Deputado ofende quilombolas, índios, gays e lésbicas: ‘Tudo que não presta’
Josias de Souza
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado ruralista Luís Carlos Heinze (PP-RS) disse que, quando precisa impulsionar o crescimento econômico, o governo recorre ao agronegócio, estimulando-o com financiamentos. Em seguida, foi ao ataque: “O mesmo governo, seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma. É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, ali está aninhado. E eles têm a direção e têm o comando do governo.”
Noutro trecho do vídeo, dirigindo-se a produtores rurais gaúchos, Heinze ensinou uma tática empregada para defender suas propriedades de investidas indígenas: “…O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará, eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará, porque a brigada militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades. Por isso, pessoal, só tem um jeito: se defendam. Façam a defesa como o Pará está fazendo.”
Heinze prosseguiu: “Façam a defesa como o Mato Grosso do Sul está fazendo. Os índios invadiram uma propriedade. Foram corridos da propriedade. Isso foi o que aconteceu aconteceu lá. […] Eles estão se defendendo. Se é isso o que o governo quer, é isso que nós vamos fazer. Resolvemos os sem-terra lá em 2000. E vamos resolver os índios agora, não intressa o tempo que seja.”
O vídeo exibe trechos do discurso de outro parlamentar ruralista, o deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS). Ele também investe contra o ministro Gilberto Carvalho, responsável no Planalto pelos contatos com organizações sindicais e movimentos sociais.
“Por que será que, de uma hora pra outra, tem que demarcar terra de índios e quilombolas?”, pergunta o deputado. “O chefe dessa vigarice orquestrada está na ante-sala da Presidência da República. E o nome dele é Gilberto Carvalho. É ministro. Ele e seu Paulo Maltus [secretário de Articulação Social].”
Alceu Moreira alvejou também uma entidade ligada à Igreja Católica, o CIMI, Conselho Indigenista Missionário: “Por trás dessa baderna, essa vigarice, está o CIMI, que é uma organização cristã, que de cristã não tem nada. Está a serviço da inteligência norte-americana e europeia, para não permitir a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil.”
De resto, o deputado peemedebista pronunciou algo muito parecido com uma declaração de guerra: “Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra. Mas lhes digo: se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Nenhum! Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário.”
Levado à internet nesta quarta-feira (12) por um movimento chamado 'Mobilização Nacional Indígena', o vídeo foi reproduzido no site do 'Greenpeace Brasil'. Para a entidade, os deputados “não só incitam a violência contra lideranças indígenas que tentam retomar suas terras invadidas por fazendeiros, grileiros e madeireiros, como também insultam gays e lésbicas, e reforçam o discurso inverossímil acerca da demarcação de terras indígenas para o público de produtores rurais''.
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