sábado, 8 de fevereiro de 2020

Ensaios de André Lara Resende criticam visão dominante da teoria econômica

Economista diz que, sem inflação e sem dívida externa, o país está “preso a uma armadilha ideológica imposta pelos cânones de uma teoria macroeconômica anacrônica”
O economista André Lara Resende. Foto: Reprodução
Jornal GGN – O economista André Lara Resende lançou um livro onde reúne seus artigos publicados no jornal Valor Econômico ao longo dos últimos anos. Seu material tem sido alvo de reações por parte de outros economistas devido às suas críticas à política de juros e à teoria macroeconômica que predomina nos debates brasileiros.
“Interpreto isso como sinal de que tocaram num ponto nevrálgico”, diz Lara Resende, em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, ressaltando que a economia brasileira permanece estagnada depois de dois anos de profunda recessão.
“Enquanto a renda da China é hoje 18 vezes o que era há 40 anos, a brasileira não chega ao dobro do que era em 1979. A distância entre o Brasil e os países avançados não se reduziu. Pelo contrário, aumentou. Não foi possível superar o fosso que separa o Brasil rico e moderno do Brasil onde impera a miséria e a desesperança. Sem inflação e sem dívida externa, o país está paralisado, preso a uma armadilha ideológica imposta pelos cânones de uma teoria macroeconômica anacrônica”, pontua o economista.
Chamado “Consenso e Contrassenso: Por uma Economia Não Dogmática”, o novo livro de Lara Resende foi lançado pela editora Portfolio-Penguin, e o economista relembra sua trajetória como pesquisador e investidor, além de abordar sua participação dos planos Cruzado e Real e na renegociação da dívida externa.
O economista se mostra crítico à política de juros adotada pelo país desde 1994, explicando que a taxa Selic elevada não contribuiu para segurar a inflação e ainda teve impacto na dívida pública e no baixo crescimento. Assim, a recente redução dos juros pelo Banco Central é vista como uma correção de rumos, embora tardia.
André Lara Resende também lamenta que a macroeconomia tenha virado uma “área menor da matemática aplicada”, por não incorporar problemas de ordem social e política em suas análises. “Levada ao paroxismo, a macroeconomia hoje ensinada aos alunos de doutorado nas principais universidades americanas, que ainda servem de referência acadêmica, perdeu toda a capacidade de representar a realidade complexa das questões econômicas que são indissociáveis de suas dimensões psicológicas, políticas e sociais. Tornou-se, de fato, uma área menor da matemática aplicada”, pontua.

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