Quem são os jovens que ocupam as escolas
Até a UFRJ!
publicado
04/11/2016
Hoje na UFRJ
Após a decisão dos estudantes de ocupar a UFRJ contra a PEC da Morte (ver "em tempo" e "em tempo2"), o Conversa Afiada reproduz artigo de Joan Edesson de Oliveira no Portal Vermelho:
Os acendedores de manhãs
Ah! Esses meninos. Ah! Essas meninas.
Espalham-se pelas ruas, pelas escolas,
pelas universidades. Não se contentam mais em esperar pelo amanhã, não
querem apenas, como deles dizia Máximo Górki, ter a face do amanhã. Têm
sede de hoje, estão famintos pelo agora.
Quem são esses meninos, que ocupam o
Brasil, que transbordam em sua juventude e em sua rebeldia, que não
podem mais ser escondidos, por mais que tentem? São herdeiros de outros
meninos, em lugares e em tempos tantos da nossa história. São herdeiros
daquele menino baiano Antônio de Castro Alves, abolicionista e
republicano, voz tão poderosa a pregar aos séculos que “toda noite tem
auroras” e a dizer aos moços como ele que “não tarda a aurora da
redenção”. Descendem eles do menino alagoano Zumbi, que imberbe ainda
comandou homens e sonhou a liberdade.
Quem são essas meninas, buliçosas e de
olhar tão vivo, que transpiram beleza e coragem, que erguem a voz doce e
firme em tribunas hostis, obrigando velhos conservadores a desviar o
olhar, envergonhados e derrotados, por mais que se vistam de vencedores?
São descendentes diretas daquela menina Anita Garibaldi, que aos
dezoito anos fazia guerra e amor, incendiando o sul do Brasil com a
chama da liberdade. Elas vêm da baiana Maria Quitéria, pondo em fuga o
opressor português. Vêm de outra baiana, Maria Bonita, que aos vinte
anos armou a ternura e alou-se em lenda na caatinga sertaneja.
Por que despertam tanto ódio nas
elites, por que são tão atacados? Não são um exército com tanques,
mísseis, fuzis. Não são uma força estrangeira a nos invadir. Qual o
perigo que representam, então? Por que jornais e emissoras de TV se
empenham tanto em atacá-los? Por que representantes de um governo
ilegítimo, velho, machista e misógino, atacam com tal força essas
meninas que discursam? Por que recrutam milícias que parecem
integralistas saídos de um mofado livro de história para atacar esses
jovens?
É que esses meninos, essas meninas,
riso solto e gargalhada livre, são uma grande ameaça. Os alicerces desse
edifício secular das classes dominantes tremem ante o riso deles, temem
a sua gargalhada. Mas acima de tudo, o que causa temor mesmo são os
sonhos desses meninos e meninas. Sim, eles sonham. Sonham com educação
de qualidade, sonham com justiça, sonham com uma polícia que não seja
executora da juventude, sonham com um Brasil novo e têm a mais pura e
justa certeza de que o novo sempre vem.
É por isso que eles são tão perigosos. É
por isso que há jornalistas vendidos que os atacam. É por isso que há
promotores de justiça que ordenam que eles sejam algemados. É por isso
que há juízes que autorizam e recomendam o uso de técnicas de tortura
contra eles. É por isso que há policiais prontos a bater, a socar, a
prender. Porque esses meninos e essas meninas são perigosos, porque eles
agarraram o futuro com as mãos e querem que o futuro seja aqui e agora,
e não num tempo que nunca chega. Esses meninos são perigosos porque
eles podem colocar o mundo de ponta cabeça, e de virá-lo em festa,
trabalho e pão, como sonhou o poeta.
E esses meninos e essas meninas estão
armados. Suas armas são as ideias que carregam, são o verbo que corta, a
voz que inflama. Estão armados, eles. Trazem consigo a arma mais
poderosa que há. Como em Pessoa, trazem em si todos os sonhos do mundo.
Parece que saíram de algum poema, esses
meninos, essas meninas. Parecem que saíram de algum poema, para em
tempos de tanta escuridão, de noite tão comprida, correrem pelas
esquinas do Brasil, chamando pela aurora, acendendo as manhãs.
Em tempo2: via CUCA da UNE: após uma longa assembléia no prédio da reitoria, 800 estudantes que participaram da discussão decidiram ocupar o prédio da reitoria na próxima segunda-feira, 07. Outros campus da universidade, como a Faculdade Nacional de Direito, Macaé e Praia Vermelha se somam à ocupação do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o IFCS. Foi aprovada também a proposta da Carina Vitral, presidenta da UNE, de sair uma caravana da UFRJ a Brasília, bem como de todas as ocupações, para barrar a PEC 55 no Senado.
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