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DE SÃO PAULO
Os cadernos com a contabilidade da oficina, apreendidos pela fiscalização, mostram em detalhes a forma de exploração da mão de obra boliviana. Em uma das 200 páginas de um caderno universitário com capa colorida, totalmente anotado, encontra-se a situação da família Y, apenas um exemplo.
Em dois meses de trabalho, os Y produziram 704 peças. Foram blazers, calças, bermudas, conjuntos e vestidos. Pelo trabalho de costurar uma bermuda pespontada, a família recebia a incrível quantia de R$ 2,30; por uma calça simples, R$ 1,20.
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No total, os Y teria direito a pôr as mãos em R$ 2.112,40. Mas, com dívidas de R$ 1.600 (entre passagens e vales), receberam apenas R$ 512,40.
Várias páginas do livro mostram o preço da passagem entre Corumbá e São Paulo --R$ 211, em ônibus clandestinos.
"Necessita-se com urgência de costureiros com ou sem prática. Pode ser jovens, senhoritas ou cholitas. O trabalho é no exterior, em São Paulo, Brasil". Pelo anúncio, feito na língua aymara --a mais falada pelos bolivianos da oficina fiscalizada--, o dono pagou 25 bolivianos (R$ 7).
A Folha, que acompanhou a fiscalização, conversou com vários bolivianos. Nenhum domina ainda o português, apesar de alguns estarem em São Paulo há vários anos.
"É que só falamos entre nós mesmos. Não procuramos nos relacionar com os brasileiros", diz M., 37 (nenhum nome será divulgado a pedido dos trabalhadores). Isso garante a discrição e a clandestinidade da operação.
Homens e mulheres dividem o trabalho na oficina. Segundo uma família, essa é uma grande vantagem da contratação de bolivianos. "Na tradição indígena aymara, os homens participam dessas atividades que exigem grande delicadeza manual. Eles são grandes tecelões", disse a mulher P., enquanto cuidava do filho pequeno.
A oficina do Belenzinho opera com máquinas de costura emprestadas da confecção de proprietários coreanos Silobay, que a Gep havia contratado para os serviços de costura. Notas de aluguel de máquinas entre a Silobay e a oficina foram apreendidas.
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