segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Entrevista - Luiz Bolognesi

"Ainda vivemos o holocausto dos povos americanos"

Roteirista de "Terra Vermelha" compara a morte do índio protagonista do filme à de Chico Mendes e diz que o silêncio da mídia legitima a barbárie
por Clara Parada — publicado 22/12/2013 08:47, última modificação 22/12/2013 09:43
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Ambrósio Vilhava
O líder guarani kaiowá Ambrósio Vilhava, protagonista do premiado filme "Terra Vermelha" que foi assassinado a facadas em uma aldeia do Mato Grosso do Sul
Em pleno 2013, uma outra liderança ambiental engrossou a lista macabra de vítimas da insensatez: Ambrósio Vilhalva, liderança guarani kaiowá do acampamento Guyroká, em Mato Grosso do Sul. Em comum com os outros ícones da luta pela floresta, apenas a tragédia: a repercussão sobre a sua morte, ao menos na imprensa brasileira, foi quase nula. A negligência causa estranhamento: cinco anos atrás, Vilhalva inspirou e protagonizou o filme Terra Vermelha, premiada co-produção italiana e brasileira dirigida por Marco Bechis e inspirada em uma reportagem de CartaCapital sobre a tragédia kaiowá.
O longa ganhou o mundo e lançou olhares sobre a questão indígena no Mato Grosso do Sul, onde os guaranis kaiowás lutam para permanecer em suas terras ancestrais e são constantemente confinados, física e psicologicamente, pela pressão das máquinas e das armas do agronegócio. A precariedade da situação levou Vilhalva à depressão, ao álcool e à discussão com os próprios índios, responsáveis, segundo a versão oficial, por seu assassinato.
Roteirista de Terra Vermelha, Luiz Bolognesi, que conviveu com Vilhalva durante e após as filmagens, comenta, em entrevista a CartaCapital, o descaso do País em relação à tragédia humana e social que levou o líder indígena à morte.
Bolognesi compara o assassinato de Vilhalva ao de Chico Mendes. Para ele, o Brasil não consegue evitar o holocausto permanente dos povos indígenas porque está preso à lógica do mercado e da omissão dos próprios meios de comunicação. O roteirista conta que tinha planos de produzir outro filme a partir da realidade guarani kaiowá e lamenta não ter tido oportunidade de reencontrar Vilhalva a tempo de retomar o projeto. “Como cineastas, nosso papel é expor a situação e criar um debate. Mas não temos como evitar a tragédia”. Confira a entrevista no vídeo abaixo:

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