terça-feira, 1 de novembro de 2022

BOLSONARISTAS DEFENDEM INTERVENÇÃO MILITAR NO TELEGRAM APÓS RESULTADO DAS ELEIÇÕES


REPORTAGEM

Apoiadores do atual presidente também compartilharam conteúdos falsos em que afirmam que urnas foram adulteradas

31 de outubro de 2022
08:45
Laura Scofield
Grupo armamentista no Telegram defende “ir a luta”
Menções a “fraude” e “intervenção militar” aumentam depois da apuração
Bolsonaro
desinformação
Eleições 2022
Fake news
Lula
política
Antes mesmo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar o resultado do 2º turno das eleições presidenciais deste ano, grupos bolsonaristas no Telegram já falavam em fraude nas urnas e pediam intervenção militar para evitar que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assuma o cargo.

De acordo com levantamento da Agência Pública, a palavra “fraude” apareceu ao menos 343 vezes nos grupos bolsonaristas no Telegram, o que representa um aumento de 230% de citações no dia da eleição em comparação com a média dos dois dias anteriores (149). A palavra apareceu mais vezes ao final da tarde, quando Lula ultrapassou Jair Bolsonaro (PL) na apuração da votação. A Pública monitora 122 grupos no Telegram.

O mesmo aconteceu com as menções ao termo “intervenção militar”, que foi citada ao menos 28 vezes durante o dia de votação —  a média dos últimos dois dias foi de 6 citações. A palavra também foi mais citada com o desenrolar da apuração e anúncio da vitória do candidato petista.

Por volta das 19h30, um usuário compartilhou no grupo B-38 —  grupo de mais de 60 mil membros que já foi suspenso por desrespeitar as regras da plataforma —  uma mensagem em que afirmava que o “algoritmo” de apuração do TSE estaria roubando os votos de Jair Bolsonaro (PL) e passando para Lula. “Nos 30% de urnas apuradas o luladrão vai passar, um absurdo! Minas que representa o Brsil, (sic) luladrão está caindo lá e Bolsonaro crescendo já praticamente empatado!! As Forças Armadas nada farão??? Caraculas está na cara!!! muita sacanagem”, acrescentou.

Reprodução
Apoiadores de Bolsonaro não aceitam resultado do pleito e falam em fraude nas urnas
“Agora é que começa a luta pela vitória o quê (sic) vai dar a última palavra é o Senhor dos exércitos”, disse outro usuário, aludindo a um golpe militar. “Fraude Genteeeee!!! O exército precisa fazer alguma coisa!!!!!”, afirmou outro. “Vocês não queriam esperar até dia 30? Já falei INTERVENÇÃO MILITAR É A ÚNICA SOLUÇÃO”, disse ainda mais um integrante do grupo.

O discurso também foi replicado no grupo armamentista Armas SA, que tem 1.309 membros. Por volta das 19h50, quando Lula já estava à frente da apuração, um dos usuários buscou incentivar os outros a “ir a luta”. “Para acabar com o comunismo só depende de nós agora. Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”, disse outro.

Além dos pedidos de intervenção militar, os bolsonaristas levantaram falsas narrativas sobre fraude eleitoral, compartilhando conteúdos que argumentam sem provas que as urnas estariam viciadas e roubariam os votos de Bolsonaro para Lula, além de repetir a narrativa sobre o suposto “algoritmo” do TSE. “É galera… o mesmo algoritmo que fraudou o 1 turno está agindo da mesma forma agora”, disse um integrante do grupo A mídia não é sua amiga, que tem mais de 22 mil participantes.

No grupo Confederação Direita Brasil, por exemplo, compartilharam um vídeo no qual uma mesária afirmava que eram computados mais de um voto quando os eleitores iam às urnas, o que indicaria que as urnas estariam acrescentando votos. O vídeo foi enviado por volta das 19h40, quando Lula ultrapassou Jair Bolsonaro na apuração. O grupo tem mais de 2 mil membros.

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No grupo Armas S.A, uma mensagem incitava a paralização de ruas.


Incentivo à intervenção militar cresce em grupos do Telegram ligados à direita
Mais de dez rodovias do Rio Grande do Sul foram bloqueadas por manifestantes favoráveis a Jair Bolsonaro na noite de domingo de eleição. Na segunda-feira, dia 31, as rodovias seguiam paralisadas, segundo o G1. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram interrupções em rodovias em 7 estados: Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Esta reportagem foi feita numa colaboração entre Agência Pública, Aos Fatos e Núcleo Jornalismo para a cobertura das eleições de 2022. A republicação só é permitida com a atribuição de crédito para todas as organizações.



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Laura Scofield
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