sábado, 20 de abril de 2013


Réus do Carandiru mentiram em 'julgamento histórico', diz MP
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Janaina Garcia e Gabriela Fujita
Do UOL, em São Paulo
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Massacre do Carandiru49 fotos

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15.abr.2013 - Plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, momentos antes do início do primeiro dia de julgamento dos 26 policiais militares acusados de envolvimento no massacre do Carandiru, na manhã desta segunda-feira (15). Na semana passada, os trabalhos foram suspensos após uma das juradas passar mal. O maior massacre do sistema penitenciário brasileiro ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante uma invasão policial Leia mais Leandro Moraes/UOL
Laudos necroscópicos atestando execuções de vítimas sem chances de defesa e depoimentos de policiais militares que confirmam uso de rajadas de metralhadoras em ambiente fechado são elementos que provam que os réus do massacre no Carandiru "mentiram no júri e nos últimos 20 anos". A afirmação foi feita neste sábado (20) pelo promotor do caso, Fernando Pereira da Silva, durante as três horas de debate que antecede o veredito dos jurados. A partir das 14h, será a vez de a advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, falar aos sete jurados.
Silva apresentou laudos necroscópicos feitos nos cadáveres dos detentos mortos no segundo pavimento. Todas as 13 vítimas atingidas por armas de fogo morreram, 11 (84,6%) com tiros na região da cabeça. A acusação pediu que fossem retirada a imputação de duas mortes: uma das vítimas morreu a facadas, e a outra morreu no terceiro pavimento.
O promotor sustentou boa parte do debate no argumento de ação conjunta da tropa, uma vez que não houve individualização das condutas, tal como a primeira denúncia, em março de 1993. Entretanto, individualizou as vítimas --apresentou em um telão os laudos do IC (Instituto de Criminalística) à época com as indicações dos tiros nas regiões do corpo de cada uma.
Em média, cada detento recebeu pelo menos quatro disparos de arma de fogo, de diferentes munições ou armas empregadas. Um recebeu sete tiros, outro, oito. "Imaginem quando os familiares foram reconhecer esse corpo", disse Silva, referindo-se ao detento assassinado com sete disparos. "A única coisa que sobrou para a mãe dele foi a carteira de trabalho com a foto do filho", completou.

Negadas pelos réus, rajadas de metralhadora constam de processo

O uso de metralhadora pelos PMs em tiros de rajadas foi negado pelos quatro réus interrogados nessa sexta-feira (19). Depoimentos de testemunhas de acusação e defesa, porém, além de perícia nas celas, contradizem a versão.
Para a acusação, os interrogados mentiram também nesse aspecto --além das testemunhas, foram citados aos jurados trechos de depoimentos nesses 20 anos em que coronéis, tenente e sargento, por exemplo, também confirmam que os policiais desferiram as rajadas. Um dos réus alegou ter desferido "tiros intermitentes".
Um dos pontos chave do debate foi o momento em que, ao justificar a impossibilidade de individualização nas ações dos reús, o promotor afirmou que 160 projéteis retirados dos corpos das vítimas desapareceram de um prédio do próprio TJ. .

Versão de PMs feridos em confronto "é balela", diz promotor

A versão de que 23 policiais da tropa se feriram em suposto confronto com os presos foi classificada pelo promotor como "balela". Ele citou trechos de depoimentos de PMs à CPI que investigou o caso pela Alesp (Assembleia Legislativa), meses depois do massacre, em que policiais admitiam a possibilidade de colegas se ferirem por tiros deles próprios, dada a proximidade entre eles no corredor estreito do presídio.
Para a acusação, porém, são novamente laudos técnicos que derrubariam a hipótese de confronto armado: "Cinquenta por cento dos PMs tiveram escoriações, e vários de queda na escada, que estava escorregadia, e mesmo de um esbarrão com um preso. Os que ficaram feridos por armas brancas o foram nas pernas e braços; os feridos por armas de fogo o foram de natureza leve", enumerou.
"O laudo é cabal em demonstrar que esses réus mentiram aos senhores e mentiram ao longo desses 20 anos. A tropa praticou um massacre, os laudos mostram que houve verdadeiras execuções que comprovam a mentira", disse o promotor.

Veja vídeos sobre o caso do massacre do Carandiru - 11 vídeos

 

Provas plantadas

Na parte final de sua fala aos jurados, Silva elencou "13 argumentos contundentes" para reforçar a tese da promotoria de que não se sustenta a alegação dos réus de terem atirado para se defender quando entraram no segundo pavimento do pavilhão 9.
Um dos itens apresentados pelo promotor foi a participação de alguns dos 24 policiais militares em ocorrências envolvendo o que ele considera "plantar armas de fogo". Silva citou, por exemplo, o capitão do Corpo de Bombeiros Marcos Ricardo Poloniato, interrogado nesta sexta-feira (19), e de outros dois policiais que estiveram no segundo pavimento, em um episódio de maio de 1992 com troca de tiros em uma perseguição de veículos.
Silva também afirmou que um dos dois réus que não compareceram ao julgamento, Argemiro Cândido, é "foragido, procurado pela polícia por homicídio qualificado".

Personagens

  • Juca Varella - 15.dez.1999 / Folhapress Musa e madrinha do Carandiru, Rita Cadillac ainda encontra ex-detentos nas ruas de São Paulo
  • Bruno Pedersoli/UOL Massacre foi um marco, mas cadeias ainda não recuperam presos, diz Drauzio Varella
  • Liene 

Vicente/TJ-SP Juiz do caso Carandiru luta MMA e jiu-jitsu para "desacelerar"

Outro item destacado pelo promotor foi a apreensão de 13 armas de fogo que teriam sido usadas pelos presos do pavilhão 9. De acordo com Silva, policiais militares que relataram terem visto a apreensão de armas no segundo pavimento não estavam no local onde os objetos teriam sido recolhidos.
O promotor argumentou que, além disso, das 13 armas apresentadas pelos policiais militares, foram identificadas apenas sete –três no segundo pavimento e quatro no terceiro pavimento. "Somente policiais da Rota apreenderam armas de fogo. E as outras seis?", perguntou.
"O encontro dessas armas demonstra uma grande farsa que se criou para justificar o injustificável", afirmou o promotor, destacando que, das 13 armas, várias, danificadas já à época da suposta apreensão, seis não tiveram até hoje a origem confirmada. Duas tiveram a origem rastreada durante as investigações –comprada pelo Exército e pela PM.
Silva citou trecho de um relatório elaborado por uma comissão especial do Ministério da Justiça criada à época para apurar as circunstâncias das mortes dos detentos e no qual é mencionado que "maus policiais plantaram 13 armas de fogo" no local do massacre.

"Eles não são super-heróis"

No arremate, o promotor resumiu a proposta da acusação: "O que os policiais disseram, que estavam se defendendo de armas brancas e de armas de fogo que eles não viam, atirando na cabeça de 85% dos presos: essa versão é mentirosa", disse o promotor.
"Eles não são super-heróis, são homens que tiveram seus acertos, mas tiveram também seu grande erro. É preciso acreditar que podemos mudar, fazrer algo diferente para o futuro do Brasil. É preciso acreditar: estamos diante de um julgamento histórico que vai repercutir no mundo todo".
E encerrou: "Não é a polícia que está no banco dos réus, são aqueles homens. É um julgamento sobre o respeito e o desrespeito à lei".

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