Janio: Moro quer tudo!
Lava Jato perdeu o controle das delações, né Serra? - PHA
publicado
30/10/2016

O Conversa Afiada reproduz a coluna de Janio de Freitas na Fel-lha:
Confronto entre Congresso e Judiciário ainda deve se agravar
O confronto entre Judiciário e
Congresso está destinado a agravar-se, sem que pareça possível levar a
algo positivo, de qualquer ponto de vista. O incidente que incluiu Renan
Calheiros não foi ocasional, fez parte da tensão entre as duas
instituições. Mas não é a causa do agravamento previsível e ameaçador.
Nos dias que precediam o incidente,
Sergio Moro deu várias estocadas no Congresso. Como sempre, não falou só
por si. Chegou mesmo a um mal disfarçado ultimato. Não foi em
entrevista ligeira, pouco pensada. Foi na Assembleia Legislativa do
Paraná que concitou o Congresso a "mostrar de que lado se encontra nesta
questão" –a corrupção.
Quatro dias antes, Moro dirigia-se a
juízes e servidores do Paraná ao dizer que, se aprovado o projeto contra
abuso de autoridade (não só de magistrados), a decisão do Congresso
"vai ser um atentado à independência da magistratura". Tidas mais como
provocações do que defesa de ideias, as investidas de Moro têm
exacerbado irritações, no Congresso, a ponto do senador Aloysio Nunes
Ferreira, do PSDB a serviço de Temer como líder do governo, dizer que
"Moro se considera o superego da República".
O juiz de primeira instância que se
sobrepôs ao Supremo Tribunal Federal e ordenou a ação policial no Senado
agiu, no mínimo, sob influência da autovalorização que juízes e
procuradores fazem, no caso combinada com o desprestígio do Congresso.
Fez útil demonstração para aferir-se o ponto em que está a desarmonia
funcional e institucional de Judiciário e Congresso. Como antecipado
pela própria presidente do Supremo, com a reafirmação do radicalismo
corporativo exposto, para muitos pasmos, já no discurso de posse.
É nesse ambiente que os congressistas
estão para injetar dois excitantes poderosos. São os processos de
votação, com as discussões preliminares e emendas, do projeto contra
abuso de autoridade, proposto pelo Senado; e do projeto de pretensas
medidas de combate à corrupção, de iniciativa da Lava Jato e complacente
com abusos de autoritarismo.
Moro dá a entender que pode admitir
alguma emenda nos dez pontos originários do seu grupo. Mas Deltan
Dalagnol dá o tom da exigência beligerante: as dez medidas devem ser
"aprovadas em sua totalidade". Explica: "Para trazer para o Brasil o que
existe em países que são os berços da democracia mundial". Mas não
explicou o que é isso –democracia mundial.
Democracia alguma tem leis que permitam
práticas abusivas de policiais, procuradores e juízes se feitas com
"boas intenções", como quer o projeto da Lava Jato. Muitas "democracias"
têm CIA, M-15, M-16, Mossad; outros têm NKVDs variados. Por aqui já
tivemos DOI-Codi, SNI, esquadrões da morte oficializados. Todos esses na
criminalidade inconfessa como parte da hipocrisia "democrática", e não
de imoralidade legal.
Tudo indica que os dois projetos
recebam emendas que lhes excluam fugas ostensivas e autoritarismos
covardes. Para obter o que quer, porém, a Lava Jato não pôde evitar
alguma perda de controle das delações. E isso muda a divisão de forças
na Câmara e no Senado, em vários aspectos. Um deles, referente ao
Judiciário, à Lava Jato e a determinadas legislações. A propósito, já se
leu ou viu que Romero Jucá fez escola com sua convocação para "acabar
com essa sangria" de tantas delações.
De outra parte, tudo indica que os
contrariados pelas emendas, frustrados nesse capítulo dos seus planos
tão pouco ou nada brasileiros, adotem formas de acirrar as tensões e os
enfrentamentos, como réplica ao Congresso. E o façam de acordo com as
liberdades extremadas e as prepotências que se permitem.
Perspectivas, portanto, que não fogem à regra do Brasil atual. Quando o que é dado como favorável é infundado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário