A volta das vivandeiras dos quartéis, por Luis Nassif
qua, 04/04/2018 - 07:26
Atualizado em 04/04/2018 - 08:27

Não há desculpa para a interferência do comandante das Forças Armadas General Villas Boas, em um tema eminentemente civil. Mas é mais uma consequência da balbúrdia institucional que tomou conta do país.
Impunemente,
procuradores e juízes passaram a fazer proselitismo nas redes,
inclusive com mensagens de fundamentalismo religioso, juízes afrontaram o
Supremo Tribunal Federal, vazando gravações clandestinas de conversas
da própria presidente da República, com aval do Procurador Geral, os
conselhos de juízes e procuradores renderam-se ao corporativismo mais
estreito e a imprensa mantém o discurso permanente da luta do bem contra
o mal.
Mais
ainda, jornais que fizeram profissão de fé na ditadura, quando veio a
ditadura, depois profissão de fé na democracia, quando veio a
democracia, apelam até para militares aposentados para atemorizar o
Supremo. É a volta das vivandeiras dos quartéis.
Não
adianta pedir visão prospectiva a quem não consegue enxergar além do
dia a dia. Não adianta alertar para os riscos do fascismo a quem, como o
Ministro Luís Roberto Barroso, não consegue ir além do próprio umbigo.
Criou-se
o mesmo clima de 64, em que as convicções democráticas viram pó e
apela-se para o pragmatismo de não se comprometer para poder aderir ao
próximo navio que aportar na costa com os novos-velhos conquistadores.
O Ministro Barroso, que se pretende um neo-brasilianista, poderia
desenvolver uma tese sobre esse brasileiro intemporal que, antes de
emitir opinião, molha os dedos, estica no ar para identificar o caminho
dos ventos. No campo jurídico, corresponde ao juiz que julga se
subordinando aos ecos que vêm da sociedade. Explicaria muito melhor o
caráter e a tragédia brasileira do que a empregada do seu amigo que
recusou carteira de trabalho para poder acumular as merrecas do Bolsa
Familia. E nem precisa se basear no seu pensador predileto, Flávio
Rocha, das Lojas Riachuelo. Basta se abrir com seu analista.
Espera-se que os demais Ministros tenham a dignidade de representar
à altura o poder, o STF, do qual eles se comprometeram a ser guardiões.
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