segunda-feira, 17 de março de 2014

MISSÃO, SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA E CONSTRUÇÃO DA PAZ....

Missão, superação da violência e construção da paz...
FOTO: ACERVO PESSOAL

Por Jane Menezes Blackburn
Ao considerarmos os desafios da missão junto às pessoas vivendo com violência, somos levados/as a refletir sobre dignidade, liberdade e cidadania. Nos leva, principalmente, pensar sobre  nossa relação com Deus.

Ao mesmo tempo em que a violência aparece na mídia televisiva e escrita, ela está presente nos programas das Secretarias Estaduais e Municipais, nas ONGs e nalgumas Igrejas e certos  organismos ecumênicos. A violência é considerada pelo Ministério da Saúde como uma questão de saúde pública, o qual recomenda que haja iniciativas públicas de combate ao problema. 

As causas que produzem a violência ainda carecem de aprofundamento, assim como o fenômeno em si. Porém,  é clara a contradição entre a ênfase atual devido à situação alarmante e a ocultação da violência real.

A Violência acontece nas relações desiguais e por isso é um insulto a Deus. Quando nós nos permitimos considerar outra pessoa como objeto de dominação e dirigimos a ela nosso preconceito e agressividade, nos desumanizamos e na nossa desumanização nos afastamos de Deus.  

Quanto mais somos capazes de perceber as outras pessoas, aceitá-las incondicionalmente, valorizar suas capacidades e considerá-las como filhas de Deus e nossas irmãs, seremos capazes de viver e ensinar a enfrentar as situações de conflito sem deixar que a não satisfação das necessidades pessoais leve a nós e aos outros a agir com violência.  

Poderemos acolher, prevenir e consolar pessoas vivendo com violência para que Deus possa curar as feridas e potencializar a resiliência que existe em cada uma permitindo que o sofrimento possa ser usado para desenvolver habilidade de cuidar de outras pessoas em situações semelhantes. 

A missão acontece numa realidade que grita pela presença de Deus e que é marcada pelo individualismo, pelo mercado e o lucro, por relações baseadas no prazer e pela desesperança. Quando em Mateus (16.13 a 18), Jesus faz uma sondagem da realidade, perguntando “—Quem o povo diz que o Filho do Homem é” ?(Mt 16.13), nos leva a considerar a necessidade de conhecer o que as pessoas pensam sobre a questão da violência, compreender as crenças no meio de nossas Igrejas e na comunidade, com relação a questões como redução da idade penal, castigo físico e outras faces da violência.  A missão possibilita que as pessoas conheçam a Deus como único caminho para promover “igualdade entre os gêneros e a valorização da mulher”. (Meta do milênio nº 3) 

Podemos ouvir a pergunta que Jesus faz aos discípulos: “Quem vocês dizem que eu sou?”(Mt 16.15) e  responder a ele e a nós mesmos/as o que pensamos ser a proposta de Deus para superação da violência e construção da paz. 

Nós cremos em Jesus Cristo, o “Príncipe da Paz” (Is 9.6), Aquele que traz a paz em seu sentido profundo e afirmamos que a paz provém de Deus e é dom de Jesus Cristo (Fp 4.7; Jo 14.27; 20.19,21,26). 

Nós aceitamos a paz de Cristo e alcançamos a paz na medida em que estamos ligados a ele e permitimos que ele nos revele o seu desejo para a transformação da realidade de violência e assim ouvir dele: “você é feliz porque esta verdade não foi revelada a você por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai, que está no céu.” (Mt 16.15)

Afirmando: “—O senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16), abrimos a possibilidade que outra ordem mundial é possível e que podemos ser instrumentos de  Deus para que sua vontade seja estabelecida. 
Em Deus, podemos ter força e discernimento para contribuir na promoção da paz. 

“Portanto, eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem a morte poderá vencê-la” (Mt 16.18).  Colocando os nossos dons a serviço da paz, 
precisamos tomar algumas iniciativas para que a Igreja possa:

Sensibilizar-se, comprometer-se e capacitar-se no assunto.
Agendar o tema de forma permanente nos motivos de oração.
Combater as crenças e os sistemas sociais que favorecem a existência da violência. Ser uma voz profética de denúncia.
Aprofundar a reflexão bíblico-teológica sobre a violência. Analisar criticamente nossa maneira de interpretar a Bíblia. Reconhecer e responsabilizar-se por aquelas interpretações que induziram a adoção de condutas abusivas.  
Instrumentalizar o desenvolvimento de Fatores Protetores em crianças e adolescentes, no trabalho cotidiano da Igreja, como: a adequada educação da sexualidade, conhecimento dos direitos e deveres, educação para uma comunicação não violenta, etc.
Desenvolver o papel protetor das famílias e da comunidade.
Desenvolver políticas oficiais de Proteção Infantil na Igreja e em suas instituições dependentes.
Desenvolver ações de acompanhamento de famílias de alto risco.
Aprender a trabalhar em redes sociais cristãs e não-cristãs, privadas e estatais, ligadas ao tema, para enfrentar de forma efetiva a multifatorialidade e complexidade do tema.
Acompanhar pastoralmente os protagonistas de situações de Violência e Abuso Sexual, sempre que possível, sem deixar de fazer os encaminhamentos técnicos pertinentes.
Manter a esperança e o compromisso, apesar dos fracassos, confiando em tudo o que Deus pode fazer, apesar de nossas limitações.
Ser um espaço de segurança e confiança que garanta o desenvolvimento pleno de seus membros, sendo modelo das relações saudáveis do Reino de Deus, baseadas no amor e no respeito mútuo. 

Considerando o foco no desenvolvimento dos fatores de proteção e de fortalecimento pessoal das crianças, adolescentes e adultos  para que se tornem menos vulneráveis frente a situações de violência e agentes de prevenção para si mesmos/as e para outras pessoas com quem se relacionam, podemos pensar em caminhos que possibilitem que elas:

Experimentem o amor incondicional e a aceitação de, pelo menos, uma pessoa significativa.
Descubram o sentido da vida, o sentido de transcendência.
Possam ser reconhecidas por suas aptidões.
Desenvolvam uma auto-estima adequada e senso de humor.
Desenvolvam habilidade de comunicação social que lhes permitam comunicar suas necessidades com clareza, opinar, criticar e promover mudanças no seu ambiente.
Exercitem a humildade conhecendo seus limites e dons.
Reconheçam em quem podem confiar. 
Conheçam seu próprio corpo, valorizem, controlem, curtam e cuidem dele. 

Que ajudem as famílias a:

Identificar e responder às necessidades dos seus membros com empatia e compromisso afetivo.
Ter clareza dos papéis e desenvolver ferramentas de disciplina e estabelecimento de limites de forma não-violenta.
Estabelecer relações familiares baseadas no amor e respeito e não no poder.
Ter espaço de convivência e lazer entre todos os seus membros.
Contar com a família estendida e com redes de apoio. 

E assim as pessoas que vivem com violência compreendam que:

O problema não é só dela, mas de um grande número de pessoas;
A violência pode ser superada;
É importante pedir ajuda;
É possível se proteger;
É imprescindível sair do silêncio!

A Igreja pode cumprir a sua missão como comunidade que ama, apóia cura e promove a paz de Deus!

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  ¹ Lista baseada em anotações de palestra de Alicia Casa Gorgal. 2006. 
  ² Gorgal, Alicia Casas, Goyret, Maria Eugenia. Mãos à Oficina. Juventude para Cristo. Uruguai. 2005. p 38.

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