Denúncia
O jatinho de Eduardo Campos e a quadrilha
Os donos do avião usado por Eduardo Campos são acusados de lavagem de dinheiro
por Henrique Beirangê
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publicado
27/06/2016 16h51
Rene Moreira/Estadão Conteúdo

O mistério do Citation a serviço de Campos durou quase dois anos
Quase dois anos após a queda do avião, em Santos, que levou à morte Eduardo Campos,
candidato à Presidência em 2014, novas investigações apontam que a
aeronave integrava um esquema de empresas de fachada suspeitas de lavar
cerca de 600 milhões de reais. Na terça-feira 21, foram presos quatro
suspeitos, entre eles Eduardo Freire Bezerra e João Carlos Lira.
A apuração começou após a Polícia Federal
tentar identificar o verdadeiro dono da aeronave na qual Campos viajava
em companhia de outros seis passageiros, todos mortos no acidente. Ao
realizar a quebra de sigilo dos donos do avião modelo Cessna Citation,
os investigadores descobriram empresas que só existiam no papel para a
realização de operações de fachada.
Um dos investigados que continuava
foragido, Paulo César de Barros Morato, foi encontrado morto na
quarta-feira 22, em um motel na cidade de Olinda, Pernambuco. De acordo
com as apurações, Morato seria o sócio oculto da Câmara &
Vasconcelos, proprietária da aeronave. A PF não revelou a causa da
morte, mas não desconsidera a possibilidade de suicídio.
Segundo funcionários do motel, Morato
chegou sozinho ao local e seu corpo não possuía sinais de violência. O
Ministério Público Federal afirma que o empresário era o “verdadeiro
responsável pela empresa Câmara & Vasconcelos Locação e
Terraplenagem LTDA.”. e teria “aportado recursos para a compra da
aeronave PR-AFA (que caiu com Campos, em 2014) e recebido recursos
milionários provenientes de empresas de fachada utilizadas nos esquemas
de lavagem de dinheiro engendrados por Alberto Youssef, Rodrigo Morales e Roberto Trombeta, além de provenientes da construtora OAS”.
A apuração revelou uma vida luxuosa dos
proprietários do avião. Entre os bens estão helicópteros, lanchas,
carros importados e jet skis. Funcionários da Camargo Corrêa,
segundo a PF, teriam dito que Lira era o intermediário do recebimento
de propinas cujos destinos seriam as contas da campanha de Campos. O PSB
nega as acusações. A família do ex-candidato não se pronunciou.
Marina Silva, ex-senadora e
então vice na chapa de Campos, durante evento em São Paulo, na
terça-feira 21, criticou o “grande atraso na política” brasileira, mas
evitou manifestar-se a respeito das acusações de que sua chapa teria
recebido dinheiro do esquema criminoso.
A quadrilha, diz à PF, atuava desde 2010 e estaria ativa
até o dia da operação. Além da campanha de Campos e Marina, a
investigação apura que outros políticos teriam sido beneficiados com os
desvios. A Polícia Federal identificou uma série de movimentações
fraudadas para esconder dinheiro de propina, até mesmo uma peixaria
fantasma foi usada.
Os investigadores identificaram 16 transferências,
totalizando cerca de 1,7 milhão de reais, para pagar a aeronave. Por
meio de CPFs e CNPJs registrados em nome de laranjas chegou-se aos
verdadeiros donos do dinheiro. Uma das empresas de Bezerra recebeu 727
mil reais, enquanto uma de Lira embolsou 127 mil reais. As movimentações
serviam para ocultar a origem do dinheiro.
*Reportagem publicada originalmente na edição 907 de CartaCapital, com o título "O jatinho e a quadrilha"
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