Prisão do Lula é o novo AI-5
Cruvinel disseca os passos da ditadura em curso
publicado
16/10/2016

Prisão de Lula será AI-5 de nova ditadura
Por Tereza Cruvinel
Não existindo hoje qualquer base
jurídica para uma prisão do ex-presidente Lula nas próximas horas, se
confirmada a intensa boataria da noite desta sexta-feira, estará
consumada, sem disfarces, a ruptura com o Estado de Direito e o mergulho
na ditadura. Uma postagem de Eduardo Guimarães em seu “Blog da
Cidadania” deixou em estado de alerta o vasto campo lulista, que
ultrapassa as fronteiras do PT. Guimarães afirmou ter ouvido de fonte
segura e fidedigna que a prisão de Lula já está decidida, podendo
acontecer na segunda-feira ou em dias seguintes, com espetaculoso
aparato e cobertura da mídia, que já estaria preparada para a
eventualidade.
A postagem, compartilhada através de
redes sociais, alimentou debates apreensivos sobre o que deveria ser
feito: uma forte ação de resistência que já estaria sendo organizada
pelos movimentos sociais, ou deveria Lula se exilar? Eduardo Guimarães
reproduziu os argumentos que estariam justificando a prisão de Lula
agora, logo depois do acolhimento de três denúncias contra ele: uma por
Sergio Moro e duas por um juiz federal de Brasília. Neste momento, a
população ainda está com muito ódio do PT, o que dificultará qualquer
reação mais forte à eventual prisão. Depois, ainda não sentiu os efeitos
nefastos do ajuste fiscal de Michel Temer, que virão com a aprovação da
PEC do teto de gastos e as reformas previdenciária e trabalhista.
Quando a população começar a ser
castigada por estas medidas, cairá na real, vai se sentir lograda pelo
golpe e pelo governo que derrubou o PT, passando a ver em Lula o
candidato redentor em 2018. Por isso, seria preciso acelerar o processo
para torná-lo inelegível. Moro o mandaria prender preventivamente agora e
o condenaria num prazo bem curto, de modo que o julgamento em segunda
instância ocorra ainda nos primeiros meses do ano que vem. Condenado,
Lula continuaria preso, como manda a interpretação do STF, e já estaria
inelegível para 2018.
A inelegibilidade de Lula é o que
realmente importa para a coalizão no poder, composta por PMDB, PSDB e
DEM, além dos partidos satélites. Eles não “fizeram o diabo”, deram um
golpe, afastaram uma presidente eleita e estão implementando uma agenda
ultra-conservadora para deixarem Lula ressurgir como candidato em 2018.
Para manter as aparências do Estado de Direito, a prisão seria até
nociva. A inelegibilidade já resolveria o problema de deixar a esquerda
praticamente alijada da disputa, facilitando a eleição de um candidato
da coalizão golpista. No PT, o deputado Paulo Pimenta é cético em
relação à possível prisão agora:
- Uma prisão de Lula, sem base
jurídica, será a consumação indiscutível do Estado de Exceção e negação
escancarada do Estado de Direito. A Lei não pode ser manipulada para
servir de arma contra um cidadão só porque alguns agentes do Estado o
elegeram como inimigo político número um.
Mas alguns sinais estão no ar,
corroborando a hipótese de Eduardo Guimarães. O acolhimento das
denúncias em serie pode ter sido usado como tática para medir eventuais
reações a uma prisão. Fernando Henrique, certamente muito bem informado,
resolveu dizer que lamenta uma eventual prisão de Lula mas que “a
decisão é da Justiça”. A mídia tem procurado os movimentos sociais para
saber se, em caso de prisão, haverá reação. A CUT e o MST têm dito que
sim. Haveria até um plano para invadir a carceragem de Moro e tirar Lula
de lá.
A Lava Jato, como já aprendemos, gosta
de datas simbólicas. Há quem pense que a prisão pode estar sendo
preparada para o dia 27, data do aniversário de Lula. Seria muito
maldade mas coisas parecidas já foram feitas contra o PT: ações
espetaculares em datas especiais, como o aniversário do partido.
E o exílio? Muita gente acha que Lula,
já tendo levado seu caso à apreciação da Comissão de Direitos Humanos da
ONU, deveria pedir asilo numa embaixada antes que seja tarde. Para o
Brasil, diante do mundo, seria um desgaste, uma vergonha. Pois ainda que
não seja agora, Lula acabará sendo julgado e preso. Sua defesa tem
denunciado que ele é vítima de “low fare”, a tática de torcer a lei para
atingir o inimigo público, não importando os fundamentos da acusação.
Seria uma denúncia grave numa democracia, numa sociedade sadia, que
ainda se preocupasse com a efetiva aplicação da Justiça. Não aqui, nesta
terra devastada pela mistura entre o ressentimento da maioria com os
políticos em geral, o disseminado pelo anti-petismo e a determinação de
um grupo em conservar o poder que conquistou pelo golpe parlamentar.
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