Em sua 13º edição, o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – conhecido como Abrascão – terá como tema principal “Saúde é democracia: diversidade, equidade e justiça social”. O evento reunirá pesquisadores, sanitaristas, especialistas e trabalhadores da saúde em Salvador, do dia 19 a 24 de novembro, para discutir temas centrais para a Saúde no Brasil hoje. O último encontro ocorreu em 2018, antes da pandemia de covid-19. “Nessa edição teremos um sabor de reencontro e comemoração”, afirmou a médica, professora da Unicamp e Yale e especialista em Saúde Coletiva, Rosana Onocko-Campos. A presidente da Abrasco conversou com o Outra Saúde sobre os destaques do evento, as dificuldades para se pensar em Saúde Coletiva no Brasil de hoje e as perspectivas com a eleição de Lula. Para ela, o financiamento do Sistema Único de Saúde será uma pauta central – e muito disputada – nos próximos quatro anos. “A Saúde é um campo cheio de dinheiro. Enquanto nós, da saúde pública, falamos na saúde como um direito de todos e um dever do Estado, temos pessoas lucrando muito com os problemas do funcionamento no Sistema”, afirmou Campos, referindo-se ao interesse do setor privado na área. O Congresso, que ocorre durante a Consciência Negra, terá em sua cerimônia de abertura uma homenagem aos pesquisadores e pesquisadoras negros e seu legado. Outra Saúde: Quais atividades vão ocorrer durante o Congresso? Você poderia citar o que acredita serem alguns destaques, quero dizer, quais temas estarão presentes que você acredita serem centrais no debate sobre Saúde para o Brasil hoje? Acho que é central destacar o tema do Congresso. Quando decidimos retomar o lema da 8ª Conferência Nacional de Saúde [que ocorreu em 1986 e deu as bases para a construção do SUS], “Saúde e Democracia”, estávamos em um momento muito difícil: não sabíamos se chegaríamos ou não às eleições. Decidimos também acrescentar ao título as palavras “equidade, diversidade e justiça social”, que remetem aos nossos problemas contemporâneos. Nosso Congresso é muito grande, temos mais de 300 atividades, serão apresentados 7 mil trabalhos, acontecem muitas coisas simultaneamente… é muita riqueza e eu não queria destacar algo para passar a impressão equivocada de que uma coisa é mais importante do que a outra. Mas acho que a marca que o Congresso quer deixar estará bem refletida em três grandes debates, que acontecerão no fim de cada tarde, com a presença de todos os congressistas. O primeiro será no dia 21/11, “Brasil e o Planeta Terra”; o segundo, dia 22/11, “Diversidade da Saúde e Reconstrução Democrática”; e, por fim, no dia 23/11, “Equidade e Justiça Social, a Luta Continua”. Eu acho que é um percurso que tem mostrado a forma como a saúde e a saúde coletiva estão entrelaçadas com a questão da democracia. Neste próximo governo, se iniciará a retomada do mecanismo da nossa democracia, mas não é por isso que conquistaremos de imediato a justiça social, sabemos que será um período bastante difícil. Nós trabalhamos vários meses antes do Congresso na articulação com movimentos sociais da Bahia e região para que eles nos ajudassem a construir uma agenda de pesquisa e intervenção. esse pra mim é um ponto alto, no sentido da academia se abrindo para o que o povo e as pessoas têm a dizer. Foi um trabalho muito rico e coordenado localmente, para construir essa interface entre as demandas populares e as produções no campo científico. Se o Abrascão fizer andar “três casinhas” nesse sentido, vou ficar muito feliz. Teremos grandes nomes da Saúde Coletiva e teremos uma inovação que a gente nunca tinha feito, chamada de Café Intergeracional, em que jovens pesquisadores e estudantes pudessem se registrar para tomar café com pesquisadores de mais carreira. E foi interessantíssimo porque a gente abriu a inscrição e 24 horas depois todas as vagas já tinham sido preenchidas. Isso nos evidenciou que há um desejo dessas novas gerações de se aproximar das pessoas que são lidas nas bibliografias. |
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