sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

 

É inaceitável mais esse golpe no apagar das luzes


Os vinte e poucos dias que ainda separam o fim do trágico governo de Jair Bolsonaro da posse de Lula parecem intermináveis. A Copa do Mundo tem sido, dentro de campo, uma válvula de escape para muitos — mesmo que fora de campo o país sede, Qatar, tenha produzido cenas lamentáveis de censura e violações de direitos.

Mas distrações esportivas à parte, é preciso ficar alerta aos estragos em curso nesta reta final de governo.

Numa semana em que o senado aprovou a PEC da Transição, que agora vai para Câmara, em que o STF começou a julgar as ações que pedem o fim das emendas de relator (RP9) = orçamento secreto = Bolsolão = corrupção, que já foi tema desta newsletter, vimos uma mulher ser agredida na Câmara dos Deputados por ser contra o retrógrado e perigoso Estatuto do Nascituro. O autor da violência é um bolsonarista golpista, como revelaram nossas repórteres Mariama Correia e Nathallia Fonseca. 

Além disso, outro tema precisa de solução urgente: os cortes de verbas do MEC e sua desesperadora reação em cadeia. 

Os bloqueios bilionários de verbas serviriam para atender ao teto de gastos, que vem servindo mais a punir trabalhadores do que a disciplinar a trajetória fiscal do país.

Essa asfixia orçamentária do MEC afeta em cheio os salários de médicos residentes de hospitais federais e de milhares de bolsistas da Capes que estão sem receber há dias.

Como explicou em seu twitter a biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, "sem o pagamento da bolsa, muitos pós-graduandos não terão como pagar aluguel, transporte, comida. Sim, tem gente que depende INTEIRAMENTE de um valor que não é reajustado há décadas, que requer dedicação exclusiva e é sua única fonte de renda". 

Ao conversar com outras fontes, fui alertado: "É preciso mencionar também que além da Capes milhares de funcionários terceirizados das universidades podem ficar sem receber salário também no fim de ano. Galera da segurança, limpeza, recepção etc".  

A Universidade Federal de Uberlândia, por exemplo, disse em comunicado: “Chegamos a uma situação absolutamente inaceitável, injusta e incompatível à gestão pública”. A universidade afirmou que tem R$ 71 em conta — isso mesmo, 71 reais — disponíveis para realizar pagamentos. 

A Unifesp em São Paulo vai na mesma linha: "a situação é gravíssima, pois afeta o funcionamento básico da universidade e, acima de tudo, a sobrevivência de centenas de pessoas e famílias que de alguma forma se relacionam com a instituição, sejam estudantes ou trabalhadores(as) terceirizados(as)". 

A situação toda é uma consequência nefasta deste governo que trata a educação com viés ideológico. Ainda em 2018, Bolsonaro prometeu que ao ser presidente iria “entrar com um lança-chamas no MEC” e “tirar o Paulo Freire lá de dentro”. 

Representantes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) se reuniram com o ministro da Casa Civil nesta semana para avaliar saídas para o bloqueio de orçamento. 

Também o ministro Dias Toffoli, do STF, deu 72 horas para o governo explicar porque está inviabilizando o fim de ano de toda a rede de universidades federais.  Sob pressão, o Ministro da Educação garantiu ontem que vai pagar tudo até o dia 13 de dezembro.

O objetivo, até o último momento, é criar pânico e devastar a educação pública brasileira e seus trabalhadores. É inaceitável mais esse golpe no apagar das luzes.



Thiago Domenici
Diretor e editor da Agência Pública

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