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CRISTIANO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Isso também ocorreu na 170ª reunião, em outubro do ano passado, quando os juros caíram pela última vez.
Observando essas duas reuniões, o interessante é notar a formação de grupos dentro do Copom. Temos um Comitê de Política Monetária rachado.
Os membros Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, diretor de Política Econômica do Banco Central, Anthero de Moraes Meirelles, diretor de Fiscalização, e Sidnei Corrêa Marques, diretor de Organização do Sistema Financeiro, foram contra a queda dos juros em outubro e a favor da elevação nesta semana.
Eles formariam o grupo mais austero da diretoria
-ou seja, aqueles que já em outubro viam os juros em 7,25% como uma ameaça ao cumprimento da meta.
Já Aldo Luiz Mendes, diretor de Política Monetária, e Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de Assuntos Internacionais, estariam do lado contrário. Eles votaram a favor da queda dos juros em outubro e agora se opuseram a uma alta da Selic.
Esse seria o grupo mais leniente com a inflação -ou o grupo que não acredita que a elevação da taxa Selic possa ajudar a conter a alta de preços.
FLIP-FLOPS
Por fim, temos o terceiro grupo: os membros que mudaram sua visão, ou, como os americanos costumam dizer, os "flip-flops".
Compõem esse grupo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e os diretores de Administração, Altamir Lopes, e de Relacionamento Institucional, Luiz Edson Feltrim.
Em outubro, esses membros entendiam que a queda da Selic não afastaria a inflação da sua meta (4,5% ao ano), mas agora já acreditam que a taxa de 7,25% pode ser uma ameaça para o cumprimento da meta e votaram pela elevação dos juros.
A divulgação dos votos torna o processo muito transparente. Essa divisão nos votos reflete como o processo de decisão pode ser complexo e também como pode ser determinante a decisão do presidente Tombini.
A sua mudança de decisão entre as duas reuniões pode ser interpretada como uma desejável independência.
Seria um excelente sinal aos investidores, desde que tenha sido motivada por critérios técnicos, e não políticos. Talvez a próxima reunião nos diga mais sobre essa interpretação.
Apesar de a decisão de aumento de 0,25 ponto percentual ter sido sem viés, a tendência é que o ciclo de elevação continue até que as expectativas de inflação voltem para um patamar mais próximo da meta de 4,5%. Essa deveria ser a tendência de um Copom independente.
CRISTIANO COSTA, doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia, é professor da Fucape Business School.
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