Wanderley: quer o Ministro Barroso rasgar a Constituição?
O gal Villas Bôas combate a corrupção diante de um presidente três vezes ladrão...
publicado
19/04/2018

O ladrão presidente e o general contra a corrupção! (Crédito: Romário Cunha/Flickr Michel Temer)
O Conversa Afiada tem o prazer de republicar da Segunda Opinião artigo irrespondível, de fulminante letalidade do professor Wanderley Guilherme dos Santos:
EMBARAÇOS DA PROFISSÃO DE MILITAR
Acredito que nenhum conservador radical teria coragem de fabricar “fake news” sobre general Eduardo Villas Bôas. Também estou persuadido da convicção democrática das Forças Armadas. Imaginei, porém, tipos de desventuras a que a profissão de servo da ordem legal escrita está exposta. Li, nesta quinta-feira, noticia de duas solenidades nas quais o comandante do Exército discursou, ou fez advertências, ou, ainda, glosou antigos “pronunciamentos” de militares latino-americanos que assustavam a nós, brasileiros.
Nas duas oportunidades, o comandante
retomou o tom severo com que autoridades julgam indispensável lembrar à
audiência que desvios de comportamento sofrerão punição. Estivéssemos
vivendo os anos dourados da primeira década do século XXI e a lembrança
provocaria perplexidade, por extemporânea, ou discretas críticas ao mau
gosto da oratória. Hoje, as manifestações do general Villas Bôas se
ajustaram ao contexto de difusão da autoridade civil, além de uma ou
outra declaração de oficiais aposentados, fora da ordem legal a que
aderem as Forças Armadas. Mesmo assim, não foram poucos os ouvintes com
dificuldade de identificar os destinatários das contundentes
reafirmações do poder armado.
Para mim, ficaram expostas duas
daquelas situações embaraçosas a que estão sujeitos os profissionais da
farda. Na iminência de pronunciar-se contra a praga da corrupção que
envergonha o país, viu-se o comandante do Exército na obrigação de
cumprimentar nada menos do que um ser bifronte, ora presidente da
República, segundo a ordem legal aceita pelo general; ora submetido,
pela terceira vez, a documentada investigação de praticante da tal praga
da corrupção, segundo a mesmíssima ordem legal que confere ao general a
autoridade do pronunciamento. Não há oficial que não se sinta
constrangido em semelhante situação. Mas a profissão de militar corre
esses riscos.
O outro episódio deu-se na concessão
de medalha da Ordem do Mérito Militar ao ministro Luiz Roberto Barroso.
Admiro a sólida cultura, e não apenas jurídica, do ministro, e não menos
sua brilhante capacidade argumentativa. Não conheço o regimento interno
da Ordem do Mérito Militar, mas estou certo de que o ministro Luiz
Roberto Barroso o atende galhardamente. O discurso do comandante do
Exército, de que li trechos publicados em jornais, reitera temas de suas
últimas manifestações, entre eles o do juramento profissional das
forças armadas à defesa das instituições democráticas. Em época não
muito distante, a referência soaria intempestiva, não havendo, então,
ameaça alguma ao Executivo, Legislativo ou Judiciário. Mas hoje, a
polêmica sobre a legitimidade do presidente da República, sofrendo
investigação judicial, e temores sobre o amanhã institucional do país,
entende-se a preocupação do general Villas Bôas ao enunciar o espírito
da corporação que comanda. Embaraçoso, contudo, é agraciar um ministro
que, de modo absolutamente franco, expõe noções estranhas à democracia
representativa.
O ministro Luiz Roberto Barroso
acredita que no Judiciário, especialmente no Supremo Tribunal Federal,
encontra-se a única fonte legitimamente capaz de iluminar os destinos do
Brasil, inclusive de suas Forças Armadas. Se Platão pregava em favor de
um tirano-filósofo, o ministro Luiz Roberto Barroso solicita à
sociedade que admita o fracasso dos órgãos de representação
democraticamente eleitos. Em nome da ordem democrática, o ministro
Villas Bôas acolheu na Ordem do Mérito Militar um teórico da subversão
da mesma ordem democrática. O ministro Luiz Roberto Barroso não é
conspirador ou incentivador da desobediência civil, mas um propagandista
que, democraticamente, pede à sociedade que abdique das instituições
estabelecidas pela Constituição de 88, a mesma que confere legitimidade à
posição funcional do general Villas Bôas. É dura a vida fora da
caserna.
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