinco estados), grilagem, invasão de terras indígenas, educação e saúde nas comunidades. Roraima e Rondônia chegaram a aprovar legislações liberando o garimpo com uso de mercúrio, derrubadas pelo STF (em Roraima, a lei estadual que proíbe a destruição dos equipamentos de garimpo pela fiscalização, ainda está em vigor).

Com uma imprensa local quase sempre nas mãos de políticos ou de empresários associados a eles, e fora da rotina de publicação dos grandes veículos de comunicação, vigiar o que acontecerá nesses estados, seja qual for o resultado das eleições, é vital para a situação da Amazônia e das populações que ali vivem. 

Um relatório da Global Witness publicado ontem mostra que o Brasil foi o país que mais matou mais ativistas e ambientalistas em dez anos - foram 342 assassinados de 2012 a 2021, um problema que se agravou nos últimos três anos, como mostram relatórios anteriores da CPT. 

Esperamos que, em nível nacional, as urnas nos tragam a possibilidade de reverter o retrocesso nas políticas públicas em todos os setores, que resultaram no aumento da fome, da depredação do meio-ambiente, do racismo, da homofobia, do feminicídio e no assassinato de indígenas e defensores de direitos humanos. 

Mas, mesmo que Bolsonaro seja definitivamente afastado do poder, continuaremos a cobrar para que o novo governo priorize a questão socioambiental na Amazônia, principalmente a indígena. Como diz o procurador federal Alisson Marugal, a responsabilidade pela crise humanitária que vivem os indígenas é das políticas públicas dos brancos. 

Continuaremos de olhos bem abertos nessas eleições para violência e tentativas golpistas que paralisam a construção de uma sociedade democrática, justa e solidária como determina nossa Constituição. E continuaremos vigilantes na defesa dos direitos humanos. É para isso que fazemos jornalismo, apostando em um mundo melhor.

Boa votação a todos neste domingo,



Marina Amaral
Diretora Executiva da Agência Pública

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