PHA defende a frente ampla
Um ônibus cheio de progressistas para enfrentar o Golpe
publicado
15/10/2016

Archer (E) uniu Jango e Lacerda (D), ex-inimigos, contra os militares
Via Fazendo Media:
“Esse modelo deles é tipicamente neoliberal, vai destruir a
economia brasileira para poder vendê-la barato”, diz Paulo Henrique
Amorim
Paulo Henrique Amorim é jornalista com um currículo notório e extenso. Iniciou sua carreira em 1961, no jornal A noite. Foi repórter e correspondente internacional da revista Realidade e em seguida da revista Veja. Trabalhou também nas emissoras, Rede Globo, Manchete, Bandeirantes. Atualmente, além de apresentador do programa Domingo Espetacular, naRede Record, dirige o blog Conversa Afiada.
Com a simpatia e o estilo que lhe são
peculiares, o jornalista concedeu uma breve entrevista ao Fazendo Media,
antes do debate entre ele e o também jornalista Mino Carta, da Revista CartaCapital, que ocorreu no último dia 6, na Praça São Salvador, no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro.
Durante a conversa, ele defendeu uma
frente ampla com diversos setores da sociedade, em contraposição ao
modelo de cortes de direitos imposto pelo grupo que assumiu o poder por
meio de um golpe.
A entrega do Pré-sal está
praticamente consolidada. Fica faltando tornar o Lula inelegível e
colocar um tucano na presidência. Alguma coisa pode mudar esse cenário?
Em primeiro lugar, essa questão do
pré-sal é preciso, talvez, abrir a possibilidade, que é remota, de uma
resistência de parte dos trabalhadores da Petrobras, porque outra parte é
completamente tucanizada. É uma classe média próspera, criada numa
empresa estatal e que hoje talvez prefira ser empregada da Shell e da
Chevron. Mas, na outra parte são operários, trabalhadores, especialmente
o pessoal embarcado nas plataformas, e não sei se eles vão ter
capacidade de resistir.
Falta outro ingrediente, que você não
mencionou que é botar o Lula na cadeia. Mas tudo isso tem que combinar
também com os russos, com o povo, porque é bem provável que esse governo
provoque um afundamento da crise econômica. Esse modelo deles é
tipicamente neoliberal, vai destruir a economia brasileira para poder
vendê-la barato. Isso talvez provoque algum tipo de reação popular. Tem
muita água ainda pra correr debaixo da ponte, portanto, eu não seria tão
fatalista quanto você parece ser.
Tem faltado ação por parte dos
partidos e movimentos de esquerda para barrar essas ações antipopulares?
Existe um sentimento de culpa nisso?
Não sei se eles já têm, se
freudianamente já elaboraram essa culpa, se já fizeram uma autoanálise e
chegaram à conclusão de que erraram muito. Erraram, sobretudo porque
perderam o contato com o povo. Não fizeram aquilo que se chama de contra
narrativa, ou seja, expor outros argumentos. E acabou prevalecendo o
pensamento e ideologia dos conservadores. Acho que os partidos estão
desnorteados, mas acredito que será possível a construção de uma frente
ampla que reúna do centro à esquerda. É importante não perder o centro.
Escrevi um artigo no Conversa Afiada recentemente sobre isso, de que a
esquerda não pode abandonar o centro. Construo ali uma resposta para o
Brasil.
Pegando um gancho nesta
análise, a esquerda tem apontado o PMDB como um grande inimigo. O PMDB é
realmente o nosso maior inimigo?
Não, o nosso maior inimigo é a Casa
Grande. O PMDB não teve alternativa. Teve que ir todo para a direita,
mas é possível que exista um PMDB que não teria ido para a direita se a
Dilma e o PT tivessem sabido trabalhar melhor. Temos que levar em conta
que existem progressistas em diversos lugares, e é possível que existam
alguns com potencial progressista inclusive no PMDB. O adversário não é o
PMDB, o adversário são os interesses empresariais, americanos,
antibrasileiros e aqueles que, usando uma terminologia do Mino Carta, estão na Casa Grande.
O PSOL está com um grupo forte e
conciso no Rio. No Maranhão, Flavio Dino está fazendo um excelente
governo com o PCdoB. Haddad, mesmo com a derrota vem demonstrando
extrema maturidade. No centro, Ciro Gomes. Qual dessas forças teria condições de chegar ao poder?
Tem uma frente ampla a ser construída, e
todos que você mencionou podem fazer parte dela. Mas um nome é muito
difícil apontar. Mais fácil eu acertar na mega sena (risos). Seria como
um ônibus para enfrentar esse golpe sem prescindir de todas as forças
progressistas, que não apitam a Casa Grande. Digo isso porque me lembro
num certo momento do governo militar, sob a articulação do Renato
Archer, que era um conservador, um homem de centro para a direita, do
Maranhão, que foi progredindo para a esquerda e foi construindo uma nova
posição política. Ele permitiu aproximar Lacerda, Juscelino e o Jango
para enfrentar o regime militar. Era uma articulação tão interessante,
com uma viabilidade tão plausível, que a Operação Condor matou os três.
Só não matou o [Leonel] Brizola e o [Miguel] Arraes porque eles souberam
se proteger. É claro que não se pode refazer situações históricas. Não
quero fazer aqui esse reducionismo, mas penso num ônibus, expressão
utilizada pelo doutor Ulysses [Guimarães] para criar o MDB e sair da
ditadura, e nele colocar desde a extrema esquerda até a centro-direita e
levar os militares para fora do poder. Aí, lá na frente a gente vê quem
ganha, quem é que vai dirigir o ônibus. Talvez eu tenha uma visão
romântica ou conservadora do problema, mas como diz a professora Maria
da Conceição Tavares, “de derrota em derrota chegaremos à vitória”.
Abaixo, trechos do conteúdo captados durante a fala do jornalista no debate.
“A crise econômica é inevitável, e daqui a pouco o trabalhador vai começar a sentir no bolso a profundidade da crise instalada.”
A alternativa carbonária é longínqua, e
a marcha do golpe é acelerada. Um dos ingredientes da marcha do golpe
será a aprovação inevitável das medidas econômicas neoliberais que vão
aprofundar a crise econômica. Ao contrário do que diz a literatura
vigente, não se sai de uma crise com mais cortes, com a supressão e
estancamento do investimento público. Eles pressupõem, acreditam que
acabando com o investimento público ele será substituído pelo
investimento privado e estrangeiro. E os estrangeiros virão para tomar a
Petrobras. A crise econômica é inevitável, e daqui a pouco o
trabalhador vai começar a sentir no bolso a profundidade da crise
instalada. Ele agora está vivendo da poupança, fazendo um acordozinho
meia bomba com o patrão, como acabaram de fazer os bancários, que é uma
vitória relativa. Então daqui a pouco vão sentir na pele o tamanho do
golpe, e aí é possível que haja uma reação que possa para 2018 construir
um amplo espectro político que conduza as eleições sob a regência e
batuta do Lula. O próximo presidente da república será o Lula ou quem
ele apoiar.
Esse meu raciocínio pode dar com os
burros n`água, porque é possível e quase provável que a Casa Grande
descubra que o Temer não vai entregar a mercadoria. Que ele não tem
força suficiente para fazer o que a Casa Grande quer, que é rasgar a CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho). Aí, a Casa Grande é capaz de dizer
para o Gilmar Mendes para condenar o Temer na Justiça Eleitoral e, em
2017, com sua condenação o Congresso elege de forma indireta um
presidente da República, que pode ser um Fernando Henrique Cardoso.
Então, toda essa minha construção do ônibus está submetida à
possibilidade de um golpe em 2017 e com isso haja uma mudança total da
regra do jogo: não ter eleição em 2018, instalação de um regime
parlamentarista, voto distrital, e por aí vai. Então toda essa
engenharia pode estar equivocada por esse golpe dentro do golpe.
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