domingo, 23 de março de 2014

Militares "saíram de fininho" para evitar humilhação da queda, diz Gabeira
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Hanrrikson de Andrade e Taís Vilela
Do UOL, no Rio
  • Arte/UOL
Para o jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira, a ditadura militar foi obrigada a "sair de fininho" durante a década de 80, uma vez que a situação econômica do país --impulsionada pelo "milagre" que ocorrera durante o governo Médici-- já não apresentava mais sinais de crescimento.
"A perda da legitimidade, o distanciamento da população, a dificuldade em manter a situação econômica da forma que eles queriam, enfim, tudo os obrigou, de uma certa maneira, a buscar uma retirada. O golpe militar não caiu propriamente como se cai no bojo de grandes manifestações. Ele saiu de fininho para não ter que lidar com a humilhação de cair de quatro", disse.

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Gabeira afirmou que o principal erro do regime militar foi não ter "revisto o grande fôlego" obtido com o progresso econômico desencadeado após 1968, quando o PIB (Produto Interno Bruto) começou a crescer. 

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memoriasreveladas/Arquivo Nacional
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"Em um primeiro momento, teve uma dificuldade para se instalar do ponto de vista econômico. Mas conseguiu avanços econômicos interessantes, aprofundando a integração do Brasil na economia internacional. Essa integração e algumas medidas econômicas adotadas acabaram dando a eles um fôlego grande, mas era um fôlego que teria que ser revisto mais tarde", disse.
A trajetória de Gabeira, que chegou a participar da luta armada no decorrer da ditadura, é marcada por um ponto de inflexão, conforme ele próprio define o golpe de Estado de 1964.
Natural de Juiz de Fora --de onde saíram as tropas que marcharam rumo ao Rio de Janeiro com o objetivo de derrubar o governo João Goulart--, Gabeira instalou-se em um apartamento em Copacabana, na zona sul da cidade, onde vivia com outros quatro colegas de profissão e também militantes de esquerda.
Em 1964, trabalhava como redator no "Jornal do Brasil", com sede na avenida Rio Branco --palco das grandes manifestações na então capital federal. No dia 31 de março daquele ano, relembrou Gabeira, havia um clima de incredulidade entre os que se opunham ao golpe.
Anos antes, mesmo com a resistência dos ministros militares, Jango havia sido empossado depois de uma mobilização que ficou conhecida como "cadeia da legalidade".
"Pensava que aquele momento poderia ser uma reprodução do momento anterior, e que teríamos uma nova cadeia da legalidade, que a rádio Mayrink Veiga continuaria no ar, que nós iríamos resistir e que o golpe fracassaria", disse. 

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