Temporão vê os desafios de Lula na saúde e na ciência Êxtase à parte, e supondo que tudo correrá dentro de uma normalidade institucional, Lula terá tarefas tão grandes quanto imediatas em seu terceiro mandato. Sem dúvidas, um SUS que se verá mais pressionado pela população, é fundamental na retomada de um projeto político que realize anseios de inclusão social. “O governo tem um gigantesco desafio pela frente e a saúde é uma das áreas de maior expectativa, em especial as medidas tomadas pra fortalecer e qualificar o SUS. Uma questão central é financeira: menos da metade do gasto em saúde é público, a maior parte é privada, de famílias e empresas. É necessária uma estratégia de ampliação de gasto público em saúde, melhoria dos investimentos no setor, redução do tempo de espera, acesso a novas tecnologias”, comentou José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, ao Outra Saúde.
O vento que sopra a favor Feliz pela “vitória da democracia, contra o absolutismo, o autoritarismo, em defesa da vida”, Temporão observa o legado positivo que o SUS construiu em relação à pandemia. Sempre estigmatizado por uma mídia empresarial que durante anos vendeu sua ineficácia, método sutil de promover a adesão dos brasileiros a planos privados, o sistema público de saúde do Brasil mostrou sua importância na garantia do direito à vida. A hora, portanto, é de ofensiva em favor do SUS. “É necessária uma estratégia de ampliação de gasto público em saúde, melhoria dos investimentos no setor, redução do tempo de espera, acesso a novas tecnologias. Mas, mais importante, é a certeza de que o SUS sai fortalecido, porque o olhar da sociedade na pandemia foi extremamente positivo”, explicou Temporão.
Lúcia Souto: Uma unidade inédita Outra importante referência da luta pelo SUS, Lucia Souto, presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), destacou que o movimento da saúde viveu um grande processo de convergência, o que facilita o alinhamento de pautas consideradas fundamentais. “Conseguimos ao longo desse processo na defesa da vida da democracia e da saúde afirmar uma agenda unitária de todo o movimento sanitário brasileiro, que foi entregue ao presidente Lula na Conferência Nacional Livre de Saúde, uma construção democrática e popular”, comentou ao Outra Saúde, lembrando do evento que reuniu toda a militância do setor em agosto.
O SUS que o Brasil merece Tal como Temporão, Lucia observa o aspecto favorável de uma vitória política em meio à tormenta de uma ameaça fascista e o brutal uso da máquina pública para favorecer Bolsonaro. “Há muito tempo a gente não vê um consenso tão grande entre todos nós e até na grande mídia brasileira, de colocar que o SUS é uma questão estratégica. Há aqui uma disputa de agendas, mas uma disputa no campo da democracia”, analisou. Para ela, a ampliação do sistema público e a valorização de seus profissionais são as tarefas iniciais. “O Brasil precisa ter um sistema de saúde do tamanho das necessidades do povo brasileiro. E nosso lema histórico está mais atual do que nunca: saúde é democracia, democracia é saúde”, afirmou.
Soraya Smaili: Ciência é outra área que pede socorro… Se no início de seu pífio mandato Bolsonaro fez jogo de cena ao esvaziar o financiamento da educação com ataques tacanhos às ciências humanas, na realidade todas as áreas sofreram retrocessos. Ciência, Tecnologia e Inovação tiveram seus orçamentos praticamente anulados nesses quatro anos, chegando a ter quase a totalidade de suas verbas retidas, entre outras coisas em favor do famigerado orçamento secreto. “Primeiro precisamos da recomposição orçamentária para a Educação, inclusive as universidades federais, que sofreram cortes de 50% de custeio e mais de 90% em investimentos. Nos anos de Bolsonaro, uma perda de 45% nos recursos de investimentos em obras, equipamentos, projetos de pesquisa relativos ao Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia”, afirmou Soraya Smaili, professora da Unifesp e membro do Sou + Ciência, do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência.
... e quer sentar à mesa dos grandes debates Na entrevista ao Outra Saúde, Soraya Smaili reconhece que o programa de governo de Lula coloca propostas mais animadoras para o campo científico e o tem na conta de parte estratégica da reconstrução do Brasil. No entanto, não basta apenas recuperar seu orçamento, é necessário que se ouça o que os produtores de conhecimento têm a dizer. “Não esperamos só recursos, mas um lugar no debate da construção de soluções para os grandes problemas, como de energia sustentável, meio ambiente, água, clima, agricultura, segurança alimentar, vacina, vigilância sanitária, novas epidemias, biotecnologia... Uma série de coisas a serem resolvidas por diferentes setores da sociedade que deverão se unir”, enumerou. |
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