quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

LIVRO RESGATA A HISTÓRIA DA FOLHA DURANTE A DITADURA


da Livraria da Folha

Em 1971, três caminhonetes de entrega da Folha foram incendiadas por guerrilheiros que acusavam a empresa de colaborar com o regime militar. "A inexistência de fotografias ou documentos que atestem ou descartem objetivamente a colaboração do jornal com a repressão faz desse capítulo um dos mais controversos da história da Folha", escreve Ana Estela de Sousa Pinto em "Folha Explica: Folha".
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Fotos feitas pela polícia e arquivadas no Deops mostram carro de entrega da Folha incendiado por guerrilheiros, que escreveram no asfalto o nome de Carlos Lamarca; imagem do livro Folha Explica: Folha
Fotos mostram carro de entrega da Folha incendiado por guerrilheiros; imagens do livro

"Li centenas de fichas nos arquivos do Deops (Departamento de Ordem Política e Social) e localizei um militante de esquerda que incendiou uma caminhonete da Folha em 1971. Não encontrei prova que confirme a colaboração", contou Ana Estela à "Ilustrada".
Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-diretor do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), disse em entrevista à autora que "só usávamos as nossas viaturas, que, para isso, eram bastante descaracterizadas: trocas de placas, mudanças de cor e disfarce de seus ocupantes".
Antes de ser unificado sob o título Folha de S.Paulo, três "Folhas" --"Folha da Manhã", "Folha da Tarde" e "Folha da Noite"-- dividiam espaço.
No endurecimento pós-AI-5, os militantes de esquerda que trabalhavam na "Folha da Tarde" foram "substituídos por jornalistas ligados à polícia, alguns com cargo de delegado ou patente de major ou capitão da PM", conta no livro. O periódico passou a usar linguagem policial.
A pesquisa para a composição do 86º título da coleção "Folha Explica" levou mais de dois anos. Para essa passagem, a jornalista dedicou quatro meses. Ao tocar em um assunto polêmico, Ana Estela resgata e busca esclarecer um episódio de interesse público.
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No livro, autora aborda os momentos mais polêmicos da história do jornal
Livro aborda momentos polêmicos da história da Folha de S.Paulo

Aos incêndios se seguiu um clima de tensão em relação à esquerda armada. Um editorial questionando a existência de presos políticos precipitou uma crise interna no jornal. Cláudio Abramo se afastou da chefia.
"De 1969 a 1972 a Folha atravessou um período negro, em que não havia espaço político algum no jornal. Na verdade, o jornal não tinha condições de resistir a pressões do governo", escreve Abramo no livro "A Regra do Jogo".
O controle da informação para manipular a opinião pública é o sonho de ditaduras e ditadores em todas as partes do mundo. Como um personagem de "1984" que se dedica a censurar palavras subversivas, governantes tentam controlar o conteúdo das mídias com maior alcance.
Mais do que uma apologia institucional que só serve para encher os olhos dos donos da empresa, "Folha Explica: Folha" narra a trajetória do jornal --entre dificuldades e inovações-- e os detalhes de seu funcionamento diário.
Ana Estela de Sousa Pinto trabalha na Folha desde 1988. Autora de "Jornalismo Diário" e "A Vaga É Sua, a jornalista é editora de "Mercado"

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