Indígenas são alvo de discurso preconceituoso em universidades

Foto: Elaine Jardim
Não existem privilégios, mas direitos adquiridos com muita luta pelos segmentos sociais historicamente excluídos
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Indígenas de diversas etnias do país vêm ocupando gradativamente as cadeiras de cursos para o ensino superior e as cotas são importantíssimas para garantir o direito do indígena a uma formação profissional, já que em muitas aldeias não existem escolas de ensino fundamental muito menos de ensino médio e as aulas acontecem em salas improvisadas.
Na região do Oeste do Pará por exemplo, o ensino médio para indígena é feito pelo Some (Sistema de Organização Modular de Ensino), que, por sinal, sofre grandes ameaças, pois o governo do Estado vem tentando implantar vídeo-aulas e tirar o professor da sala. Sem falar na questão da falta de material didático para alunos que não têm o domínio da Língua Portuguesa. Portanto, um aluno indígena estará sempre em desvantagem ao concorrer a uma vaga com um aluno não indígena que estudou em escolas regulares nas cidades. Aqueles que são a favor do fim das cotas, devem pensar primeiro em cobrar um ensino regular de qualidade para todos.

Uirá Tapuia (Foto: Arquivo pessoal)
A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), criada em 2009, é a primeira instituição federal de ensino superior com sede num dos pontos mais estratégicos da Amazônia, no município de Santarém, e é fruto de um acordo de cooperação técnica firmado entre o Ministério da Educação (MEC) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), no qual se prevê a ampliação do ensino superior na região amazônica. É a universidade da América latina que possui o maior número de indígenas, atualmente lá estudam 533 alunos de diferentes etnias.
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Com o anúncio de cortes no orçamento das universidades federais feito pelo governo Bolsonaro, os alunos indígenas já estão sendo atingidos diretamente. Na Ufopa, por exemplo, a reitoria já comunicou que a bolsa de 510 reais cairá para 100 reais. O Dain (Diretório Acadêmico Indígena) tem feito diversas reuniões para negociar e impedir a redução drástica do valor do auxílio.
Jorge Wai Wai por exemplo, acadêmico de biologia, é da aldeia Mapuera, município de Oriximiná, distante quatro dias de viagem de Santarém e gasta em média 1.100 reais só de passagem para visitar sua aldeia. Ele optou por trazer sua família, esposa e três filhos, para morar com ele na cidade, pois não tem condições financeiras para visitar a família nas férias. Jorge e a esposa, que não fala português, fazem artesanato e vendem na universidade para ajudar na renda da família. Sem a bolsa, Jorge e vários outros alunos correm o risco de ter que voltar para as aldeias sem concluir o ensino superior.
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