Cassação Temer: Benjamin confronta Gilmar com sua própria decisão de 2015
qua, 07/06/2017 - 16:56
Atualizado em 07/06/2017 - 18:20
Relator leu diversos trechos de decisão de Gilmar, quando Dilma
era presidente, que hoje servem como jurisprudência contra o próprio
movimento que está prestes a tomar em favor de Temer
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Jornal GGN - Durante a retomada do julgamento
contra a chapa Dilma e Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em
tom quase pacífico e sabendo que a posição do ministro Gilmar Mendes
seria pela absolvição do presidente com o argumento de que novos
indícios e provas não podem ser acrescentados após o início da ação, o
relator Herman Benjamin usou declarações do próprio Gilmar. Os dois
ministros trocaram farpas e ironias.
O contexto da situação de agora é que em 2015 foi Gilmar Mendes
relator do processo de impugnação das contas da campanha da então
presidente Dilma Rousseff, com o seu vice Michel Temer. Foi ele, Gilmar,
que impediu o arquivamento da ação apresentada pelo PSDB, e que hoje
ameaça o próprio mandatário peemedebista.
Nessa linha, Herman Benjamin fez uma leitura oral diante de todos
os ministros do TSE de um agravo de Gilmar apresentado há dois anos, no
mesmo processo. Enquanto relator da prestação de contas da chapa, o
ministro votou favorável ao prosseguimento da investigação quando a
então ministra Maria Thereza de Assis Moura, antiga relatora, havia
arquivado o caso.
Entre os trechos de uma decisão do próprio Gilmar, hoje usadas por
Benjamin como críticas a ele e aos ministros que tentarão usar a
justificativa das novas provas com as delações da Odebrecht para anular
todo o processo, o relator lembrou quando o ministro quis incluir na
investigação as acusações do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto
Costa.
"Há dados fortes [de irregularidades] e vamos ignorar isso na
ação?", questionava Gilmar, em 2015, e repetiu hoje pela manhã Herman
Benjamin. O relator seguiu na leitura de vários trechos do ministro que
servem como uma jurisprudência contra o próprio movimento que está
prestes a tomar.
Lembrou da "proibição clara" de recursos ilícitos em campanhas
eleitorais e que o que foi decidido anteriormente não pode mais ser
modificado. A reação de Gilmar foi controversa. Por ora, usou tons de
ironias para atacar Herman, por outras vezes interrompia para mudar
completamente o tema.
Quando foi citado o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa,
Gilmar disse que o investigado foi premiado pela Operação Lava Jato e,
em uma tentativa de negar que as afirmações do passado contradizem com
sua atual postura, começou a criticar o PT.
Seguiu interrompendo e começou a defender mudanças no sistema
eleitoral. Voltando novamente os holofotes para si, recordou que não
votou pelo financiamento público de campanha no Supremo Tribunal Federal
(STF) e acusou o PT de aparentemente não querer o dinheiro privado de
campanhas: porque já havia guardado montantes desviados para as próximas
eleições.
"Às vezes o que a gente fala vira profecia e acontece", disse,
recordando as suas declarações de 2015 contra o PT. E foi além na
acusação: "Alguém acredita que não houve caixa dois" na eleição de 2016?
Quando as doações por empresas privadas já estavam proibidas pela
minirreforma eleitoral.
Por diversas vezes, Herman Benjamin teve que interromper as
explanações de Gilmar caracterizando-as como "encantamentos", e dava
sequência à leitura das manifestações do presidente do TSE no passado.
Notando que as escolhas de Herman Benjamin tinham como objetivo
afrontar as controversas adotadas agora por ele, Gilmar disse que essa
ação "só existe graças ao meu empenho, modéstia às favas", provocou.
Disse, em ironia, que Benjamin devia a ele estar "brilhando na televisão
no Brasil todo".
"Vossa excelência sabe que eu prefiro o anonimato, muito mais. Um
juiz dedicado a seus processos, que não tem nenhum glamour. Aliás,
processo em que se discute condenação de A, B, C ou D, em qualquer
natureza, não tem e não deve ter nenhum glamour pessoal", retrucou
Benjamin.
O ministro presidente da Corte seguiu com as provocações, disse que
o ministro não é relator por escolha própria, mas por ser o ministro do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) mais antigo do TSE. "Não escolhi ser
relator, preferia não ter sido relator, mas tentei cumprir, só cumpri o
que foi deliberação do tribunal", respondeu Herman.
"De fato, contribuí, evitei que houvesse o arquivamento dessa ação e
contribuí para o aprimoramento do sistema. Todo esse debate que estamos
tendo, modéstia às favas, é graças a essa insistência. Claro que contei
com a solidariedade dos colegas, mas não tivesse eu levantado o debate,
muito provavelmente, teríamos chancelado, como chancelamos muitos
agravos regimentais no sentido do desprovimento. Portanto, modéstia às
favas, mais uma vez, esse é um voto histórico, que permitiu que se
abrisse essa caixa de segredos", ocupou, mais uma vez, Gilmar o espaço
no julgamento
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