Em tempos de acirramento e disputas político-ideológicas como há
muito não se via, os grandes meios de comunicação buscam, como é de
praxe, construir narrativas no sentido de cada vez mais deslegitimar e
desqualificar os instrumentos de luta da classe trabalhadora brasileira.
O Jornal O GLOBO, do Rio de Janeiro, emplacou na última semana uma série de matérias
em que aborda a realidade dos sindicatos no país e explicita problemas
de representatividade, corrupção e prática de direções sindicais que se
eternizam no poder. Evidente que, sob encomenda, tal produção serve de
munição para os ataques da direita histórica, bem como já o fez Rodrigo
Constantino em sua coluna na Veja.
Helicóptero da PM sobrevoando Assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no estadio de Vila Euclides.
É verdade que há problemas. E sérios. A proliferação de sindicatos e
centrais ao bel prazer dos interesses de grupos políticos oportunistas
fez da prática sindical balcão de negócios. No entanto, não podemos
permitir que práticas equivocadas de setores do sindicalismo sejam
apontadas como regra e que generalizações desconstruam ainda mais no
imaginário coletivo o papel fundamental dos sindicatos na luta do povo
trabalhador. Os sindicatos são importantes e necessários. E precisam ser
fortalecidos.
Lembro aqui a concepção sindical de Gramsci, onde se defende que os
sindicatos devem atuar como educadores coletivos da classe para sua
emancipação e para a disputa da hegemonia na luta contra o capital e
suas ideologias. Para que isso aconteça, obviamente é necessário que as
direções sindicais se renovem, se atualizem e estejam antenadas com as
lutas e os problemas que afetam toda a sociedade e não apenas o
microcosmo de sua categoria profissional.
Histórico jornal anarco-sindical, de 1922
As lutas por salário e emprego são fundamentais, mas a ação sindical
precisa se ampliar, afinal, reduzir seu papel a reivindicações
corporativas acaba por limitar a ação apenas ao enfrentamento dos
efeitos e não das causas da exploração.
Para isso o investimento em formação é fundamental, pois aí
está o potencial de alimentar a ação política dos dirigentes, militantes
e trabalhadores sindicalizados.
Um bom exemplo é a experiência do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal),
filiado à CUT, que tem apostado em renovação, formação e fortalecimento
de sua representatividade, através dos Comitês Sindicais de Empresa
(CSE).
Segundo Editorial do Jornal Smetal,
a atual gestão renovou em mais de 60% a composição de sua direção
executiva e a direção geral se ampliou 115 para 136 dirigentes, sendo
que destes, quase 30% são de jovens, maioria em primeiro mandato.
Encontro de formação e debate da Juventude Metalúrgica do SMetal – Sorocaba e região
O rejuvenescimento da categoria metalúrgica na região promoveu
reflexos imediatos na configuração da direção sindical, que por sua vez
se permitiu renovar. Ainda é cedo para avaliar os resultados dessa
experiência, mas o fato é que as iniciativas promovidas por esse grupo
tem atraído setores até então distantes do sindicato, ou seja, na
prática é o sindicato investindo no diálogo e na construção política
junto à nova configuração da categoria, hoje muito mais antenada com
questões gerais, para além da política, também sociais e culturais.
Outro exemplo de ação sindical a partir da concepção de luta geral e
de seu papel educador e mobilizador dos trabalhadores é a iniciativa
conjunta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, que juntos mantém a Rede TVT – TV dos Trabalhadores e a Rede Brasil Atual.
A Rede TVT, a única emissora de televisão brasileira sob coordenação dos trabalhadores, ampliou seu alcance a partir do lançamento da TVT Digital. Antes restrito a 400 mil pessoas, ela já pode ser vista por 20 milhões de habitantes em toda grande São Paulo.
Já a Rede Brasil Atual reúne jornal impresso, revista semanal e Rádio, tanto na Web
quanto nos 98.9 FM. Ambas iniciativas decorrem da ideia de que é
preciso atuar na sociedade e dialogar não apenas com sua categoria, mas
com todos os demais trabalhadores, famílias, donas de casa,
desempregados, juventude, negros, mulheres, LGBT’s, sempre com o intuito
de fomentar valores democráticos e de defender direitos sociais,
políticos e humanos.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC também dá um exemplo importante ao apoiar iniciativas culturais periféricas, através do Sarau Engrenagem Poética. Nesse
espaço, trabalhadores da categoria se misturam aos artistas periféricos
e tem contato com a arte engajada e comprometida com transformações
reais na sociedade.
Arte
periférica, emoção e formação política no Sarau ‘Engranagem Poética’,
promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos, com a colaboração de diversos
coletivos culturais
O sindicalismo brasileiro enfrenta problemas e dificuldades, tal
como enfrentam todas as demais instituições representativas como
partidos, igrejas e organizações políticas diversas. O momento exige
atenção em relação à orientação político-ideológica, organização e
formas de intervenção. Isso tudo ao mesmo tempo em que é necessário
enfrentar o avanço conservador que busca desregulamentar, enfraquecer e
até eliminar direitos históricos dos trabalhadores. Será preciso, como
dizem, “trocar o pneu com o carro em movimento”. Ao que se percebe, ao menos por parte do sindicalismo sério e conseqüente, o desafio está aceito.
E que fique registrado ao jornal O Globo e correlatas: jogar no lixo
a história do sindicalismo brasileiro ou desqualificá-lo com
generalizações baratas, jamais!
Jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, anos 90
Assembleia das Trabalhadoras do Setor de Vestuário, região de Sorocaba – 2015
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