Ministério
Por que Lula está com um pé no Planalto
Nomeação para cargo palaciano uniria Dilma, Lula e PT contra a Lava Jato e daria sobrevida ao governo
por André Barrocal
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publicado
12/03/2016 10h55
Ricardo Stuckert / Instituto Lula

Lula
teme que se consagre a ideia de sua nomeação ser confissão de culpa.
Prefere ver emplacar outra versão, a de salvador da pátria governista.
Em entrevista convocada nesta sexta-feira 11 para negar boatos de que renunciará, Dilma Rousseff disse “que teria
um grande orgulho” em contar com o antecessor no governo. Lula está
mesmo com um pé no Palácio do Planalto e só não houve ainda uma decisão a
respeito em função do pedido de prisão preventiva dele e das manifestações “Fora Dilma” marcadas para o domingo 13.
A presença de Lula em um cargo no Planalto cumpriria
dois objetivos. Por um lado, afirma um ministro, uniria de vez Dilma,
Lula e o PT para enfrentar o juiz Sergio Moro e a força-tarefa da Lava Jato. Para
o núcleo duro governista, o objetivo de Moro e da Lava Jato seria
fechar o PT, derrubar a presidenta e tirar o antecessor da vida
pública.
Por outro lado, diz um segundo
ministro, Lula no Planalto daria impulso a um governo em apuros, com seu
“magnetismo”. Conforme este ministro, Dilma aceita Lula na equipe,
falta a concordância do próprio, a pesar prós e contras. O ex-presidente
teme que se consagre a ideia de sua nomeação ser confissão de culpa e
tentativa de fugir de Moro e da cadeia. Prefere ver emplacar outra
versão, a de salvador da pátria governista.
As repentinas conversas do presidente do Congresso,
senador Renan Calheiros (PMDB-AL), com líderes do PSDB sobre soluções
para a crise política vieram bem a calhar aos propósitos lulistas de
parecer um salvador. Nestas conversas entre Calheiros e tucanos,
falou-se de tudo: permanência de Dilma no cargo, impeachment, cassação da presidenta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para um amigo e velho colaborador de Lula, é hora de
construir um governo petista de coalizão. Em outras palavras, de Dilma
ceder parte do poder presidencial e reparti-lo com o PT, via Lula. Do
contrário, ela não tomará as providências que Lula e o partido crêem
urgentes na política e na economia.
Segundo este lulista, a decisão
sobre a nomeação do ex-presidente sairá “quando baixar a poeira” do
pedido de prisão de Lula feito pelo Ministério Público de São Paulo.
Nomeá-lo com o tema na crista da onda poderia ser visto como um
movimento político muito agressivo perante a opinião pública.
Para Dilma, “o pedido de prisão do presidente
Lula passou de todos os limites”. Na entrevista em que garantiu que não
renunciará, disse que “é um ato que ultrapassa ao bom senso, é um ato de
injustiça e é um absurdo que um país como o nosso assista calmamente um
ato desses contra uma liderança política responsável por grandes
transformações no País, respeitado internacionalmente.”
Segurar mais um pouco a decisão tem outras vantagens
para Lula e o Planalto. Se a nomeação se confirmasse antes dos protestos
anti-Dilma do domingo 13, poderia haver um acirramento dos ânimos
por parte dos manifestantes. Além disso, enquanto a hipótese de Lula
assumir um ministério corre o noticiário, ele e o Planalto podem medir o
tamanho de eventuais resistências ou de ações judiciais imputadas
contra a nomeação.
A possibilidade de Lula entrar no governo começou a
circular na internet na terça-feira 8, o Dia das Mulheres, pouco antes
de ele ir ao Palácio da Alvorada jantar com Dilma. Um convescote com
três testemunhas - os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo
Berzoini (Secretaria de Governo) e o governador de Minas, Fernando
Pimentel – e nenhum relato público.
Embora tenham sido mencionados os
ministérios das Relações Exteriores e Comunicações como destinos
possíveis para o ex-presidente, não eram opções para ser levadas a
sério. O cálculo em Brasília coloca Lula dentro do Palácio do Planalto,
na condição de timoneiro político do governo. Se na Casa Civil ou na
Secretaria de Governo, é questão de um mero arranjo.
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