Cisternas de água, fartura e vida refletem
mobilização de famílias |
Transformação social está além das implementações, envolve
formação e mobilização social |
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Flávia Carvalho - comunicadora popular da ASA |
Manoel Vitorino | BA |
09/04/2014 |
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A transformação social do Semiárido está para além das
tecnologias implementadas, pois envolve um intenso processo de formação e
mobilização social, concretizando não só a tecnologia social, como também
solidificando práticas de convívio e amor aos biomas caatinga e cerrado. Para
Eliane Almeida, coordenadora técnica do Programa Uma Terra e Duas Águas
(P1+2) no Isfa, na Bahia, todos os passos do P1+2 explicitam a preocupação de
tornar o programa um processo de reflexão e de protagonismo de homens e mulheres
do sertão.
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"Cisternas não são só concreto, tornam vida
mais cheia de significados" | Foto: Ana Lira/Arquivo
Asacom |
“Precisamos ver, entender, refletir
e amar as tecnologias sociais não pela sua concretude em si, ou seja, pela sua
matéria construída, mas sim amá-las por todo conteúdo envolvido no processo de
sua chegada às comunidades. Ao olhar para uma cisterna de consumo humano, uma
cisterna-calçadão ou enxurrada, uma barragem subterrânea ou um
barreiro-trincheira, temos que ter a capacidade de enxergar nelas as
mobilizações, as discussões desenvolvidas nas capacitações, a aprendizagem nos
intercâmbios, na troca de conhecimento e experiências camponesas, os desafios
das comissões municipais, os mutirões de solidariedade, o desacreditar de muitos
que se tornaram faíscas de esperança! Então poderemos dizer com certeza que
cisternas não são só concreto, mas também gente acreditando e trabalhando para
tornar sua vida mais cheia de significados”, reforça a
coordenadora.
Nesse processo de protagonismo, os membros das Comissões
Executivas Municipais (CEM) que estiveram presentes relembraram a caminhada
camponesa junto ao Isfa, iniciada através da chegada da primeira água, a água
para consumo humano, com a execução do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). A
vontade e bem-querer pela transformação social do Semiárido se traduzem na
qualidade de vida, na segurança hídrica e alimentar conquistadas por
agricultoras e agricultores na história do P1MC.
Para Ivanda Alves, mais
conhecida como Vanda, agente comunitária de saúde (ACS) da Onça, em Manoel
Vitorino, “quem sabe a diferença que a ASA fez [nas comunidades] são os agentes
comunitários de saúde! Hoje todo mundo tem água de qualidade para beber,
evitando a verminose, a diarreia... E acabou o problema para os ACS!”, relata
Vanda.
Para Vanda, a capacitação de ACS (**), promovida durante a
execução do P1MC, foi o início do fortalecimento do vínculo entre agricultores
(as) e a ASA, afirmado mais uma vez durante o P1+2: “Quando eu vim participar do
curso de ACS, pra mim foi um sonho, porque eu sabia que ia melhorar minha
comunidade. Com a cisterna de 52 mil litros, conheci melhor a família ASA e
abraçamos o Isfa com muito carinho. E eu falo com vocês: Busca, corre atrás, que
a gente consegue, com muita fé!”.
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Área rural de Serrinha (RN) recebe formação
para comissão municipal | Foto: Arquivo
Fetraf |
Para Vilma Celeste Bispo,
agricultora familiar da comunidade da Boa Vista, Manoel Vitorino/BA, a
organização da comunidade nem sempre é um processo fácil, mas que rende muitos
frutos quando levado à sério. “Nada existe sem trabalho. Mesmo com as
dificuldades, dá certo! Os canteiros tão produzindo e os (as) agricultores (as)
têm que acreditar mais, porque está dando certo”.
Vilma também
protagonizou uma sistematização para o boletim O Candeeiro (***). Através do
informativo, ela e sua comunidade puderam comunicar as boas experiências e
partilhar os saberes do povo da Boa Vista. E acreditando na comunicação popular,
Vilma também trouxe consigo uma experiência exitosa para contar: “Seu Manoel
está surpreendendo a Boa Vista (...) teve uma hora que ele pensou em desistir,
mas continuamos. E hoje, ele está produzindo muito, já plantou coentro, tomate e
muitas hortaliças!”. Assim, a comunidade da Boa Vista continua sendo uma
referência, com histórias positivas de seu povo guerreiro, que apesar das
dificuldades, consegue construir dias melhores, mais férteis e ricos.
Com
essa carga de troca de experiências, Orlando Ribeiro, também membro da CEM e
agricultor da comunidade da Ruinha, Boa Nova/BA, acredita que a partilha de
saber é responsável pela vida e pela renovação da luta nas comunidades: “Eu
nunca quero abrir mão dessa ASA, ela é conhecimento, união, alegria, ela é tudo
pra mim. Pra mim, não existe pensar individualmente, tenho que pensar no
coletivo! A gente tem que abraçar essa cisterna. Pois aí vai ter água pura,
conhecimento e qualidade de alimento”.
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Comunidade de Tobias Barreto (SE) celebrando a
conquista da água | Foto: Ana Lira/Arquivo
Asacom |
A partir de pequenas e grandes
transformações na lida cotidiana no Semiárido é possível visualizar perspectivas
diferentes para o campesinato. Com o retorno do P1MC para a região, mais
cisternas de 16 mil litros serão implementadas, contribuindo cada vez mais para
consolidar a universalização da primeira água e fortalecer o campesinato. E, com
a chegada da segunda-água, a segurança alimentar começa a ser mais reafirmada do
que nunca.
A possibilidade de continuar esta caminhada renova os ânimos
de agricultoras, agricultores e das entidades ligadas à ASA. A partir da
reflexão de sua própria história, o povo do Semiárido celebra não apenas a
concretização das tecnologias sociais, mas o empoderamento da dignidade de ser
sertaneja e sertanejo, donos (as) das possibilidades de transformar suas vidas,
com autonomia.
(*) O P1+2, executado pelo Isfa, é fruto de um
contrato de patrocínio celebrado entre a ASA e a Petrobras. (**) A
capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é uma etapa de construção de
conhecimento no Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que constrói cisternas
de primeira água, a água para consumo humano. O ISFA executa o P1MC há 2 anos e
já construiu 1.600 cisternas de 16 mil litros. (***) O boletim O Candeeiro é
o espaço do P1+2 para sistematização de experiências. A sistematização é
utilizada para troca do conhecimento. Ela cumpre importante papel na valorização
e na reorganização do saber construído e acumulado localmente, além de promover
a geração de novos conhecimentos. |
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