Estamos condenados a nos afastar do desenvolvimento?

EBC
Produzir riqueza é uma incongruência tratando-se, como é o caso, de um governo retracionista
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O recesso político faz-se acompanhar de uma política econômica retracionista, antinacional, antipovo, segregacionista, concentracionista. A necessidade do desenvolvimento acelerado, pois a pobreza é raiz de todos os nossos problemas, econômicos, sociais e políticos, deu lugar à busca dogmática pelo equilíbrio fiscal, elevado à condição de fim em si, artigo de fé que dispensa demonstração, sonho de acadêmicos e tecnocratas treinados nas agências financeiras internacionais.
Se o País vai mal, se o povo vai mal, se o desemprego se acelera, se a universidade é asfixiada, se o desenvolvimento científico e tecnológico – de que depende nosso futuro – é condenado às calendas gregas, isso tudo não passa de ‘detalhe’, como nos dizia em tempos passados madame Zélia Cardoso de Mello, ou quando, muito antes dela, e inumeráveis vezes mais ilustre e por isso mesmo incontáveis vezes mais pernicioso, Eugênio Gudin combatia nossa industrialização, os investimentos estatais e, de particular, nossa autonomia na produção de petróleo, renúncia lesa-pátria que o governo do capitão recupera.
O PIB para 2019, que em janeiro foi calculado em 2,53% (já muito pequeno), tem sua estimativa reduzida para 1,1% (projeção do Banco Itaú que se pode ler também nas entrelinhas da Ata do Copom do dia 14), assinalando três anos consecutivos de estagnação. E não há qualquer expectativa de recuperação no médio prazo, o que se reflete nos índices de insegurança econômica apurados pela pesquisa IBRE/FGV, os quais, em abril, atingiram 117 pontos, o mais alto indicador desde novembro de 2018. A panaceia da ‘reforma’ da Previdência – o cantochão do mercado tonitruado em uníssono pela grande imprensa – só oferecerá resultados, quaisquer que sejam, no médio e no longo prazos, para quando são adiados os milagres.
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No plano interno é grave a renitente crise da indústria, setor caracterizado pelo maior emprego de mão de obra formal, cuja produção recuou 2,2% e cujo faturamento caiu 4,1% comparado com os resultados do último trimestre de 2018, carregando consigo o baixo desempenho do setor de serviços – responsável por 70% do PIB! – que despencou 0,7%. É o terceiro mês em queda. O setor de mineração, atingido por tragédias criminosas, é outro em crise, e apresenta, no primeiro trimestre, uma queda de 7,5%. De um modo geral o faturamento industrial recuou 6,3% em março com relação a fevereiro, as horas trabalhadas caíram 1,5%, a massa real de salários caiu 0,8% e a utilização da capacidade instalada recuou 0,9%. A indústria sofre com a ausência de demanda, o primeiro efeito da estagnação.
Em depoimento da Câmara dos Deputados, ainda nesta terça 14, o “Posto Ipiranga” declara que o País ‘está no fundo do poço’.
Nada obstante a obsessão dos Chicago boys com o déficit primário, o
rombo das contas públicas – 21,1 bilhões de reais – é o segundo pior
para março, desde 1997. Nos últimos 12 messes o déficit chegou a 118,6
bilhões. E a arrecadação continua serra abaixo, e em queda deve
permanecer, pois este é o lado inafastável da recessão.
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Termômetro dessa insegurança, caem as bolsas de todo o mundo e aqui a queda do índice Bovespa se faz acompanhar da alta do dólar. Como responde o governo? Anunciando novos cortes (mais dez bilhões de reais), novos contingenciamentos, menos investimentos, ou seja, mais recessão, menos produção, menos emprego, menor arrecadação…
A lógica do governo se encerra num máximo de abertura comercial e liberação econômica associadas a um programa de privatizações liberal para atrair o investimento estrangeiro, a panaceia com a qual nos apontam o ministério da Economia e os analistas dos grandes bancos.
Faltou, porém, combinar com Wall Street. No rol dos 25 países preferidos dos investidores (Índice Global de Confiança para Investimentos Estrangeiros, elaborado pela consultoria A.T. Kearney), o Brasil sequer é mencionado.
O quadro do descalabro da economia nacional, acrescido da percepção da queda de sua popularidade, aumenta a paranoia do capitão, hoje certamente muito preocupado com o cerco que o Ministério Público do RJ começa a costurar em torno do ainda senador Flávio Bolsonaro, acusado de ligações com as milícias fluminenses e o crime organizado, quando já não são poucas as turbulências em suas hostes, acicatadas pela truculência escatológica do astrólogo.
- O pagador de promessas: o capitão anuncia que, grato, cumprirá o trato com o ex-juiz Sérgio Moro, indicando-o para a primeira vaga que se abrir no STF.
- O partido da farda. Diz o Estadão (29/4/2019): “a ordem entre os militares é evitar disputas estéreis e se lembrar sempre de quem é o inimigo comum: a esquerda e o PT”. Pode?
- A pergunta que não pode calar: quem mandou matar Marielle Franco?
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