segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Na pior escola de Salvador, professores faltam e alunos reclamam de tráfico

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NELSON BARROS NETO
DE SALVADOR
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"Gente, os professores estão doentes. Levem essa tarefa para casa e voltem amanhã", repetia na porta do colégio estadual Professora Maria Odette Pithon Raynal a vice-diretora da escola, sem notar a chegada da reportagem.
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A instituição fica em Paripe, na periferia de Salvador, e registrou a pior nota do Ideb na capital baiana: 1,5, de um máximo de 10.
A Bahia é o Estado com mais escolas que estavam nas últimas colocações da avaliação federal, em 2007, e ainda conseguiram piorar no índice de 2011, recém-divulgado.
Há menos de dois meses, uma greve dos professores deixou os estudantes sem aula por 115 dias, esticando o período letivo até março de 2013.
Raul Spinassé/Folhapress
O colégio estadual Professora Maria Odette Pithon Raynal, em Paripe, periferia de Salvador
O colégio estadual Professora Maria Odette Pithon Raynal, em Paripe, periferia de Salvador
"Eles ficam comendo o dinheiro da gente, e a gente fica aqui, sem estudar", disse Flávia Barbosa, 13, uma das alunas da 5ª série liberadas na quinta-feira.
A vice-diretora da escola, Lêda Guimarães, afirmou que dois profissionais apresentaram atestado médico para justificar a ausência e que esse foi um caso excepcional.
A turma de Flávia discorda. "Essa é a nossa rotina, mesmo depois da greve. Também não tivemos aula ontem [quarta], nem vai ter amanhã [sexta]", disse a colega Carolina Bispo, 16. "Tem tráfico dentro da escola. E, se 'caguetar', corre risco de morrer. Para você ter ideia, roubaram três celulares em um só dia."
Carolina disse ainda que se recusa a comer a merenda do colégio. "Só tem sopa, aipim com ovo. Tem gente que traz o próprio copo de casa, porque só nos dão sujos. E o suco fica armazenado naqueles baldes de lavar o chão."
Perto dali, em Periperi, o colégio estadual de Praia Grande, também com nota 1,5 no Ideb, tem problemas graves de segurança.
Mãe de uma aluna da 7ª série, Luciane Alves, 29, contou que a filha Uane foi ameaçada com uma faca na sala.
"Tem até um negócio chamado 'corredor da morte', onde os mais velhos batem nos mais jovens", disse.
Professores reclamaram da chegada de novos estudantes, vindos de um colégio desativado do bairro, que seriam "analfabetos funcionais" em pleno ensino médio.
Um dos vice-diretores da escola, Ueldnei Ferreira disse que não poderia "explicar com exatidão" a nota no Ideb. Após culpar a gestão anterior, afirmou estar tentando aumentar a segurança na escola. "Criamos uma ficha de advertência, que precisa ser assinada por nós, eles e os pais", disse.

Procurada, a Secretaria de Educação disse estar acompanhando de perto a situação e ter criado um projeto de reforço escolar. Também garantiu "não faltar verba", mas acusou algumas unidades de não saberem administrar corretamente o dinheiro.

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