A VIA INESPERADA DO PROJETO CONTRA ABUSO DE AUTORIDADE, POR JÂNIO DE FREITAS
qui, 06/04/2017 - 15:35
Atualizado em 06/04/2017 - 15:40
Foto: Lula Marques
Jornal GGN - Após
explorar os vazamentos da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula
e outros nomes da PT, agora nomes do PSDB se movimentam com medidas
para conter os vazamentos, fazendo com que o projeto contra o abuso de
autoridade entre em uma via inesperada.
A opinião é de Janio de Freitas, que
escreve, em sua coluna de hoje (6) na Folha de S. Paulo, que os tucanos
agora consideram o projeto necessário, após o vazamento que acusa o
senador Aécio Neves de receber propina da Odebrecht através de um banco
em Nova York.
Janio ressalta que os conselhos
nacionais do Ministério Público e da Justiça, o Supremo Tribunal
Federal, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal não
fizeram nada para conter os vazamentos da Lava Jato, também considerando
estranho o “lançamento do protegido Aécio no fogaréu da Odebrecht
passado tão pouco de sua festiva e pública confraternização com Sérgio
Moro”.
Leia mais abaixo:
Da Folha
por Janio de Freitas
O destino do projeto contra abuso de
autoridade entra em inesperada via e ruma para o que tanto pode ser o
êxito, como um confronto agravante da crise. Entusiastas e exploradores
dos vazamentos da Lava Jato contra Lula e o PT, as eminências e as
bancadas do PSDB movem-se agora para articular medidas contra os
vazamentos.
Espicaçadas por Aécio Neves, estão
indignadas com o vazamento que acusa esse seu chefe de receber alto
suborno da Odebrecht, por intermédio de uma conta da irmã em banco de
Nova York. Os peessedebistas passam a achar que o projeto contra abuso,
por eles rejeitado, é mesmo necessário.
De fato, está demonstrado que sem uma
lei rigorosa, os atingidos por vazamentos ficam à mercê dos que façam
usos políticos e pessoais das acusações. Os conselhos nacionais do
Ministério Público e da Justiça, o Supremo Tribunal Federal, a
Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal nada se dispuseram a
fazer contra os vazamentos que vêm desde 2014.
Se por serem contra Lula e o PT, não
vem ao caso. No reconhecimento recente da própria presidente do Supremo,
Cármen Lúcia, eram e são crimes. Permitidos, explorados, aplaudidos. E
sensacionalizados em imprensa e em TV. Um atrás do outro, dezenas.
O vazamento contra Aécio e sua irmã
Andréa não inclui sequer indício. Está negado por ambos. Como tantos
outros, é um vazamento esquisito. Há algum tempo, ao menos parte da Lava
Jato está irritada com seus aliados no Congresso, dada a falta de
combatividade com que acompanham a gestação do projeto contra abuso de
autoridade –uma ameaça de ferir de morte muitos usos e abusos que estão
na alma da Lava Jato e no cerne da ação de Sérgio Moro.
Rodrigo Janot, por seu lado, acabou
por ir ele mesmo ao Senado com sugestões para moderação do projeto. É
estranhável, sim, o repetido lançamento do protegido Aécio no fogaréu da
Odebrecht, passado tão pouco de sua festiva e pública confraternização
com Sérgio Moro. (Graças a esse momento, descobriu-se um traço de Moro:
ele ri).
Aécio ficou de pedir ao ministro Edson
Fachin uma "investigação rigorosa" do vazamento. Em causa própria, os
peessedebistas se mexem. Se isso confirmar também a disposição de apoiar
o projeto contra o abuso de autoridade, a aprovação está garantida. E a
reação da Lava Jato, prometida.
A PROTELAÇÃO
A defesa de Dilma defendeu, como a de
Temer, a protelação do julgamento de ambos no Tribunal Superior
Eleitoral. Têm o que comemorar. Só se não perceberam que, com a
protelação, Dilma ficou absolutamente vulnerável. Espichado o julgamento
até o ano que vem, como agora está previsto, ficará mais fácil e menos
escandaloso deixar Temer completar o pequeno restante do mandato, e a
ela cassar, impedindo sua (provável) candidatura.
A VITÓRIA
Durante seus dois mandatos, o
equatoriano Rafael Correa foi tratado pelo jornalismo brasileiro como um
presidente tirânico, inimigo da imprensa democrática e administrador
fracassado.
Quem acompanha os países
latino-americanos sabe o que sempre foi a imprensa equatoriana, como
sabe que Correa deixa substancial redução da pobreza e muitos outros
feitos de justiça social. Quanto ao seu autoritarismo, não foi mais do
que o pulso forte que lhe permitiu bem concluir dois mandatos, eleger o
sucessor e fazer maioria parlamentar, em um país que apenas nos dez anos
anteriores tivera sete presidentes e três golpes de Estado consumados.
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