Líderes religiosos depõem na Comissão da
Verdade
Data e horário:
terça-feira, 15 Outubro 2013 - 17:17
Créditos:
Redação com O São Paulo - Ano 58 - Edição 2974 - 15 a
21 de outubro de 2013
“Nunca eu tive à
minha frente a imagem viva de Cristo morto quanto naquela ocasião [no
reconhecimento do corpo do operário Santo Dias da Silva]. O soldado do exército
romano cortou lado a lado o peito de Cristo na cruz. A bala assassina cortou o
peito do operário que nada mais queria que justiça e vida digna para a classe
trabalhadora.”
O trecho é parte do depoimento de dom
Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), na terça-feira, 8,
na sala Sergio Vieira de Melo da Câmara Municipal de São Paulo durante audiência
da “Comissão da Verdade Vladimir
Herzog” com a presença de líderes políticos e religiosos,
como padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para o Povo da Rua e o rabino
Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista.
A audiência teve o objetivo de recordar
histórias da ditadura por meio do depoimento de pessoas que viveram na época, e
a bancada foi composta pelos vereadores Juliana Cardoso (PT), Mário Covas Neto
(PSDB), Ricardo Young (PPS) e Gilberto Natalini (PV).
Em discurso emocionado, dom Angélico
recordou que, antes de ser padre, exerceu a função de jornalista em Ribeirão
Preto (SP) e, quando veio para São Paulo encontrou uma Igreja viva e
comprometida com as causas do povo.
O Bispo ressaltou a figura de Santo Dias,
que foi assassinado no dia 30 de outubro de 1979 em frente à fábrica Sylvânia,
em Santo Amaro (SP). “O
cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo
emérito de São Paulo e eu fomos chamados ao Instituto Médico Legal para
reconhecer o corpo.”
O rabino Henry Sobel falou sobre a morte
do jornalista Vladimir Herzog e o Ato Ecumênico na Catedral da Sé em 1975, que
foi o primeiro com aquelas dimensões. Ele recordou a presença de dom Paulo
Evaristo Arns, que sugeriu o Ato, e do reverendo Jaime Wright, pastor da Igreja
Presbiteriana do Brasil, que teve familiares mortos na ditadura.
Quando Vladimir Herzog foi assassinado, o
Rabino precisou intervir para que o jornalista não fosse enterrado na ala dos
suicidas. Ele também relatou um fato que nunca tinha sido contado sobre uma
visita que recebeu dias antes do Ato Ecumênico.
“Recebi a
visita de três generais fardados. Um deles disse: ‘Rabino, o senhor não deveria
ir ao Ato Ecumênico, porque o lugar de rabino é na Sinagoga e não na Catedral’.
Minha resposta veio espontaneamente: ‘General, vamos
fazer um acordo, o senhor não decide qual é o lugar de um rabino e eu não decido
onde o senhor vai estacionar seus tanques’. Ele me abraçou e foi embora, mas por
via das dúvidas, depois que saíram, liguei para a embaixada americana em
Brasília.”
Padre Julio forneceu dados do Serviço
Funerário Municipal, em que 845 pessoas foram sepultadas na condição de
indigentes em 2012. Em 2013, até a última semana de setembro, o número chegava a
551. Para o Padre, “é uma situação que continua
a mesma prática da ditadura, da vala comum. É o mesmo tratamento desumano dado a
essas pessoas [em situação de rua], a quem foi negada a cidadania na vida e
também na morte”.
Minha fé é política porque ela não suporta separação
entre o corpo de Jesus e o corpo de um irmão.
Minha fé é política
porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda
solidária
Minha fé é política
porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder de
diferença.
Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São
Paulo
A partir de Jesus Cristo
em busca do bem comum
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