quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crise da safra de laranja tem a ver com monopólio no setor, afirma especialista

22 de fevereiro de 2013

Da Página do MST
A safra da laranja de 2012/2013, estimada em 300 milhões de caixas, registra, por parte dos produtores, uma perda de mais de 60 milhões de caixas. O principal motivo de tamanha perda para os produtores é que o mercado da fruta é controlado apenas por duas empresas, a Cutrale e a Citrosuco.

Para a professora da Unesp Silvia Beatriz Adoue, a perda da laranja nesta safra ocorre por causa do domínio do capital no campo, pois a compra da laranja dos produtores está à mercê da demanda do mercado consumidor destas duas empresas, e os subsídios governamentais para tentar evitar uma perda maior na safra beneficiam não os produtores, mas a Cutrale e a Citrosuco.

Confira abaixo a análise de Silvia Adoue sobre a crise citrícola brasileira:

CRÔNICA DE UM DESASTRE ANUNCIADO

“Como era esperado, a grande crise citrícola brasileira desbarata um setor que manteve uma certa estabilidade por décadas. A indústria de concentrado de suco, que também domina o mercado interno da fruta, está controlada por duas grandes empresas: a Cutrale e a Citrosuco. A queda da demanda no mercado mundial retraiu a compra dos citricultores que são, depois dos apanhadores, o elo mais fraco da cadeia produtiva. Este fato e a falta de perspectiva para as próximas safras fizeram muitos dos produtores desmontarem parte dos pomares para se dedicar a outro ramo. A saída mais procurada foi dar a terra em arrendamento para plantar cana. A decisão não foi fácil, considerando que a implantação de um pomar demora entre 3 e 5 anos. Com uma demanda relativamente estável, o governo facilitou a compra de mudas para aumentar e renovar os pomares. Esse investimento por parte dos agricultores redundou em enormes perdas na última safra.

A indústria contratou apenas a compra de variedades mais tardias, que rendem menos caixas por pé, mas de melhor qualidade. E a um preço (R$ 7,00 a caixa) que não compensa as perdas totais. Todos os produtores perderam. O governo interveio com um subsídio de R$ 3,00 a caixa para que a indústria repasse para o produtor. Mas, atenção, o subsídio é para a indústria, que já fez a seleção das variedades e dos produtores. Não é um socorro direto aos produtores. E está destinado a evitar que os pomares acabem. É o Estado e não o monopólio quem age com visão de futuro... para garantir laranja para a indústria nas próximas safras! A maioria dos produtores não são beneficiados por este subsídio indireto. Só os que mais se adequaram às demandas da indústria. O grande capital não faz qualquer esforço por resguardar as safras futuras. O Estado o faz no seu lugar.

Mas esta modalidade de subsídio é reveladora do conjunto da política agrária do governo, que favorece em primeiro lugar o grande capital. E preserva a parte mais próspera dos pequenos agricultores, só na medida em que esta fica disponível para garantir os insumos para as cadeias dominadas por esse grande capital. Essa situação precária, em que a modalidade de subsídio seleciona quais os pequenos produtores que vão subsistir e quais não, é o modelo de pequeno produtor que interessa ao projeto do “Novo mundo rural”. Não tem nada a ver com a agricultura camponesa. Tem a ver com o domínio completo do capital sobre o campo. E tende a se expandir em todos os ramos da produção agrícola”.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário