Opinião
O pecado de Lula
Ele preocupou-se com o desequilíbrio social. Não foi muito longe, mas para os graúdos foi demais
Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Lula vai
recuar? Não. – Não há como mudar o destino do ex-presidente, a eleição
de 2018, após a reação dele à provocação promovida pelo maneiroso juiz
Moro.
Não se emenda mesmo essa fatia conservadora
da população brasileira, minoritária e radical, poderosa e intolerante,
com os governos comprometidos com políticas sociais capazes de diminuir
a distância, um enorme fosso entre os privilegiados moradores do “país
de cima” e os desconhecidos cidadãos do “país de baixo”, na metáfora
cantada em verso pelo poeta cearense Patativa do Assaré.
Lula paga o preço de ter diminuído, ainda que pouco, a distância social no Brasil.
Getúlio Vargas suicidou-se. João Goulart, deposto, morreu no exílio e Lula pode ir para a cadeia, como foi sinalizado com a “condução coercitiva” que atropelou a legalidade ao levar o ex-presidente a depor. Um show para a mídia propiciada pelo pernóstico e maneiroso juiz Sergio Moro. Moro é devoto do autoritarismo e hostil à democracia.
É a expressão clássica desse grupo que
tem demonstrado com muita impaciência sua disposição de golpear. Desta
vez, mesmo sem o apoio dos quartéis, sustentam ações marginais, como,
por exemplo, o golpe parlamentar com o objetivo de frear a continuidade
do quarto governo contínuo do Partido dos Trabalhadores.
Eles apenas toleraram as vitórias de
Lula. “Cansei”, diz agora um desses paspalhões, cujo ódio à democracia
os faz transformar o adversário em inimigo. Na condução forçada de Lula guarnecida por fuzis faltaram as algemas e, afinal, o pontapé sempre pronto a enfiar a vítima no camburão.
Isso comporia a cena comumente utilizada
por truculentos policiais contra cidadãos comuns desprotegidos,
considerados por certas autoridades cidadãos de segunda classe.
- Moro é devoto do autoritarismo e hostil à democracia (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil)
O recado dado a Lula foi o seguinte: “Desista da eleição”.
Essa radicalização parte da incerteza da oposição partidária e dos
movimentos sociais conservadores em resolver a questão, a destituição de
Dilma e a prisão de Lula, pela Câmara dos Deputados e pelo Tribunal
Superior Eleitoral.
A derrota do governo, pela via parlamentar ou pelo
tribunal eleitoral, depende de dois terços dos componentes das duas
casas. Um número difícil de ser obtido.
Fala sobre isso uma
autoridade togada: “Sem uma nova articulação no Senado a pouco provável
vitória na Câmara esbarraria no veto já sinalizado por Renan
Calheiros”.
A decisão contra a presidenta Dilma
Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral soará como uma “vitória no
tapetão”. Ruim, do ponto de vista institucional. Em algumas instituições
corre a proposta de negociar a desistência do ex-presidente, provável
vitorioso de 2018 se forem mantidas as regras legais. Mas ele não tem
como recuar, após o enérgico discurso feito ao deixar a “prisão” de
Congonhas, onde depôs por cerca de três horas. Uma afronta vilmente
planejada.
Dificilmente Lula vai buscar blindagem ao abrigo de
qualquer cargo no primeiro escalão da República, salvo se estiver
disposto a cometer suicídio político.
Há uma alternativa: optar por ouvir uma
voz de comando mais ou menos assim na linguagem policial: “Teje preso”. O
risco dessa decisão é a de que o País ficará “ao Deus dará”.
Em 1954, ninguém sabia que, mesmo tardiamente, haveria uma
poderosa reação da população na sequência da decisão extrema de Vargas.
A direita foi acuada.
A devassa sobre Lula deve aumentar. E aumentou com o pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público de São Paulo.
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