quinta-feira, 10 de abril de 2014

CISTERNAS DE ÁGUA,FARTURA E VIDA REFLETEM MOBILIZAÇÃO DE FAMÍLIAS

Cisternas de água, fartura e vida refletem mobilização de famílias
Transformação social está além das implementações, envolve formação e mobilização social
Flávia Carvalho - comunicadora popular da ASA
Manoel Vitorino | BA
09/04/2014
A transformação social do Semiárido está para além das tecnologias implementadas, pois envolve um intenso processo de formação e mobilização social, concretizando não só a tecnologia social, como também solidificando práticas de convívio e amor aos biomas caatinga e cerrado. Para Eliane Almeida, coordenadora técnica do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) no Isfa, na Bahia, todos os passos do P1+2 explicitam a preocupação de tornar o programa um processo de reflexão e de protagonismo de homens e mulheres do sertão.


"Cisternas não são só concreto, tornam vida mais cheia de significados" | Foto: Ana Lira/Arquivo Asacom
“Precisamos  ver, entender, refletir e amar as tecnologias sociais não pela sua concretude em si, ou seja, pela sua matéria construída, mas sim amá-las por todo conteúdo envolvido no processo de sua chegada às comunidades. Ao olhar para uma cisterna de consumo humano, uma cisterna-calçadão ou enxurrada, uma barragem subterrânea ou um barreiro-trincheira, temos que ter a capacidade de enxergar nelas as mobilizações, as discussões desenvolvidas nas capacitações, a aprendizagem nos intercâmbios, na troca de conhecimento e experiências camponesas, os desafios das comissões municipais, os mutirões de solidariedade, o desacreditar de muitos que se tornaram faíscas de esperança! Então poderemos dizer com certeza que cisternas não são só concreto, mas também gente acreditando e trabalhando para tornar sua vida mais cheia de significados”, reforça a coordenadora.

Nesse processo de protagonismo, os membros das Comissões Executivas Municipais (CEM) que estiveram presentes relembraram a caminhada camponesa junto ao Isfa, iniciada através da chegada da primeira água, a água para consumo humano, com a execução do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). A vontade e bem-querer pela transformação social do Semiárido se traduzem na qualidade de vida, na segurança hídrica e alimentar conquistadas por agricultoras e agricultores na história do P1MC.

Para Ivanda Alves, mais conhecida como Vanda, agente comunitária de saúde (ACS)  da Onça, em Manoel Vitorino, “quem sabe a diferença que a ASA fez [nas comunidades] são os agentes comunitários de saúde! Hoje todo mundo tem água de qualidade para beber, evitando a verminose, a diarreia... E acabou o problema para os ACS!”, relata Vanda.

Para Vanda, a capacitação de ACS (**), promovida durante a execução do P1MC, foi o início do fortalecimento do vínculo entre agricultores (as) e a ASA, afirmado mais uma vez durante o P1+2: “Quando eu vim participar do curso de ACS, pra mim foi um sonho, porque eu sabia que ia melhorar minha comunidade. Com a cisterna de 52 mil litros, conheci melhor a família ASA e abraçamos o Isfa com muito carinho. E eu falo com vocês: Busca, corre atrás, que a gente consegue, com muita fé!”.


Área rural de Serrinha (RN) recebe formação para comissão municipal | Foto: Arquivo Fetraf
Para Vilma Celeste Bispo, agricultora familiar da comunidade da Boa Vista, Manoel Vitorino/BA, a organização da comunidade nem sempre é um processo fácil, mas que rende muitos frutos quando levado à sério. “Nada existe sem trabalho. Mesmo com as dificuldades, dá certo! Os canteiros tão produzindo e os (as) agricultores (as) têm que acreditar mais, porque está dando certo”.

Vilma também protagonizou uma sistematização para o boletim O Candeeiro (***). Através do informativo, ela e sua comunidade puderam comunicar as boas experiências e partilhar os saberes do povo da Boa Vista. E acreditando na comunicação popular, Vilma também trouxe consigo uma experiência exitosa para contar: “Seu Manoel está surpreendendo a Boa Vista (...) teve uma hora que ele pensou em desistir, mas continuamos. E hoje, ele está produzindo muito, já plantou coentro, tomate e muitas hortaliças!”. Assim, a comunidade da Boa Vista continua sendo uma referência, com histórias positivas de seu povo guerreiro, que apesar das dificuldades, consegue construir dias melhores, mais férteis e ricos.

Com essa carga de troca de experiências, Orlando Ribeiro, também membro da CEM e agricultor da comunidade da Ruinha, Boa Nova/BA, acredita que a partilha de saber é responsável pela vida e pela renovação da luta nas comunidades: “Eu nunca quero abrir mão dessa ASA, ela é conhecimento, união, alegria, ela é tudo pra mim. Pra mim, não existe pensar individualmente, tenho que pensar no coletivo! A gente tem que abraçar essa cisterna. Pois aí vai ter água pura, conhecimento e qualidade de alimento”.


Comunidade de Tobias Barreto (SE) celebrando a conquista da água | Foto: Ana Lira/Arquivo Asacom
A partir de pequenas e grandes transformações na lida cotidiana no Semiárido é possível visualizar perspectivas diferentes para o campesinato. Com o retorno do P1MC para a região, mais cisternas de 16 mil litros serão implementadas, contribuindo cada vez mais para consolidar a universalização da primeira água e fortalecer o campesinato. E, com a chegada da segunda-água, a segurança alimentar começa a ser mais reafirmada do que nunca.

A possibilidade de continuar esta caminhada renova os ânimos de agricultoras, agricultores e das entidades ligadas à ASA. A partir da reflexão de sua própria história, o povo do Semiárido celebra não apenas a concretização das tecnologias sociais, mas o empoderamento da dignidade de ser sertaneja e sertanejo, donos (as) das possibilidades de transformar suas vidas, com autonomia.

(*) O P1+2, executado pelo Isfa, é fruto de um contrato de patrocínio celebrado entre a ASA e a Petrobras.
(**) A capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é uma etapa de construção de conhecimento no Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que constrói cisternas de primeira água, a água para consumo humano. O ISFA executa o P1MC há 2 anos e já construiu 1.600 cisternas de 16 mil litros.
(***) O boletim O Candeeiro é o espaço do P1+2 para sistematização de experiências. A sistematização é utilizada para troca do conhecimento. Ela cumpre importante papel na valorização e na reorganização do saber construído e acumulado localmente, além de promover a geração de novos conhecimentos.

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