Entusiastas da reforma da Previdência fazem promessa sem garantias

A reforma da Previdência precisa ser mais leve e gradual. Parte de um planejamento fiscal que o mercado precisa acreditar e aceitar
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Com a população envelhecendo, as regras previdenciárias precisam de alguns ajustes. O problema é que a proposta do governo é conseguir quase toda a economia em cortes no RGPS. De início, para avaliarmos as condições de nosso sistema previdenciário, devemos separar o RGPS, o regime geral de previdência social para os trabalhadores da iniciativa privada, dos RPPS, regimes próprios de previdência social, para os servidores públicos. São contextos muito diversos.
Um total de 83,4% dos benefícios do RGPS são de menos de dois salários-mínimos. Por isso, eles têm uma natureza também de política social. Em grande parte dos casos, são a maior fonte de renda de toda a família. Também estão entre as principais fontes de renda de grande parte das pequenas cidades. Quando se reduz os valores desses benefícios, inclusive dos assistenciais, ou se adia a sua concessão, aumentando a idade mínima para a aposentadoria, uma legião de pessoas mais vulneráveis são penalizadas. O efeito se propaga com a redução que causa nas vendas: o comércio não fatura, a indústria não fatura, ambos desempregarão trabalhadores.
A
proposta do regime de capitalização para a Previdência Social chega a
ser ainda mais aberrante. Suprime o atual financiamento tripartite,
determinado em nossa Constituição, vedando expressamente a participação
do Estado, e eliminando, em seus pronunciamentos, a contribuição
patronal. De acordo com cálculos da Unafisco – Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, com a contribuição
apenas do empregado a sua aposentadoria poderá cair para algo entre um
terço e um quinto de seu salário na ativa, a depender das taxas que
remunerarão os bancos gestores. Esses resultados são para os que
conseguirem atingir os 35 anos de contribuição. Grande parte passa por
longos períodos de desemprego ou no setor informal. Uma aposentadoria
igual ao ganho na ativa, para todos os trabalhadores, não seria
alcançada nem com a participação patronal nos níveis atuais. Depende da
manutenção do financiamento do Estado.Os RPPS, por sua vez, não têm natureza social, ao menos de grandes dimensões. Por isso, podemos nos concentrar mais em questões atuariais – se o montante de contribuições previdenciárias de empregados, empregadores e Estado cobre as aposentadorias nos valores concedidos. Claro que, como os servidores públicos não têm FGTS, há que se imputar esses valores em simulações. Mesmo assim, muitos servidores não terão aposentadoria com consistência atuarial. Vão colher o que não plantaram. Para esses – e a maior inconsistência está na dos militares – pode-se e deve-se fazer alguns ajustes.
A reforma da Previdência precisa ser mais leve e gradual. Parte de um planejamento fiscal que o mercado precisa acreditar e aceitar, por ser o possível para um crescimento inclusivo, sem aumento das desigualdades. Possivelmente o aumento da confiança tenha seu peso, mas pode não ser suficiente para provocar a retomada de um crescimento mais robusto. Assim, esse planejamento fiscal precisaria incluir também algum aumento nos investimentos públicos em infraestrutura, sobretudo para gerar a demanda necessária para reanimar a economia. São indispensáveis, ainda, parcerias público-privadas para infraestrutura e outros investimentos.
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