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DO ENVIADO A ROMA
O Mediobanca, maior banco de investimentos da Itália, acendeu na última terça-feira (19) todos os alarmes ao divulgar relatório em que diz que o crescimento de Silvio Berlusconi nas pesquisas de intenção de voto para domingo gera "crescente incerteza" que, no limite, pode devolver a Itália à iminência do calote, como quando Berlusconi caiu há 14 meses.
Não é a única instituição financeira a apontar a incerteza no horizonte: também o Credit Suisse o fez, pelo mesmo motivo, acrescentando um segundo nome em ascensão, o cômico Beppe Grillo, que é um feroz crítico do establishment político italiano.
A legislação italiana proíbe a divulgação de pesquisas nos 15 dias que antecedem as eleições. As últimas tornadas públicas (dia 9) apontam vitória de Pier Luigi Bersani (Partido Democrático, centro-esquerda), com 34,7%, na média.
Mas Berlusconi, dado como politicamente morto ao começar a campanha no fim de 2012, já estava próximo (29%). Beppe Grillo ficava com 16%. Mario Monti, o premiê em funções e o favorito dos mercados, da cúpula europeia e da Alemanha, tinha só 13,6%.
Sem a divulgação de pesquisas aumentam os rumores de que Berlusconi cresceu mais, assim como Grillo, o único que se atreveu a promover comícios de massa.
É por isso que o relatório do Mediobanca aponta a incerteza: o crescimento dos dois, se confirmado nas urnas, tornaria improvável que uma coligação Bersani/Monti tivesse maioria suficiente no Senado para dar estabilidade para o novo governo.
Na Câmara, a maioria é inexoravelmente do vencedor, qualquer que seja a porcentagem que obtenha, porque há um prêmio que lhe dá a garantia de 55% das cadeiras.
Mas, no Senado, o prêmio não é pela votação nacional, mas em cada região, o que fragmenta a composição da Casa e obriga Bersani e/ou Monti a vencerem no conservador norte, feudo da direita.
Mas, para o Mediobanca, o risco não é apenas o de um governo débil. Aponta o "cenário pior", uma vitória de Berlusconi. Acrescenta, no entanto, que, "paradoxalmente, o pior cenário poderia se tornar o melhor, do nosso ponto de vista".
Completa: "Uma vitória de Berlusconi aterrorizaria os mercados o suficiente para pressionar os juros e assim oferecer à Itália a desculpa perfeita para recorrer ao programa de socorro do Banco Central Europeu".
A hipótese de que um governo Berlusconi faria disparar o risco-país é consistente com o histórico recente: o líder da direita assumiu em 2008, com a Itália pagando 0,45% de juros por sua dívida de quase 120% do PIB. Ao ser forçado a demitir-se, em novembro, a taxa era de 5,19%, um nível insustentável sem uma de duas opções: ou a ajuda de Europa e do FMI ou o calote.
Assumiu Mario Monti, que acalmou os mercados. Os juros hoje oscilam entre 2,7% e 3%, altos mas pagáveis.
Como a dívida não se reduziu em 2012, há motivos para especular contra a Itália, já que Monti é apenas o quarto colocado nas pesquisas e Berlusconi belisca a liderança. Explica-se portanto o título do semanário financeiro "Barron's": "A sombra de Berlusconi sobre a Itália".
Sobre toda a Europa, na verdade, porque turbulência na quarta economia da Europa faz tremer o conjunto. (CLÓVIS ROSSI)
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