Sementes nativas recebem nomes que reforçam as
identidades do Semiárido brasileiro |
Helen Santa Rosa - Assessoria de Comunicação do
CAA-NM |
Campina Grande - Paraíba |
31/10/2013 |
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Agricultores observam os cuidados com o banco de sementes
durante visita à experiência na Paraíba. | Foto: Fernanda Cruz/Arquivo
Asacom |
Do Maranhão a Minas Gerais, de uma ponta a outra do semiárido, agricultoras e
agricultores guardam sementes herdadas de seus avós e pais. Sementes da Paixão,
da Fartura, da Resistência, da Vida, da Liberdade, Crioulas, da Gente. Sãos
nomes que recebem as sementes nativas, conservadas pelas guardiãs e guardiões da
biodiversidade. Elas e eles se encontram no 3º Encontro Nacional de Agricultores
e Agricultoras que termina hoje (31) em Campina Grande, Paraíba.
As
sementes são batizadas com nomes que expressam o sentido delas para a vida dos
povos do Semiárido. No estado do Sergipe recebe o nome de Semente da Liberdade.
Seu Carlos Soares, conhecido por Carlinhos, guardião de sementes diz que ela
recebeu este nome por ser sinal de libertação. “Antes eu era escravo e não
sabia. Eu só plantava quando as pessoas doavam, quando chegava a semente do
governo. Hoje eu planto porque eu tenho”, relata.
Também no Piauí, agricultores e agricultoras conservam sementes resistentes e
dão a elas o nome de Semente da Fartura. “O pouco que a gente planta desbanda
sempre mais e dá com fartura ”, relata a guardiã Maria Alves Pereira.
Dona Célia de Jesus reside em um assentamento no estado de Alagoas e
conta que guarda muitas variedades de milho e feijão e diz com orgulho, que
conserva as sementes de hortaliças que cultiva em seu quintal. As Sementes da
Resistência como são chamadas no estado recebem este título por terem
permanecido ao longo dos anos, mesmo com pouca chuva. “ Ela é resistente porque
espera pela chuva. A gente planta num período, se faltar a chuva, mesmo assim
ela dá”.
A conservação das sementes nativas acontece de forma diferente
em cada lugar. Na roça, dentro de casa, em bancos ou casas de sementes
familiares ou comunitárias as sementes são separadas por variedades,
identificadas e conservadas. Na Chapada do Apodi, Rio Grande do Norte,
território onde mais de 1200 famílias disputam o direito a terra com o
agronegócio, a guardiã Francisca Carvalho coloca que existe um Banco de Sementes
no Sindicato dos trabalhadores Rurais. ”Nós também guardamos sementes de árvores
nativas com a sabiá e a aroeira. São sementes fundamentais tanto para o ser
humano como para os animais. Uma boa florada é o que faz a abelha dar o
mel”.
No Maranhão, as quebradeiras de coco são agricultoras e
extrativistas, conservam os babaçuais e as sementes, principalmente as de arroz
e de macaxeira. Para conservar as manivas, dona Lúcia Borges faz um cesto com as
folhas do babaçu, cava um buraco onde coloca para conservar. “Semente significa
esperança de sempre ter uma boa alimentação, que garante a saúde”.
Delmiro Soares, da Bahia, diz que a semente crioula nunca chega ao
final. Cuidando dela todo ano tem. No resgate das sementes, tem envolvido os
filhos assim como para construir seu Banco de Sementes Familiar. “ Eu
planto seis tipos diferentes de feijão e cada um dá em um tempo diferente e
serve para um tipo de cozido”, explica.
Maria de Jesus do Ceará relata
que estão ampliando o trabalho de conservação das Sementes da Vida. Ela denuncia
que com o avanço do agronegócio e os incentivos dos governos que começaram a
fazer distribuição indiscriminada de sementes modificadas e transgênicas para os
agricultores, as variedades tradicionais foram se perdendo. "O agronegócio e o
governo invadiram a nossa área e isso desestimulou os agricultores a conservarem
as sementes adaptadas aos seus territórios", denuncia.
Para Ivan
Monteiro, jovem guardião das sementes crioulas no Estado do Pernambuco, a
semente faz parte da raiz do agricultor familiar. “É o nosso lugar, significa a
esperança no campo para o agricultor. Germina bem, produz bem, é resistente ao
nosso clima e nos dá o bom alimento”.
Em Minas Gerais, os guardiões
também seguem essa missão, conservando principalmente através das casas de
sementes. “São sementes que há muito tempo vêm sendo guardadas e melhoradas por
nossos pais e avós e a gente continua isso hoje. Por isso chamamos ela de
Semente da Gente”, afirma Geraldo Gomes, guardião da
agrobiodiversidade.
Os guardiões e guardiãs - A tradição
e o amor à toda forma de vida é o que estimula os guardiões e guardiãs a
cumprirem este papel. As Sementes da Paixão, nome que os paraibanos dão a suas
sementes crioulas, receberam o nome motivada por este sentimento. São pessoas
que têm apego pela semente que é boa e de qualidade.
“A palavra guardião vem de guardar e a gente faz isso com o maior carinho
para ela não acabar. Semente para todos é vida. Porque todos nós somos
sementes”, relata emocionado seu Pedro de Santana, guardião e poeta da Paraíba.
“Eu sou guardião de uma semente, a Fava Orelha de Vó e acho que se tirar essa
semente, leva um pedaço de mim. Porque quando eu era criança a minha avó já
tinha aquela fava que dizia ter pegado da avó dela. É como se fosse uma pessoa
da família, faz parte da vivência nossa”.
Geraldo Gomes, o agricultor
mineiro, conserva mais de 150 variedades de sementes e diz que ser guardião é um
dom de Deus. “A gente continua fazendo o melhoramento das sementes como faziam
os nossos pais e avós e vai levando o conhecimento que a gente tem para outras
pessoas. Ser guardião é valorizar a vida das sementes, valorizar a nossa vida” .
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