Brasil profundo
30.11.2012 09:23
Um ano depois, 12 suspeitos de matar líder guarani seguem em liberdade
Por Danielle Ferreira
No dia 18 de novembro de 2011, o líder indígena Nísio Gomes foi assassinado no acampamento Guaviry, no sul do Mato Grosso do Sul.
Um parecer técnico escrito em 2009 a pedido do procurador da República em Dourados mostra que a Gaspem realizou ações truculentas contra outros grupos indígenas do estado – entre tais ações está um ataque armado contra uma comunidade guarani kaiowá em setembro de 2009, na região conhecida como Curral do Arame. Ainda segundo o documento do MPF, no início de 2008 um grupo de índios de Laranjeira Ñanderu tentaram reocupar suas terras e, “protegidos por um toldo, próximos à porteira da fazenda, uma equipe da Gaspem impedia que Funai e Funasa atendessem os índios.”
No dia 18 de novembro de 2011, o líder indígena Nísio Gomes foi assassinado no acampamento Guaviry, no sul do Mato Grosso do Sul.
O corpo jamais foi encontrado – as buscas foram encerradas por falta de informações e devido à abrangência da área onde o crime ocorreu, próximo da fronteira do Brasil com o Paraguai. Na segunda-feira 26 o Ministério Público Federal (MPF) divulgou que 19 pessoas foram denunciadas pelo crime. Apenas sete delas estão presas, todas as outras responderão ao processo em liberdade. (leia mais clicando AQUI)
Um dos denunciados pelo MPF é o ex-policial militar Aurelino Arce, proprietário da Gaspem Segurança, empresa de segurança privada que já esteve envolvida em outros casos de violência entre indígenas e fazendeiros no Mato Grosso do Sul.Um parecer técnico escrito em 2009 a pedido do procurador da República em Dourados mostra que a Gaspem realizou ações truculentas contra outros grupos indígenas do estado – entre tais ações está um ataque armado contra uma comunidade guarani kaiowá em setembro de 2009, na região conhecida como Curral do Arame. Ainda segundo o documento do MPF, no início de 2008 um grupo de índios de Laranjeira Ñanderu tentaram reocupar suas terras e, “protegidos por um toldo, próximos à porteira da fazenda, uma equipe da Gaspem impedia que Funai e Funasa atendessem os índios.”
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Em 2011, 51 indígenas foram assassinados no Brasil, de acordo com o relatório do Cimi (Conselho Missionário Indígena) “Violência contra os povos indígenas no Brasil”. Mato Grosso do Sul registrou 62,7% das mortes ocorridas no ano passado. Além disso, a taxa de assassinatos entre os índios guarani é de 100 por 100.000 habitantes, quatro vezes maior que a média nacional, como mostram dados do IBGE e do MPF. Os guarani também sofrem de outros problemas como desnutrição e alcoolismo.
O assassinato de Nísio foi resultado direto do conflito agrário entre fazendeiros e indígenas da região. No entanto, é importante ressaltar que a baixa qualidade de vida dentro de reservas superlotadas também ameaça os guarani. A pressão social dentro do pouco espaço disponível impede que muitas famílias sigam com o seu modo de vida tradicional, tornando-se continuamente mais dependentes de ajuda do Estado. Em 2006, 90% dos guarani kaiowá dependiam de cestas básicas oferecidas pelo governo, segundo o Cimi.
Esse contexto negativo contribui bastante para a alta taxa de suicídios entre o povo guarani. Segundo o IBGE, a taxa de suicídio entre os indígenas do Mato Grosso do Sul é 34 vezes mais alta do que a média nacional. O relatório do Cimi também demonstra que 26 indígenas cometeram suicídio em 2011; 13 das vítimas eram do povo guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul. É possível que o número seja maior, já que muitas mortes não são registradas.
Os índios guarani possuem uma conexão muito forte com a terra que eles consideram “ancestral” e o despejo de seu lugar de origem causa uma profunda desestruturação em sua sociedade. Um guarani declarou à Survival International que “A terra é sagrada para os Kaiowá. A terra é a essência da vida Kaiowá para nós. A terra é a estrutura de vida para nós, o povo indígena guarani.” Nas palavras de outro guarani: “Os guarani e kaiowá se mataram, estão ameaçados e morrendo dia-a-dia por conta de medo, desespero, sem perspectiva digna”.
A Comissão de Direitos Índigenas guarani kaiowá afirmou que “na raiz desta situação está a falta de terra, que é consequência da história de roubo e destruição dos nossos territórios tradicionais, da política de confinamento, da perda de nossa liberdade e até da perda da vontade de viver.”
O acampamento Guaviry, onde Nísio Gomes foi atacado, está na lista de áreas indígenas a serem demarcadas pela Funai. A constituição brasileira define o governo como responsável pela demarcação das terras, mas o processo é lento. Decepcionados com a demora dos órgãos governamentais para delimitar seu território e revoltados com o avanço do agronegócio, muitas comunidades decidem voltar à força para a terra que consideram sua. Essas ações são conhecidas como “retomadas” e podem ter resultados trágicos quando fazendeiros contratam segurança privada para resolver a questão. Por outro lado, os guarani sabem dos riscos envolvidos nas retomadas, mas utilizam todos os recursos disponíveis para retornar à sua terra, mesmo que seja necessário morrer para isso.
No último dia 22, decisão judicial permitiu que os guarani-kaiowá do acampamento Guaviry permaneçam onde estão até que suas terras sejam demarcadas. Eles também poderão utilizar a área em um raio de 130 metros ao redor da mata que ocupam atualmente, assim como as estradas que dão acesso ao acampamento. A comunidade guarani ocupou o local em primeiro de novembro de 2011, após permanecer por anos acampada à beira da rodovia MS-386.
A ação que matou Nísio Gomes ocorreu semanas após a chegada do grupo e, de acordo com seu filho, as últimas palavras do líder foram “Eu deixo essa terra nas suas mãos”.
A terra é tudo para o povo guarani e, sem ela, eles não têm chances de viver de forma digna.
O assassinato de Nísio foi resultado direto do conflito agrário entre fazendeiros e indígenas da região. No entanto, é importante ressaltar que a baixa qualidade de vida dentro de reservas superlotadas também ameaça os guarani. A pressão social dentro do pouco espaço disponível impede que muitas famílias sigam com o seu modo de vida tradicional, tornando-se continuamente mais dependentes de ajuda do Estado. Em 2006, 90% dos guarani kaiowá dependiam de cestas básicas oferecidas pelo governo, segundo o Cimi.
Esse contexto negativo contribui bastante para a alta taxa de suicídios entre o povo guarani. Segundo o IBGE, a taxa de suicídio entre os indígenas do Mato Grosso do Sul é 34 vezes mais alta do que a média nacional. O relatório do Cimi também demonstra que 26 indígenas cometeram suicídio em 2011; 13 das vítimas eram do povo guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul. É possível que o número seja maior, já que muitas mortes não são registradas.
Os índios guarani possuem uma conexão muito forte com a terra que eles consideram “ancestral” e o despejo de seu lugar de origem causa uma profunda desestruturação em sua sociedade. Um guarani declarou à Survival International que “A terra é sagrada para os Kaiowá. A terra é a essência da vida Kaiowá para nós. A terra é a estrutura de vida para nós, o povo indígena guarani.” Nas palavras de outro guarani: “Os guarani e kaiowá se mataram, estão ameaçados e morrendo dia-a-dia por conta de medo, desespero, sem perspectiva digna”.
A Comissão de Direitos Índigenas guarani kaiowá afirmou que “na raiz desta situação está a falta de terra, que é consequência da história de roubo e destruição dos nossos territórios tradicionais, da política de confinamento, da perda de nossa liberdade e até da perda da vontade de viver.”
O acampamento Guaviry, onde Nísio Gomes foi atacado, está na lista de áreas indígenas a serem demarcadas pela Funai. A constituição brasileira define o governo como responsável pela demarcação das terras, mas o processo é lento. Decepcionados com a demora dos órgãos governamentais para delimitar seu território e revoltados com o avanço do agronegócio, muitas comunidades decidem voltar à força para a terra que consideram sua. Essas ações são conhecidas como “retomadas” e podem ter resultados trágicos quando fazendeiros contratam segurança privada para resolver a questão. Por outro lado, os guarani sabem dos riscos envolvidos nas retomadas, mas utilizam todos os recursos disponíveis para retornar à sua terra, mesmo que seja necessário morrer para isso.
No último dia 22, decisão judicial permitiu que os guarani-kaiowá do acampamento Guaviry permaneçam onde estão até que suas terras sejam demarcadas. Eles também poderão utilizar a área em um raio de 130 metros ao redor da mata que ocupam atualmente, assim como as estradas que dão acesso ao acampamento. A comunidade guarani ocupou o local em primeiro de novembro de 2011, após permanecer por anos acampada à beira da rodovia MS-386.
A ação que matou Nísio Gomes ocorreu semanas após a chegada do grupo e, de acordo com seu filho, as últimas palavras do líder foram “Eu deixo essa terra nas suas mãos”.
A terra é tudo para o povo guarani e, sem ela, eles não têm chances de viver de forma digna.
*Danielle Ferreira é estagiária do Departamento de Mídia Internacional da ONG Survival International (leia mais em http://www.survivalinternational.org
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