Análise / Marcos Coimbra
O lulismo, ontem e hoje
por Marcos Coimbra
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publicado
28/07/2015 04h06
O contingente que vota ou poderia votar em Lula continua majoritário entre os eleitores
Heinrich Aikawa/ Instituto Lula
A última pesquisa do Instituto Vox Populi, realizada em maio, perguntou aos entrevistados como se sentiam em relação à possibilidade de votar em Lula.
Não se especificou se em uma eleição presidencial e menos ainda se na
próxima, mas é razoável supor que muitos responderam com a cabeça em
2018.
Havia seis opções de resposta, da simples “certamente
votaria nele” à inversa “nunca votei e nunca votaria nele”. A primeira
foi escolhida por 29% dos entrevistados e a segunda por 16%.
Três das demais possibilidades de resposta envolviam a
ideia de “decepção”. Uma era “já apoiei Lula, mas ele me decepcionou e
nunca mais votaria nele” e outra “já apoiei, me decepcionei e é muito
difícil que vote nele outra vez”, diferente na ênfase da anterior.
Escolheram a mais intensa 14% dos entrevistados, enquanto 12% optaram
pela segunda.
A terceira, “já apoiei, me decepcionei,
mas é possível que volte a votar nele” foi escolhida por 16% dos
entrevistados. Restam 6% que, por qualquer motivo, “nunca haviam votado
em Lula, mas que consideravam possível” fazê-lo futuramente e 7% que não
souberam responder.
A soma daqueles que, em graus diferentes, podem ser
considerados “eleitores potenciais” de Lula chega a 51% e a dos não
eleitores a 42%. Alguns dos possíveis eleitores, claro, talvez não
confirmassem o voto, assim como alguns não eleitores talvez se
decidissem por ele. Fato: o eleitorado potencialmente lulista é
majoritário na sociedade.
Mais relevante: essas respostas são quase
idênticas àquelas obtidas há dez anos em pesquisa também realizada pelo
Vox Populi. Em abril de 2006, seis meses antes da eleição na qual Lula
foi reeleito, a mesma pergunta havia sido feita. Seus resultados mostram
quão estáveis são os sentimentos profundos do eleitorado.
O agregado daqueles que votariam
“com certeza” somados aos que, embora “decepcionados” (naquela altura
com o “mensalão”), achavam “possível votar outra vez”, chegava a 47% e
agora ficou em 45% (incluídos os “decepcionados” do momento). Quem
afirmou nunca ter votado, “mas achava possível votar” formava um
contingente de 7% e agora 6%.
Em 2006, baseado no “voto potencial” projetado pela
pesquisa, Lula obteria 54% do voto total e 59% do válido. Não custa
lembrar que, quando as urnas do segundo turno foram computadas, o
petista venceu a eleição com 61%.
Quem quiser se iludir com pesquisas de
intenção de voto para 2018 que exibem números para Lula entre 20% e 25%
que o faça. Na melhor das hipóteses, os resultados tornam conjunturais
fenômenos que nada de conjuntural possuem. Ao se pensar no momento
presente avalia-se um governo, mas não é a partir do raciocínio em
relação ao que acontece hoje que o eleitor escolhe um candidato a
presidente.
As pesquisas mostram, no fundo, a força de Lula, mesmo quando se considera o mau momento que a presidenta Dilma Rousseff
e o PT atravessam. E sugerem que qualquer melhora na percepção dos
resultados da ação do governo, provável no horizonte de 2018, tende a
aumentá-la.
A força de Lula vem de ao menos três fontes. A primeira é
sua base eleitoral muito grande, maior e mais sólida do que a de
qualquer político em nossa história. Ela foi construída ao longo de uma
sucessão de candidaturas nacionais, próprias ou não, que fizeram dele um
personagem cuja presença no centro da vida política brasileira dura
quase o dobro do que durou toda a República de 1946, a única experiência
de democracia que conhecemos até o fim do século XX.
As identidades políticas (como outras, associativas,
clubistas etc.), formam-se no tempo e na repetição, à medida que o
indivíduo se define e se confirma nela. Os lulistas tornaram-se, cada
vez que votavam de novo em Lula, mais lulistas, mais comprometidos com
suas escolhas passadas e mais predispostos a, mesmo na adversidade,
permanecer lulistas.
A segunda fonte é a satisfação da vasta maioria da opinião
pública com o desempenho de Lula no governo. Sua vantagem em relação ao
melhor nome que as oposições tiveram para contrapor-se a ele, o de
Fernando Henrique Cardoso, chega a ser acachapante em algumas áreas. No
quesito “O presidente que teve mais preocupação com os pobres” bate o
tucano por 77% a 6%.
A terceira é a mais óbvia: a
identificação do cidadão comum com sua figura. Diante de adversários com
rosto e biografia típicos das elites tradicionais, é fácil ter mais
confiança em alguém como ele.
A próxima eleição está distante e ninguém
sabe como será disputada. Mas de uma coisa podemos estar certos: se for
candidato, Lula é favorito.
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