Editorial
Golpistas e usurários
por Mino Carta
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publicado
14/11/2016 00h12
O primeiro resultado do golpe é o triunfo do rentismo. Os nossos juros de 14% explicam
Rovena Rosa/ Agência Brasil
Liga Paulo Henrique Amorim, pergunta: “Você leu a entrevista de Sergio Moro no Estadão?”
Não li, mesmo porque não me aproximo da mídia nativa, a não ser que
alguém devidamente habilitado a tanto sugira a leitura desta ou daquela
página, a bem da minha edificação cultural.
Confio, porém, em Paulo Henrique, o qual
sentencia: “Pobre moço, incapaz de uma única, pálida ideia”. Donde, não
lerei, estou cansado de tolices sem conta, deste besteirol desenfreado.
Mais ainda, do crime cometido contra o Brasil, sem que inúmeros
brasileiros se deem conta. E aqui aproveito a oportunidade para informar
que me preparo para duas semanas fora do País, em busca de melhores
ares.
Pois é, viver no país da casa-grande e da
senzala me deixa exausto. Por exemplo: há de ser extraordinário o
esforço mental para qualificar o grau de insanidade atingido pelos
golpistas no poder. Sublinhe-se um dado fundamental: o Brasil ostenta
impavidamente juros de 14%, enquanto o país a praticar os maiores depois
do nosso é a Rússia de Putin, com 2,8%, enquanto a União Europeia tem juros negativos. O que concluir?
Pretende-se garantir
o rentismo na sua versão mais desbragada, a felicidade dos fabricantes
de dinheiro em espécie em lugar de bens e serviços. É o triunfo de um
punhado, contra a desgraça da larga maioria, a começar pela mão de obra.
Rasga-se não somente a Constituição de 1988, mas também a CLT, que,
pasmem caso não saibam, foi inspirada na Carta del Lavoro, obra do jurista Alfredo Rocco a serviço de Mussolini.
À época em que Getúlio Vargas
a pôs em vigor, significava um avanço excepcional para o Brasil de
então. O Estado mínimo que os golpistas no momento nos impõem vai além
do fascismo e joga ao lixo até a garantia dos trabalhadores reconhecida
pela ditadura totalitária do Duce.
Há outra diferença, aliás, em relação ao
regime mussoliniano: este era nacionalista. O estado de exceção que hoje
nos vitima é simplesmente entreguista e loteia o País para vendê-lo a
quem se apresentar, por via direta ou por meio das privatizações.
A casa-grande privilegia ao mesmo tempo
os usurários indígenas e o capital estrangeiro. Mais que sandice pura, é
crime, como já disse, cometido contra a soberania nacional e os
interesses da maioria dos cidadãos, mesmo aqueles que não têm
consciência da cidadania.
Insanidade? Depende do ponto de vista. A
minoria rentista esfrega as mãos de deslumbrado contentamento. Atiro-me,
não sem ousadia, a evocar a piada do escorpião: em meio ao dilúvio,
pede carona à rã. “Não caio nesta – diz o batráquio –, você vai me
picar.” “Se fizer isso que você teme – retruca o escorpião –, eu me
afogo na enxurrada.”
O argumento soa convincente e a travessia
começa. Lá pelas tantas, o bicho mau cede, porém, à sua natureza e dá a
ferroada fatal. “Mas como? Assim morremos ambos”, consegue suspirar a
rã. “Pois é – comenta, soturno, o passageiro –, eu não sei nadar, mas
que fazer? Eu sou escorpião...”
Que esperar dos planos tresloucados
do governo da casa-grande? A curto prazo, a maior crise da história, de
consequências imprevisíveis e, certamente, de imensa, irreparável
gravidade. Às vezes, no olho do ciclone, o homem desafiado encontra
força e inteligência para escapar. De qualquer maneira, o risco é
espantoso, para todos, e expõe antes os vencedores contingentes do que
os vencidos.
O capítulo em andamento de um enredo, de
início tragicômico e agora somente trágico, nos empurra para o desastre
ciclópico, a hecatombe material e moral, geral e irrestrita. A
contribuição da ignorância e da parvoíce verde-amarela a tal desfecho é
determinante. Escrevi no introito a esta peroração que não leio, e menos
ainda ouço e assisto aos jornalistas nativos em ação para poupar de
humores sombrios o percurso esticado entre o fígado e a alma.
Figuras como Sergio Moro cabem à
perfeição na moldura. Já li da lavra dele bobagens inomináveis e não
preciso ler outras. Trata-se de personagem exemplar, na sua vaidade,
provincianismo, empáfia. Cavalga, desassombrado, seu imensurável
narcisismo, obviamente parvo.
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