terça-feira, 8 de novembro de 2016

Estudante defende ocupação de escolas públicas: “Nós não estamos lá de brincadeira”

Ana Julia, de 16 anos, subiu na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná e disse que os parlamentares também eram responsáveis pela morte de um jovem nas dependências de um dos colégios ocupados no estado. “O sangue do Lucas está na mão de vocês”, afirmou

O vídeo com o discurso da estudante Ana Julia Ribeiro, de 16 anos, na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná, ganhou as redes sociais. A jovem secundarista participa da ocupação do Colégio Estadual Senador Manuel Alencar de Guimarães, em Curitiba, e defendeu durante a sessão, realizada nessa quinta-feira (26), o movimento dos estudantes que, em todo o Brasil, já ocupam mil escolas públicas. Do total, segundo balanço divulgado hoje, 591 delas estão localizadas no Paraná.
Emocionada, a estudante disse que os parlamentares também eram responsáveis pela morte do colega, Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos, nas dependências do Colégio Estadual Santa Felicidade, ocupado pelos secundaristas. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Lucas foi esfaqueado por um colega de 17 anos após ambos terem usado drogas sintéticas com outro rapaz e terem se desentendido.
“Ontem eu estava no velório do Lucas e eu não me recordo de ver nenhum desses rostos que estão aqui lá, não me recordo”, disse Ana Julia. “Vocês estão aqui representando o Estado e eu os convido a olhar nas mãos de vocês. Estão sujas de sangue. O sangue do Lucas está na mão de vocês, que representam o Estado”, acrescentou a estudante.
A declaração irritou o presidente da Casa, o deputado estadual Ademar Traiano (PSDB), que ameaçou cortar a palavra da estudante. “Vou fazer uma intervenção. Com o devido respeito à sua idade e à sua família. Aqui você não pode agredir o parlamentar”, disse o tucano. A secundarista se desculpou e deu continuidade ao discurso.
Ana Julia defendeu a legitimidade da manifestação dos estudantes, contrários à medida provisória que promove uma reforma no ensino médio, à PEC 241 e ao projeto de lei conhecido como “escola sem partido”. “É uma afronta, uma escola sem partido é uma escola sem senso crítico. É uma escola racista, é uma escola homofóbica”, argumentou a secundarista. “Uma escola sem partido nos insulta, nos humilha. Nos fala que não temos capacidade de pensar por si próprio. Só que a gente tem e a gente não vai abaixar a cabeça para isso”, acrescentou.
A jovem rebateu, por fim as acusações de que os estudantes estariam sendo “doutrinados”: “É um insulto a nós que estamos lá nos dedicando, procurando motivação todo dia, sermos chamados de doutrinados. É um insulto aos estudantes, é um insulto aos professores”, diz a estudante. “Nós não estamos lá de brincadeira, nós sabemos pelo que estamos lutando. A nossa bandeira é a educação, a nossa única bandeira é a educação. Nós somos um movimento apartidário, nós somos um movimento dos estudantes pelos estudantes”, concluiu.
Veja a gravação com o discurso da estudante:

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