Os motivos por trás da auto expiação de Janot, por Luis Nassif
Janot
parece dominado por um sentimento ao qual o grupo de Curitiba se mostrou
infenso: o remorso, os ataques de consciência, a preocupação sobre que
imagem ficaria para a história. E, aí, recorreu a essa auto expiação
algo desajeitada.
Nos momentos decisivos, era a seus conselhos que recorria, três referências morais do Ministério Público, não Brindeiro, Fernando de Souza e Gurgel. Sem contar seu melhor amigo, e padrinho da sua indicação, Eugênio Aragão, que traçou um perfil destruidor de suas fraquezas, assim que Janot se revelou.
Esses episódios não são relatados no livro. Janot não ousa, nem teria
talento literário para tal, expor o peso do olhar de condenação de seus
mestres, seus dramas de consciência – e suas fraquezas – enquanto
tantos colegas medíocres se regozijavam com as manifestações de um
populacho babando sangue.
É por isso que o livro se preocupa em responder às críticas mais
ostensivas contra o seu caráter: a acusação de ter traído José Genoíno, a
quem tratava como amigo pessoal; o cartaz auto-laudatório “Janot, você é
a esperança do Brasil”; na blindagem a Aécio Neves na primeira leva de
denúncias.
Um interlocutor de Janot, advogado de São Paulo, me contou certa vez
que a delação da JBS foi uma maneira de Janot expiar a culpa pelo
impeachment, que colocou no poder o grupo mais barra-pesada da política
nacional, antes do advento da geração Bolsonaro.
Enfim,
Janot parece dominado por um sentimento ao qual o grupo de Curitiba se
mostrou infenso: o remorso, os ataques de consciência, a preocupação
sobre que imagem ficaria para a história. E, aí, recorreu a essa auto
expiação algo desajeitada.
A aposentadoria fez Janot perceber a dureza do julgamento da história. O grupo de Curitiba só irá se dar conta mais adiante, quando seus nomes estiverem definitivamente incrustados na história e eles forem apontados, por estudiosos, como os procuradores que ajudaram a jogar fora todas as conquistas proporcionadas pela Constituição de 1988 e transformaram o MPF no “caveirão” do futuro.
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