SwissLeaks
O HSBC terá de se explicar ao MP da Suíça
Braço suíço do banco britânico ignorou crimes de clientes e ajudou correntistas a sonegarem impostos em seus países
por Redação — publicado 18/02/2015 12:47, última modificação 18/02/2015 12:49
Fabrice Coffrini / AFP
Imagem de 18 de fevereiro mostra a sede do HSBC Private Bank, em Genebra, na Suíça. O banco está sendo investigado
As fraudes realizadas pelo braço suíço do banco HSBC, sediado no Reino Unido, devem render muitos problemas para a instituição financeira. Dias após a divulgação de denúncias segundo as quais o banco ignorou crimes de clientes, como tráfico de armas, e ajudou correntistas a sonegarem impostos em seus países, o Ministério Público da Suíça anunciou nesta quarta-feira 18 a abertura de uma investigação penal contra oHSBC Private Bank por lavagem de dinheiro e uma operação de busca na sede do banco em Genebra.
O anúncio prejudica ainda mais a reputação dos bancos suíços, alvos há vários meses de juízes estrangeiros, que abriram seguidos processos por fraude e evasão fiscal. Para o HSBC, é um duro golpe contra sua imagem, uma vez que a filial suíça do banco era alvo de processos apenas em instâncias estrangeiras (como na França e na Bélgica) e parecia seguro em seu território. Nenhuma investigação havia sido aberta pela Finma, a autoridade de supervisão dos mercados financeiros suíços.
Na Suíça, a investigação, comandada pelo procurador-geral do cantão de Genebra, Olivier Jornot, e pelo promotor Yves Bertossa, foi aberta contra o banco, mas "em função de sua evolução" pode envolver também pessoas físicas "suspeitas de ações de lavagem" ou de participação nas mesmas, segundo a promotoria. O banco poderá ser condenado a pagar uma pesada multa e sentenças de prisão também são possíveis, de até 5 anos de prisão.
Em uma declaração publicada após a operação de buscas, o HSBC afirma "cooperar de maneira contínua com as autoridades suíças desde que tomou conhecimento do roubo de dados em 2008". A imprensa internacional divulgou no último dia 9 o caso conheci como "SwissLeaks", com dados que foram retirados do banco em 2007 pelo ex-técnico de informática do banco Hervé Falciani. Os dados revelam que durante novembro de 2006 e março de 2007, quase 180 bilhões de dólares teriam transitado por contas do HSBC em Genebra, para fraudar o fisco, lavar dinheiro sujo ou financiar o terrorismo internacional. Os bilhões de dólares pertencentes a mais de 100 mil clientes e 20 mil pessoas jurídicas teriam transitado por estas contas de Genebra, dissimuladas, entre outras, por estruturas offshore no Panamá e nas Ilhas Virgens britânicas.
Desde a publicação do "SwissLeaks", o banco suíço defende que as práticas denunciadas ficaram no "passado" e afirma ter mudado completamente de estratégia após 2008. O escândalo, entretanto, continua provocando investigações.
Nesta semana, em Paris, foi aberto um julgamento por sonegação fiscal contra a herdeira da casa de alta costura Nina Ricci, acusada de esconder mais de 18 milhões de euros no HSBC-Suíça. Desde 2009, quando as autoridades francesas obtiveram a lista de contas suspeitas no HSBC, elas conseguiram obter de volta 820 milhões sonegados por 3 mil clientes. No mesmo período, a Espanha conseguiu 960 milhões de reais, também de 3 mil clientes espanhóis do HSBC.
No Reino Unido, o "SwissLeaks" tem provocado debates acalorados. Em primeiro lugar, porque apenas uma das mil pessoas listadas foi processada. Em segundo lugar, porque as fraudes ocorreram em um período no qual um ex-ministro britânico foi presidente e CEO do HSBC. Ao deixar o banco, em dezembro de 2010, Stephen Green foi nomeado ministro do Comércio pelo atual primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, cargo no qual permaneceu até dezembro 2013. A oposição trabalhista pede explicações do governo. Até aqui, Green se recusou a dar declarações.
Na terça-feira 17, Peter Oborne, o principal articulista político do jornal conservador The Daily Telegraph, se desligou da publicação alegando que a pequena cobertura do jornal a respeito do "SwissLeaks" se tratava de uma "fraude". Para Oborne, a pouca cobertura revela que "entrou em colapso" a divisão entre o departamento comercial e o editorial do Telegraph, o que dá independência a um veículo jornalístico.
No Brasil, o "SwissLeaks" foi revelado pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues no portal UOL. Segundo o blog, constam na lista 6.606 contas bancárias de 8.667 clientes brasileiros, com um valor movimentado de cerca de 20 bilhões de reais. A lista completa não será divulgada, afirmou o jornalista, pois se trataria "de uma invasão de privacidade indevida no caso de pessoas que podem ter aberto contas no exterior de boa fé, respeitando a lei e pagando impostos". Ainda segundo o blog, informações sobre alguns dos correntistas foram passadas em sigilo para a Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda responsável por emitir alertas de fraudes para a Polícia Federal e outras instituições brasileiras. A Receita, afirma o jornalista, "nunca demonstrou interesse em investigar ou analisar os dados", enquanto o Coaf disse não ter visto novos crimes na amostra de cerca de 400 nomes enviados pelo blog ao órgão.
Com informações da AFP
esta nossa mídia, corrupta na sua grande maioria ou quase totalidade.
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