Mino Carta: O caso Battisti, do asilo à extradição

Por
Não tenho a mais pálida intenção de decifrar as razões jurídicas do STF para autorizar a extradição de Cesare Battisti,
ele deveria ter sido recambiado para a Itália há muito tempo. Por esta
corte estrela da tevê tenho profundo desprezo: é a primeira responsável
pelo golpe de 2016 e suas consequências, até a transformação da demência
em forma de governo.
Quero dizer apenas que o caso Battisti é altamente representativo
da ignorância e do primitivismo do País. Antes de mais nada, é
inaceitável que a opinião de um punhado de pseudointelectuais franceses
se sobreponha à sentença de um Estado Democrático de Direito. Mas há
algo pior: a estupidez clamorosa de uma dita esquerda brasileira
disposta a acreditar que Battisti é comparável a quem se engajou na luta
armada contra a ditadura.
Não dissertarei a respeito das diferenças entre a
resistência argentina e uruguaia e a nativa, tampouco evocarei a
distância acabrunhadora entre o que se deu lá e aqui no pós-ditadura. A
dita esquerda brasileira engoliu uma lei da anistia imposta pelos
ditadores, os quais, aliás, ameaçam tornar-se heróis, se já não são
celebrados como tais, com seus torturadores, algozes, esbirros.
Volto a Battisti. Preso por
três vezes como ladrãozinho do arrabalde, na quarta encontrou em um
companheiro de cela um terrorista do PAC, Proletários Armados para o
Comunismo, e descobriu uma espécie de justificativas para as suas
estripulias.
Diz Armando Spataro, procurador-chefe de Turim, em recente entrevista ao La Repubblica: “Battisti é um assassino da pior extração, foi executor material do homicídio do marechal (suboficial dos carabinieri) Santoro e do agente Campagna, e participou de mais dois assassinatos, de Pierluigi Torregiani e Luigi Sabbadin”.
➤ Leia também: Entenda: Cesare Battisti não é um perseguido político
Condenado à revelia, fugiu por rotas diversas até buscar na França a proteção da Lei Mitterrand, tão hipócrita quanto quem a promulgou, para contar ao cabo com o lobby de figuras secundárias, como Fred Vargas e Bernard-Henry Levy. Diante dos pedidos de extradição encaminhados pela Itália, refugiou-se no Brasil com a provável ajuda da polícia francesa.
Passou
uma temporada na Papuda e finalmente recebeu asilo por determinação de
Lula a 31 de dezembro de 2010, último dia do segundo mandato. O
presidente sofrera as pressões de vários apaniguados, Luís Eduardo
Greenhalgh, José Dirceu e Eduardo Suplicy à frente, e até de
manifestações populares pela libertação de Battisti.
“Foi uma ofensa à nossa democracia”, afirma hoje Spataro na entrevista ao La Repubblica.
Houve, na esteira do apoio ao terrorista, professores universitários,
escassamente afeitos ao conhecimento da história contemporânea, prontos a
propalar que nos anos de chumbo a Itália foi governada pela
extrema-direita e contra esta se deu o desafio das Brigadas Vermelhas e
outros grupos de menor expressão. Ocorre que houve terrorismo de
esquerda e de direita.
Por exemplo, o atentado de Bolonha, que matou 89 inocentes, foi obra de saudosos do fascismo. A península viveu então anos de grande tensão, mas sem se afastar dos valores e princípios inscritos na sua impecável Constituição, a repressão ao terrorismo, enfim vencedora sob o comando do general Dalla Chiesa, foi conduzida sem recursos a medidas especiais que demandassem a alteração da Carta. Foi uma lição inesquecível para as polícias de todo o mundo.
➤ Leia também: Mino Carta: “Manutenção de Pizzolato na Itália não é uma vingança pelo caso Battisti”
Na década de 70, o país caminhou, ao contrário do que se propalava por aqui, no sentido da esquerda. Nas eleições de 1976, o PDC teve 36% dos votos e o PC 34%, e em seguida Aldo Moro e Enrico Berlinguer começaram a cogitar de uma aliança que se chamou de compromisso histórico. O PC era dissidente de Moscou havia 20 anos, condenava abertamente o terrorismo e, como dizia Eugenio Scalfari, um dos grandes do jornalismo italiano, era de fato um partido social-democrata na acepção correta.
Infiltradas pela CIA, as Brigadas sequestraram Moro em 1978 e o mataram dois meses depois. A perspectiva do tal compromisso deixou de assombrar os EUA. Tais fatos estão nos livros, mas, entre outras coisas, a esquerda brasileira não gosta de ler.
Frequentei o assunto Battisti muitas vezes e agora, mais do nunca, parece-me indicativo da parvoíce e do atraso nativos. Certo é que, na Itália dos anos de chumbo e na de hoje, o inquisidor Moro teria sido removido de Curitiba por uma Alta Corte que cumpre à perfeição o seu papel de poder independente e democrático, sem alarde e com a devida energia.
Condenado à revelia, fugiu por rotas diversas até buscar na França a proteção da Lei Mitterrand, tão hipócrita quanto quem a promulgou, para contar ao cabo com o lobby de figuras secundárias, como Fred Vargas e Bernard-Henry Levy. Diante dos pedidos de extradição encaminhados pela Itália, refugiou-se no Brasil com a provável ajuda da polícia francesa.
Por exemplo, o atentado de Bolonha, que matou 89 inocentes, foi obra de saudosos do fascismo. A península viveu então anos de grande tensão, mas sem se afastar dos valores e princípios inscritos na sua impecável Constituição, a repressão ao terrorismo, enfim vencedora sob o comando do general Dalla Chiesa, foi conduzida sem recursos a medidas especiais que demandassem a alteração da Carta. Foi uma lição inesquecível para as polícias de todo o mundo.
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Na década de 70, o país caminhou, ao contrário do que se propalava por aqui, no sentido da esquerda. Nas eleições de 1976, o PDC teve 36% dos votos e o PC 34%, e em seguida Aldo Moro e Enrico Berlinguer começaram a cogitar de uma aliança que se chamou de compromisso histórico. O PC era dissidente de Moscou havia 20 anos, condenava abertamente o terrorismo e, como dizia Eugenio Scalfari, um dos grandes do jornalismo italiano, era de fato um partido social-democrata na acepção correta.
Infiltradas pela CIA, as Brigadas sequestraram Moro em 1978 e o mataram dois meses depois. A perspectiva do tal compromisso deixou de assombrar os EUA. Tais fatos estão nos livros, mas, entre outras coisas, a esquerda brasileira não gosta de ler.
Frequentei o assunto Battisti muitas vezes e agora, mais do nunca, parece-me indicativo da parvoíce e do atraso nativos. Certo é que, na Itália dos anos de chumbo e na de hoje, o inquisidor Moro teria sido removido de Curitiba por uma Alta Corte que cumpre à perfeição o seu papel de poder independente e democrático, sem alarde e com a devida energia.
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