Prefeitos de Pernambuco acusam Dilma de frear crescimento do Nordeste
Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
Do UOL, em Maceió
- Michel Filho/Agência O GloboEduardo Campos, cotado como candidato do PSB à Presidência em 2014, acena ao chegar a evento
A entidade é comandada por Patriota Filho (PSB), prefeito de Afogados da Ingazeira (377 km do Recife) e aliado de primeira hora do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Nessa segunda-feira (22), em uma nova nota pública, a entidade afirma que a crise dos municípios com a queda de repasses federais este mês os deixou à beira de "convulsão social", agravada pela seca que atinge mais de 1.100 municípios no Nordeste. Um protesto já foi marcado para o próximo mês, com promessa de greve das prefeituras da região.
A nota da Amupe foi a segunda em menos de 20 dias com críticas a Dilma. No dia 3, a entidade acusou o governo federal de favorecer as montadoras do Sudeste e promover a desigualdade regional ao estender a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados).
Cotado como candidato à presidência em 2014, Campos tem rodado o país dando palestras e pregando exatamente o que pedem os prefeitos pernambucanos: um novo pacto federativo, com melhor distribuição de recursos entre União, Estados e municípios. Também tem feito criticas à política econômica de Dilma.
Medidas insuficientes
Na nota divulgada nessa segunda-feira, a Amupe criticou as "importantes, mas insuficientes [medidas] para amenizar os graves impactos na economia dos municípios causados pela seca e pela queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios [FPM].""O acelerado ritmo de desenvolvimento que vivenciava o Nordeste foi fortemente afetado em sua linha ascendente. Só a junção de forças dos entes federativos na busca de soluções conjuntas tornará possível uma solução para a crise instalada", complementa a nota da Amupe.
Ainda segundo a entidade, a segunda parcela do mês de abril do FPM apresentou queda 48%, em relação ao valor estimado pela Receita Federal. Os prefeitos prometem uma grande mobilização nas capitais do Nordeste no próximo dia 13, "com a paralisação dos serviços das prefeituras."
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25.mar.2013 - Em seu primeiro evento público ao lado do governador Eduardo Campos (PSB) após o nome de Campos ganhar força como possível candidato à Presidência em 2014, a presidente Dilma Rousseff (PT) cobrou união da base aliada. "Nenhuma força política sozinha é capaz de dirigir um país dessa complexidade. Precisamos de parceiros, precisamos que esses parceiros sejam comprometidos com esse caminho", disse Dilma no evento em Serra Talhada (PE) Leia mais Roberto Stuckert Filho/Presidência/Arte/UOL
No último dia 3, as críticas ao governo Dilma foram ainda mais duras: "A Amupe vem a público externar seu mais veemente protesto contra a medida do governo federal, que mais uma vez prorroga a redução da alíquota do IPI, penalizando os municípios, o elo mais fraco da corrente federativa, em favor da grande indústria automobilística situada no Sul do país, aprofundando as desigualdades regionais."
Para a Amupe, as medidas anunciadas por Dilma de combate à seca também foram insuficientes. "O anúncio de máquinas e equipamentos, embora relevantes, não atendem as necessidades de abastecimento urgentes que se impõem, considerando-se a insuficiente capacidade de produção do mercado. Alguns deles somente serão entregues no final do ano de 2013."
Crítica terceirizada
Para o cientista político Michel Zaidan Filho, da Universidade Federal de Pernambuco, Eduardo usa com frequência aliados para criticar o governo. "Isso faz parte do arsenal dele. Eduardo 'come pelas beiradas'. O que ele puder fazer para sujar o governo federal, ele fará. Para isso, ele aciona prepostos e, aparentemente, fica de fora, como se não tivesse nada a ver", explicou.Segundo o cientista, a posição "em cima do muro" de Campos é estratégica nesse momento. "Ele tem uma posição incômoda, de quem quer se descolar, mas ao mesmo tempo tem a vantagem ser aliado. Esse descolamento não pode ser abrupto, deve ser muito cauteloso, pois não ficaria bem para ele. Ainda identificam ele como aliado do governo federal, e uma mudança abrupta soaria como oportunismo", afirmou.
Apesar das "doses homeopáticas" de separação, Zaidan analisa que foram dados sinais mais que suficientes para perceber que o PSB está migrando para a oposição e, por tabela, deverá lançar candidato contra Dilma Rousseff em 2014.
"Esse descolamento do governo federal vem desde a eleição do Recife [quando Campos lançou Geraldo Julio contra o senador petista Humberto Costa]. Foi uma sinalização bem clara dele de que vai armar um parque próprio. Ele aproveitou o ensejo, tirou o PT da prefeitura e articulou a base de alianças. Ele usou a eleição municipal para dar um sinal de que estava mudando de palanque aos poucos", disse Zaidan Filho.
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