OS TEMORES DE BARROSO E SEU SILÊNCIO SILENCIOSO
qui, 06/04/2017 - 07:11
Tinha
prometido interromper as críticas contra o Ministro Luís Roberto
Barroso, mas ele se tornou um personagem tão ilustrativo desses tempos
do medo e da submissão ao obscurantismo, que sou obrigado a descumprir
minha promessa.
Repisando
o estilo Ayres Britto-Carmen Lúcia de manchetes, o MInistro do STF Luís
Roberto Barroso cunhou sua frase seminal-semanal (https://goo.gl/s8p4AH):
“É impossível não sentir vergonha pelo que está acontecendo no Brasil”.
O que envergonha nosso liberal?
Diz o Estadão:
“Segundo
o ministro, há uma “impressionante quantidade de coisas erradas”
ocorrendo no País. “É uma prática institucionalizada, que vai do plano
federal, passa pelo estadual e chega ao municipal. Pode ser na
Petrobrás, no BNDES, na Caixa Econômica, nos fundos de pensão, no
Tribunal de Contas do Estado A, B ou C, tudo está contaminado pelo vício
de levar vantagem indevida, pra deixar de fazer o que se tem de fazer”.
Peça 1 – a visão vulgar de um constitucionalista
Vamos analisar, primeiro, a maneira como Barroso analisa o papel do BNDES.
Ao lado do Banco do Brasil, o BNDES foi a instituição pública que mais avançou nos métodos de compliance. Todas as decisões são colegiadas, passam por mais de uma instância.
Pode
ser criticado por suas políticas genéricas – como, por exemplo, o
excessivo apoio aos campeões nacionais e o pouco caso com as empresas de
conteúdo tecnológico.
Sobre a prática de corrupção, não há nada que aponte qualquer deslize do BNDES, enquanto instituição.
Ao inclui-lo na relação das “vergonhas nacionais”, o Ministro Barroso revela uma faceta nova de sua personalidade:
Conclusão 1
– o Ministro e professor Barroso é leviano nos julgamentos, condenando
uma instituição histórica, relevante, uma corporação séria, apenas com
base em achismos veiculados pelo Ministério Público e preconceitos
ideológicos pela Globo.
Todos
os governos montam mecanismos de crédito direcionado, especialmente em
países de risco jurídico e econômico elevados, como é o caso do Brasil.
Existem
fundos públicos parafiscais no Japão, Singapura, Brasil e México
(conforme o Ministro poderá se ilustrar, no trabalho do professor Ernani
Torres Filho, em anexo.
Existe,
igualmente, o mecanismo das garantias públicas, utilizado nos Estados
Unidos e na Europa. Como os financiamentos são peças centrais para
exportações, especialmente de produtos de ciclo longo, há o recurso da
equalização das taxas de juros com as praticadas por outros
competidores.
Existem
bancos públicos na Alemanha, Suíça, França, Japão, China, Índia e
Canadá. Um dos papéis centrais dos bancos públicos é atuar contra
ciclicamente. Em 2016, quando o crédito corporativo despencou e a crise
se aprofundou, o BNDES não compensou devido ao preconceito ideológico –
que sai do mercado e chega até o Ministro na forma de slogan de boteco,
perdão, de boutique.
O
trabalho do professor Torres é relevante para entender o peso dos
financiamentos do BNDES no crédito corporativo como um todo, o funding
para o crédito bancário de longo prazo, o papel no mercado de
debêntures, peça essencial para utilizar o mercado de capitais para
financiamentos de longo prazo.
Em suma, é um conjunto de desdobramentos complexos, que exigem visão técnica.
Tema de tal complexidade é reduzido a uma frase padrão (e enganosa) contra corrupção. Da mesma maneira que seus mentores do MBL.
Conclusão 2 - O constitucionalista Barroso abdicou do conhecimento técnico, trocando-o pelo senso comum vulgar.
O
Ministro Barroso etem afinidades óbvias com a Globo e temores
excessivos da ultra-direita. Coube a esses grupos espalharem histórias
sobre o apartamento em Miami, adquirido por sua esposa em nome pessoal.
Depois, a informação foi repercutida pela Veja, na pior fase da história da revista.
Imediatamente o Ministro mudou e surpreendeu seus admiradores votando a favor da prisão após o julgamento de 2a instância.
Critiquei-o, o Ministro me convidou para um café para explicar sua posição.
Lá
chegando, encontrei Barroso visivelmente incomodado com os ataques.
Ponderei que ninguém com discernimento levaria a sério as denúncias.
E ele:
- Mas fica sempre a imagem suspeita no ar.
Aleguei
que a influência política – de governos ou da mídia – em tribunais
estaduais colocaria qualquer crítico sob risco. Ele minimizou. Desde
então, tornou-se o principal porta-voz do penalismo como solução para
todos os problemas nacionais. Um breve passeio pelo Facebook mostrará
enorme quantidade de perfis de ultradireita disseminando os ensinamentos
de Barroso rede afora.
Peça 2 – os pontos de vergonha ignorados por Barroso
(1) a posição da Globo,
(2) a posição dos grupos de direita e
(3) a posição de sua própria casa, o Supremo.
Ou seja, em nenhum caso de colocou contra as posições da Globo, do MBL ou de seus colegas Ministros.
Dá
para considerá-lo um pensador profundo – e isento -, um membro do
cientificismo civilizatório, ou apenas um estimulador do obscurantismo
que dominou o debate político brasileiro?
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