Indígenas chilenas instalam energia solar no deserto de Atacama
Três povoados indígenas do altiplano do Chile acabam de receber equipamentos de energia solar. As destinatárias são cinco moradoras que cruzaram o planeta e as barreiras idiomáticas para aprender na Índia técnicas fotovoltaicas que agora aplicam em suas aldeias. As atacamenhas Luisa e Liliana Terán, primas da comunidade Caspana, as quechuas Elena Achú e Elvira Urrelo, de Ollagüe, e a aymara Nicolasa Yufla, de Toconce, têm o desafio de instalar esses equipamentos e revelar seus mistérios aos habitantes dos três povoados, com pouco menos de mil pessoas.
A reportagem é de Marianela Jarroud e publicada pela agência IPS e reproduzida por amazonia.org.br, 14-03-2013.
Nessas localidades, a mais de três mil metros de altitude e quase no limite com a Bolívia, não há eletricidade e a água escasseia. “Temos luz por gerador apenas duas horas e meia por dia à noite”, contou à IPS por telefone a artesã em pintura rupestre Luisa Terán.
No ano passado, as cinco viajaram para a aldeia indiana de Tilonia, no Estado de Rajastã, onde fica a sede do Barefoot College (Universidade Descalça). Ali, durante seis meses treinaram para instalar painéis solares, fabricar lâmpadas e fazer manutenção. “Recebemos a informação de que procuravam mulheres entre 35 e 40 anos para se capacitarem na Índia. No começo me interessei, mas quando soube que eram seis meses, duvidei. Era muito tempo longe da família”, contou Terán.
Incentivada por sua irmã, que cuidou de suas duas filhas, e de sua mãe, decidiu fazer a viagem, mas saiu de seu povoado sem contar a mais ninguém. Agora, teme ter esquecido o que aprendeu, após seis meses sem aplicar seus conhecimentos. “Sabia o que enfrentaria, mas demorei três meses para me adaptar, principalmente à comida e ao imenso calor que fazia”, afirmou.
As cinco partiram em 15 de março de 2012, por meio de uma iniciativa organizada pelo Barefoot College, o chileno Serviço Nacional da Mulher (Sermam), a Secretaria Regional Ministerial de Energia e a empresa italiana Enel Green Power, que doou o equipamento. Cada kit solar que chegou este mês às comunidades consta de um painel de 12 watts, uma bateria de 12 watts, uma lâmpada LED de quatro amperes e uma caixa de controle de oito amperes.
O Barefoot College, criado em 1972, trabalha com comunidades rurais vulneráveis e inacessíveis, e em particular com as mulheres. Até o momento, 700 mulheres de 49 países da Ásia, África e América Latina fizeram o curso para se converterem em “engenheiras solares descalças”. Isto as faz responsáveis por instalar, reparar e dar manutenção às unidades fotovoltaicas em suas aldeias, por um período mínimo de cinco anos, e montar uma oficina eletrônica rural, onde guardar os componentes necessários e que funcione como uma minicentral elétrica com potência de 320 watts/hora.
Graças a esta e outras iniciativas solares do Barefoot, 450 mil pessoas tiveram acesso à eletricidade em diferentes regiões, o que representa redução nas emissões de dióxido de carbono, procedentes da queima de combustível e lenha, de 13 toneladas por dia. Na América Latina o objetivo do projeto é levar energia a mil residências.
No Chile, “é muito importante as comunidades conhecerem o potencial que temos no desenvolvimento de energias renováveis e, particularmente, em projetos de energia solar”, disse à IPS o secretário regional ministerial de Energia para a Macro Zona Norte, Carlos Arenas. Essa região possui um vasto potencial, especialmente no deserto de Atacama, que concentra a maior radiação do planeta, de entre sete e 7,5 quilowatts/hora por metro quadrado, segundo estudos da Universidade do Chile.
Se ali forem instalados painéis fotovoltaicos cobrindo uma área de 400 quilômetros quadrados, será possível abastecer o consumo elétrico nacional. Mas a grande demanda do norte corresponde à indústria da mineração, que absorve 90% da geração, enquanto a porcentagem restante destina-se a usos residenciais, comerciais e públicos.
“Nosso sistema está se desenvolvendo e em muitos povoados se obtém eletricidade por geradores à base de combustíveis fósseis, como o diesel, e em alguns casos estamos complementando com fontes renováveis, particularmente a eólica e a solar”, afirmou Arenas. Por isso “demos apoio à iniciativa, uma experiência muito enriquecedora para as próprias pessoas que vivem em localidades tão afastadas e têm um fornecimento descontínuo e, em alguns casos, com altos custos”, destacou.
Quando as chilenas chegaram à Índia, descobriram que a instrução era em inglês. Tiveram muita dificuldade para entender, contou Terán, mas finalmente conseguiram se comunicar por sinais, gestos e desenhos. Também encontraram um entorno radicalmente diferente do de suas aldeias. “Havia muitos bichos, lagartos e outros animais. Dormíamos em colchonetes, em camas de madeira muito dura. Além disso, a pobreza era tremenda”, observou.
No grupo havia cinco indígenas do Peru “que estavam tristes, chorando”, disse Terán. Mas agora essas mães e avós peruanas já fazem funcionar a energia solar na aldeia de Japopunco, a 4.800 metros de altitude, onde também cada uma recebeu seu equipamento, acrescentou.
“São mulheres com habilidades, que moram em lugares muito afastados, por isso a experiência pessoal foi incrível”, disse à IPS a diretora do Departamento de Mulher e Trabalho do Sermam, Paola Diez. Sua instituição e a Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena implantam um plano para capacitar as mulheres indígenas de todo o país em matéria de empreendimentos sustentáveis, superando a subsistência. A iniciativa objetiva a inserção profissional feminina, que no Chile é de 47,7% e que o governo busca elevar a 50%.
Terán já pode aplicar seus conhecimentos em Caspana. “A ideia é começar entregando luz às nossas casas e, talvez mais adiante, possamos instalar um refrigerador, como todas e todos queremos”, afirmou. Também “desejamos oferecer nossa experiência, mas precisamos de ajuda para começar a fabricar lâmpadas solares e vendê-las. Além disso, as pessoas querem que as capacitemos para fazerem a instalação em suas casas”, ressaltou.
A reportagem é de Marianela Jarroud e publicada pela agência IPS e reproduzida por amazonia.org.br, 14-03-2013.
Nessas localidades, a mais de três mil metros de altitude e quase no limite com a Bolívia, não há eletricidade e a água escasseia. “Temos luz por gerador apenas duas horas e meia por dia à noite”, contou à IPS por telefone a artesã em pintura rupestre Luisa Terán.
No ano passado, as cinco viajaram para a aldeia indiana de Tilonia, no Estado de Rajastã, onde fica a sede do Barefoot College (Universidade Descalça). Ali, durante seis meses treinaram para instalar painéis solares, fabricar lâmpadas e fazer manutenção. “Recebemos a informação de que procuravam mulheres entre 35 e 40 anos para se capacitarem na Índia. No começo me interessei, mas quando soube que eram seis meses, duvidei. Era muito tempo longe da família”, contou Terán.
Incentivada por sua irmã, que cuidou de suas duas filhas, e de sua mãe, decidiu fazer a viagem, mas saiu de seu povoado sem contar a mais ninguém. Agora, teme ter esquecido o que aprendeu, após seis meses sem aplicar seus conhecimentos. “Sabia o que enfrentaria, mas demorei três meses para me adaptar, principalmente à comida e ao imenso calor que fazia”, afirmou.
As cinco partiram em 15 de março de 2012, por meio de uma iniciativa organizada pelo Barefoot College, o chileno Serviço Nacional da Mulher (Sermam), a Secretaria Regional Ministerial de Energia e a empresa italiana Enel Green Power, que doou o equipamento. Cada kit solar que chegou este mês às comunidades consta de um painel de 12 watts, uma bateria de 12 watts, uma lâmpada LED de quatro amperes e uma caixa de controle de oito amperes.
O Barefoot College, criado em 1972, trabalha com comunidades rurais vulneráveis e inacessíveis, e em particular com as mulheres. Até o momento, 700 mulheres de 49 países da Ásia, África e América Latina fizeram o curso para se converterem em “engenheiras solares descalças”. Isto as faz responsáveis por instalar, reparar e dar manutenção às unidades fotovoltaicas em suas aldeias, por um período mínimo de cinco anos, e montar uma oficina eletrônica rural, onde guardar os componentes necessários e que funcione como uma minicentral elétrica com potência de 320 watts/hora.
Graças a esta e outras iniciativas solares do Barefoot, 450 mil pessoas tiveram acesso à eletricidade em diferentes regiões, o que representa redução nas emissões de dióxido de carbono, procedentes da queima de combustível e lenha, de 13 toneladas por dia. Na América Latina o objetivo do projeto é levar energia a mil residências.
No Chile, “é muito importante as comunidades conhecerem o potencial que temos no desenvolvimento de energias renováveis e, particularmente, em projetos de energia solar”, disse à IPS o secretário regional ministerial de Energia para a Macro Zona Norte, Carlos Arenas. Essa região possui um vasto potencial, especialmente no deserto de Atacama, que concentra a maior radiação do planeta, de entre sete e 7,5 quilowatts/hora por metro quadrado, segundo estudos da Universidade do Chile.
Se ali forem instalados painéis fotovoltaicos cobrindo uma área de 400 quilômetros quadrados, será possível abastecer o consumo elétrico nacional. Mas a grande demanda do norte corresponde à indústria da mineração, que absorve 90% da geração, enquanto a porcentagem restante destina-se a usos residenciais, comerciais e públicos.
“Nosso sistema está se desenvolvendo e em muitos povoados se obtém eletricidade por geradores à base de combustíveis fósseis, como o diesel, e em alguns casos estamos complementando com fontes renováveis, particularmente a eólica e a solar”, afirmou Arenas. Por isso “demos apoio à iniciativa, uma experiência muito enriquecedora para as próprias pessoas que vivem em localidades tão afastadas e têm um fornecimento descontínuo e, em alguns casos, com altos custos”, destacou.
Quando as chilenas chegaram à Índia, descobriram que a instrução era em inglês. Tiveram muita dificuldade para entender, contou Terán, mas finalmente conseguiram se comunicar por sinais, gestos e desenhos. Também encontraram um entorno radicalmente diferente do de suas aldeias. “Havia muitos bichos, lagartos e outros animais. Dormíamos em colchonetes, em camas de madeira muito dura. Além disso, a pobreza era tremenda”, observou.
No grupo havia cinco indígenas do Peru “que estavam tristes, chorando”, disse Terán. Mas agora essas mães e avós peruanas já fazem funcionar a energia solar na aldeia de Japopunco, a 4.800 metros de altitude, onde também cada uma recebeu seu equipamento, acrescentou.
“São mulheres com habilidades, que moram em lugares muito afastados, por isso a experiência pessoal foi incrível”, disse à IPS a diretora do Departamento de Mulher e Trabalho do Sermam, Paola Diez. Sua instituição e a Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena implantam um plano para capacitar as mulheres indígenas de todo o país em matéria de empreendimentos sustentáveis, superando a subsistência. A iniciativa objetiva a inserção profissional feminina, que no Chile é de 47,7% e que o governo busca elevar a 50%.
Terán já pode aplicar seus conhecimentos em Caspana. “A ideia é começar entregando luz às nossas casas e, talvez mais adiante, possamos instalar um refrigerador, como todas e todos queremos”, afirmou. Também “desejamos oferecer nossa experiência, mas precisamos de ajuda para começar a fabricar lâmpadas solares e vendê-las. Além disso, as pessoas querem que as capacitemos para fazerem a instalação em suas casas”, ressaltou.
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