Como o PT e os advogados permitiram que se chocasse o ovo da serpente, por Luis Nassif
ter, 11/09/2018 - 11:47
Atualizado em 11/09/2018 - 14:26

Os
grandes escritórios de advocacia norte-americano têm investigadores
privados contratados por eles para investigações independentes. Há uma
desconfiança fundamentada com as investigações da policia e da
promotoria, que quase sempre têm viés condenatório.
É
surpreendente que essa prática não tenha se estendido aos grandes
escritórios de advocacia nacionais, especialmente quando a AP 470
escancarou a parcialidade da Procuradoria-Geral da República.
Dia
desses, o Extra publicou reportagem sobre um casal que decidiu
investigar por conta própria o indiciamento do filho no Rio de Janeiro.
Sozinhos, pai e mãe conseguiram imagens de vídeo que contradiziam as
versões da polícia.
Por tudo isso, jamais entendi o caso Visanet.
Quando
estourou o “mensalão”, em meio à barafunda de indícios, delações e o
escambau, eu tinha apenas uma certeza: não houve desvios da Visanet. E o
caso Visanet foi a espinha dorsal que permitiu à Procuradoria-Geral da
República enquadrar o inquérito na modalidade organização criminosa e
estender as ilações para dentro do governo.
Minha
certeza era baseada em indícios muito concretos. O marketing do Banco
do Brasil tinha profunda implicância com Pizolatto. Depois, soube que o
próprio Secretário de Comunicação Social, Luiz Gushiken também tinha
desconfianças. Mas, os técnicos do marketing diziam que não tinha havido
desvios porque, ao contrário da Petrobras, o BB dispunha de modelos
eficientes de governança.
Depois,
um diretor do BB me passou a informação definitiva. Para abater os
gastos de campanha do balanço, a Visanet precisava comprovar que os
gastos foram realizados. Foi contratado, então, o respeitabilíssimo
escritório Pinheiro Neto que atestou a comprovação de R$ 73 milhões da
verba de R$ 75 milhões do marketing. Os R$ 2 milhões restantes não eram
desvio, mas simplesmente despesas ainda não comprovadas – com fotos e
documentos dos eventos patrocinados. O dinheiro foi gasto com a Globo,
com a Abril e com patrocínios de eventos, todos devidamente
documentados.
Nem se diga o fato da Visanet não ser uma empresa pública, mas uma sociedade entre várias instituições, entre as quais o BB.
Há
anos tenho um grilo falante que sempre ameniza as críticas que tenho em
relação ao Ministério Público Federal. E ele me dizia: não é possível,
pois o inquérito passou por vários procuradores confiáveis, por dois
Procuradores Gerais (Antonio Fernando de Souza e Roberto Gurgel) e pelo
Ministro Joaquim Barbosa, ex-procurador da República. Cada vez que me
dizia isso, em vez de me convencer da impossibilidade da manipulação, me
deixava em pânico, pela comprovação de uma conspiração em andamento.
Mas
o argumento que me deixava balançado era outro: os réus estão sendo
defendidos pelos maiores escritórios de advocacia do país. Eles não
deixariam passar essa questão. Bastaria uma conversa com a diretoria do
BB para saberem do trabalho da Pinheiro Neto que desmontaria
definitivamente a acusação.
Não
houve nada disso. Nem mesmo depois das informações que demos aqui, no
GGN, mencionando o tal trabalho. Havia também um inquérito da Polícia
Federal que confirmava a não ocorrência de desvios. Mas Joaquim Barbosa
manteve o inquérito sob sigilo, longe do alcance da defesa. E os
advogados se limitaram a espernear, para ter acesso ao inquérito.
Na
entrevista com José Dirceu, indaguei a respeito disso. E ele admitiu
que, apenas quando o inquérito da PF foi divulgado, com o sigilo
quebrado pelo sub-relator Ricardo Lewandowski, os advogados conseguiram
comprovar a falsidade da acusação. Mas, àquela altura, a sorte estava
lançada.
Com
essa postura passiva, os advogados deixaram livres, leves e soltos, o
Ministério Público e setores da Polícia Federal para construírem suas
narrativas livremente, com o apoio acrítico da imprensa.
Pior,
a AP 470 foi uma graça divina, ao alertar o governo, com toda a
estridência, do espírito conspiratório que se instalara na PGR, e, mais
que isso, a metodologia de parceria com a mídia. Em vez dos factoides
inverossímeis, do período anterior, a mídia tinha agora factoides
oficiais, chancelados pela PGR e pelo Supremo. O efeito foi arrasador.
Não se derrubou o governo devido à genialidade de Lula com a crise
internacional, dois anos que o consagraram como um dos grandes
estadistas mundiais.
Mas a serpente continuava sendo alimentada diariamente pela mídia e os conspiradores continuavam infiltrados na máquina pública.
Era
nítido que haveria uma segunda rodada quando a economia vacilasse,
conforme alertávamos aqui, em 2012. Mas o PT e os governos Lula e Dilma,
não dispunham de nenhuma visão prospectiva sobre os fundamentos da
conspiração. Mesmo com a comprovação da conspiração, envolvendo PGRs e
Ministros do Supremo, trataram com absoluta leniência as nomeações de
Ministros do Supremo, do STJ, o Procurador Geral da República, a Polícia
Federal.
Foi a crônica da morte anunciada da democracia brasileira.
Espero que ainda haja tempo de segurar a besta do apocalipse que se avizinha.
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