segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A falsa relação entre redução das desigualdades e preservação ambiental, por Luis Nassif

A inclusão deve obrigar a uma radicalização nas outras formas de preservação ambiental.


O sociólogo e economista Marcelo Medeiros deu uma entrevista instigante ao Valor. Nela, diz ser impossível reduzir a desigualdade pelo modelo atual de crescimento.
Sua lógica é simples:
  • O mundo está perto do esgotamento de seus recursos.
  • Há uma enorme desigualdade de renda. Mas qualquer tentativa de melhoria na situação dos mais pobres acelerará mais ainda o esgotamento das reservas, se a redução da desigualdade se der em ambiente de crescimento econômico.
  • Como os mais ricos são os grandes consumidores de recursos naturais, o único caminho seria reduzir o crescimento e a desigualdade. Assim, os mesmos recursos seriam repartidos por mais pessoas, sem esgotar os recursos naturais.
A redução das desigualdades é fundamental por diversos motivos. Mas não como condição essencial para o meio ambiente.
A razão é simples.
Apenas um percentual da renda dos mais ricos se destina ao consumo. Quanto mais rico, mais a parcela maior de renda se destinará a acumulação e ao reinvestimento. Já a renda do mais pobre se destina totalmente ao consumo.
A explosão do consumo de commodities, alimentos e minérios, nas últimas décadas, se deveu ao enorme processo de inclusão ocorrido nos BRICs, especialmente na China e na Índia.
Evidentemente, a única forma de reduzir desigualdade não é a renda. O orçamento público pode ser um formidável indutor de distribuição de renda indireta, ampliando os gastos com saneamento, educação, saúde, renda básica. Mas este é o primeiro passo da inclusão. O segundo passo é a autonomia financeira da família e sua entrada no mercado de consumo.
Não significa que se deva reduzir o ritmo de inclusão, para não exaurir as possibilidade do planeta. Significa que a inclusão deve obrigar a uma radicalização nas outras formas de preservação ambiental.
A segunda grande dúvida é a distribuição de renda sem crescimento. Lula conseguiu tirar 40 milhões de família da miséria porque, na outra ponta, o crescimento da economia permitia ganhos para os diversos setores econômicos. E aí se entra em um campo político, desconsiderado tanto por Medeiros como por André Lara Rezende, outro defensor da tese do não crescimento.
Já se formou um consenso entre a Nova Esquerda europeia que não se consegue reduzir a desigualdade através de política fiscal, porque o poder político acumulado pelos donos de capital impede qualquer avanço.
Em um país de mentalidade colonial, como o brasileiro, o quadro é muito mais complexo.

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Caro Nassif, Gostaria de entender melhor teu raciocinio. Nao valeria convidar o Marcelo medeiros para um debate? Trabalho com gestão de residuos, não sou economista, e gostaria de entender o que ha de inadequado nesse raciocinio: 1. O crescimento econômico demanda incessantemente recursos naturais. 2. A demanda de recursos cresce incesantemente 3. A pegada material per cápita nos países de alta renda é muitas vezes maior que nos países de baixa renda. 4. Ha indicadores de que se ultrapassou límites de sustentabilidade 5. Portanto é necessário diminuir a extração e processamento de recursos naturais a níveis que não comprometam os sistemas de manutenção da vida e investir em processos regenerativos. 6. Sem a estória do bolo que cresce no futuro, se destaca o tema da distribuicao do que se tem no presente.
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