terça-feira, 5 de novembro de 2013

Líderes religiosos depõem na Comissão da Verdade
 
Data e horário: terça-feira, 15 Outubro 2013 - 17:17
Créditos:  Redação com O São Paulo - Ano 58 - Edição 2974 - 15 a 21 de outubro de 2013
 
 
 
 
 
“Nunca eu tive à minha frente a imagem viva de Cristo morto quanto naquela ocasião [no reconhecimento do corpo do operário Santo Dias da Silva]. O soldado do exército romano cortou lado a lado o peito de Cristo na cruz. A bala assassina cortou o peito do operário que nada mais queria que justiça e vida digna para a classe trabalhadora.”
 
O trecho é parte do depoimento de dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC),  na terça-feira, 8, na sala Sergio Vieira de Melo da Câmara Municipal de São Paulo durante audiência da “Comissão da Verdade Vladimir Herzog” com a presença de líderes políticos e religiosos, como padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para o Povo da Rua e o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista.
 
A audiência teve o objetivo de recordar histórias da ditadura por meio do depoimento de pessoas que viveram na época, e a bancada foi composta pelos vereadores Juliana Cardoso (PT), Mário Covas Neto (PSDB), Ricardo Young (PPS) e Gilberto Natalini (PV).
 
Em discurso emocionado, dom Angélico recordou que, antes de ser padre, exerceu a função de jornalista em Ribeirão Preto (SP) e, quando veio para São Paulo encontrou uma Igreja viva e comprometida com as causas do povo.
 
O Bispo ressaltou a figura de Santo Dias, que foi assassinado no dia 30 de outubro de 1979 em frente à fábrica Sylvânia, em Santo Amaro (SP). O cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo e eu fomos chamados ao Instituto Médico Legal para reconhecer o corpo.”
 
O rabino Henry Sobel falou sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog e o Ato Ecumênico na Catedral da Sé em 1975, que foi o primeiro com aquelas dimensões. Ele recordou a presença de dom Paulo Evaristo Arns, que sugeriu o Ato, e do reverendo Jaime Wright, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, que teve familiares mortos na ditadura.
 
Quando Vladimir Herzog foi assassinado, o Rabino precisou intervir para que o jornalista não fosse enterrado na ala dos suicidas. Ele também relatou um fato que nunca tinha sido contado sobre uma visita que recebeu dias antes do Ato Ecumênico.
 
“Recebi a visita de três generais fardados. Um deles disse: ‘Rabino, o senhor não deveria ir ao Ato Ecumênico, porque o lugar de rabino é na Sinagoga e não na Catedral’. Minha resposta veio espontaneamente: ‘General, vamos fazer um acordo, o senhor não decide qual é o lugar de um rabino e eu não decido onde o senhor vai estacionar seus tanques’. Ele me abraçou e foi embora, mas por via das dúvidas, depois que saíram, liguei para a embaixada americana em Brasília.”
 
Padre Julio forneceu dados do Serviço Funerário Municipal, em que 845 pessoas foram sepultadas na condição de indigentes em 2012. Em 2013, até a última semana de setembro, o número chegava a 551. Para o Padre, “é uma situação que continua a mesma prática da ditadura, da vala comum. É o mesmo tratamento desumano dado a essas pessoas [em situação de rua], a quem foi negada a cidadania na vida e também na morte”.

 
Minha fé é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o corpo de um irmão.
 
Minha fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda solidária
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder de diferença.  
Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São Paulo 
A partir de Jesus Cristo em busca do bem comum
 
 
 

 

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