O dia em que Gilmar repercutiu as denúncias sobre a indústria da delação no Supremo
qui, 12/04/2018 - 15:56
Atualizado em 12/04/2018 - 17:06

Jornal GGN - Era o início do julgamento do habeas corpus (HC 143333) de Antonio Palocci na Lava Jato, que está preso provisoriamene há mais de um ano por ordem de Sergio Moro. Gilmar Mendes, então, pediu licença ao ministro Ricardo Lewandowski e abriu, diante dos colegas ministros, uma informação de bastidor que endossa o que GGN vem denunciando há tempos: que existe uma indústria da delação premiada em Curitiba, que escolhe quais escritórios de advocacia vão participar das negociações e ganhar fortunas e quais ficarão de fora.
No caso, Gilmar citou o exemplo do advogado Rodrigo Castor de Mattos, que atuou na delação de João Santana, mesmo sendo irmão do procurador da Lava Jato Diogo Castor de Mattos.
Leia mais: Xadrez da Lava Jato em família
Gilmar parafraseou o advogado José Roberto Batochio para narrar o
seguinte episódio: "Esteve comigo, quando imaginava que ia se julgar
esse habeas corpus, o doutor Batochio, nos idos do ano passado. Ele
disse: 'fui constituído pelo doutor Palocci [como advogado de defesa na
Lava Jato], mas estou deixando o caso. Estou deixando, mas sinto
envolvido e, por isso, fiz questão de vir aqui despachar. Estou deixando
o caso porque Curitiba assim exige."
"Palavras do doutor Batochio", disse Gilmar: "Curitiba assim exige."
Segundo a revelação, Palocci estava em vias de negociar uma delação
premiada e, por isso, foi obrigado pela força-tarefa a trocar de
defensor.
"O que o doutor Batochio fez, com a seriedade do grau, foi apontar
que estavam a escolher advogados para a delação, ou aqueles que nao
poderiam sê-lo. Veja como esse sistema está engendrando armadilhas e, na
medida em que estamos [no STF] diminuindo nossa competência, estamos o
alimentando. É o ovo da serpente", disparou Gilmar, convocando os
colegas de corte a não esvaziar o uso dos HCs e consequentemente
empoderar ainda mais a República de Curitiba.
Em meio à revelação, Gilmar olhou para a procurador-geral da
República, Raquel Dodge, que estava sentada ao lado da presidente Cármen
Lúcia, e disse: "Este é um ponto importante, doutora Raquel, para
prestar atenção: para a necessidade de transparência nesse processo [de
construção dos acordos de delação]."
"A corrupção já entrou na Lava Jato, na Procuradoria", disse
Gilmar, sacando um outro escândalo envolvendo o papel dos procuradores
nas delações: "Alguém tem dúvida da atuação de Fernanda Tórtima e
Marcelo Miller [no caso JBS]? É um classico de corrupção que tem que ser
investigado e ser dito."
"O que estou falando aqui não é segredo para mim nem para o relator
[Edson Fachin, que é de Curitiba", acrescentou Gilmar, ao advertir que
"a Procuradoria-Geral tem que tomar providências em relação a isto, aos
fatos conhecidos."
O ministro Luiz Fux interrompeu a manifestação de Gilmar para frisar a gravidade da denúncia e pedir investigação.
"Eu nunca ouvi falar desse doutor Castor. Acho que temos, como
magistrados, de registrar essa sua fala e instaurar um procedimento para
apurar isso. Isso não pode ser ouvido assim. Somos juízes!", disse Fux.
"Um juiz não pode ouvir isso de forma passiva", defendeu. "É o que
estou dizendo à procuradora [Dodge]", respondeu Gilmar.
Gilmar Mendes ainda lembrou que fora o escândalo da seleção de
advogados, há ainda relatos dando conta de que "pessoas que são
indicadas para serem delatadas. Temos o caso de André Esteves que foi
delatado por Delcídio [do Amaral] e era falso, e mesmo assim ficou
preso. Já temos um caldo de cultura para discutir isso."
EM FAVOR DO HC
Ao final da manifestação, Gilmar disse que "não é possível que nós não estejamos observando" os abusos da Lava Jato.
"Esse tribunal só não é menor porque é composto por figuras que o
cumpuseram no passado. Não tem nada mais importante na doutrina do
tribunal do que o habeas corpus!", advertiu.
"Essas invencionices [para derrubar o HC de Palocci] não apenas
matam o instituto do HC, mas matam também, um pouco, a este tribunal."
Em outra passagem, Gilmar disse que "se a gente não concede habeas
corpus, veja o poder que se dá para essas instituições. Se chancelarmos
esse poder, vamos ser, no mínimo, cumplices de várias patifarias que
estão a ocorrer. O caso do doutor Castor, em Curitiba, o caso de Miller,
aqui [em Brasíloia]. É notório que teve corrupção."
O julgamento do HC de Palocci já tem 5 votos contra a liberdade do ex-ministro e será retomado nesta quinta (12).
Veja, abaixo, o comentário de Luis Nassif sobre o julgamento no Supremo.
A manifestação de Gilmar começa por volta dos 56 minutos do vídeo abaixo.
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